Múltiplas expressões artísticas vão marcar as comemorações dos 90 anos de uma das imagens icónicas do Rio de Janeiro, o Cristo Redentor, que decorrem de 9 a 17 de outubro no recinto do sambódromo, tendo como eixo os objetivos do desenvolvimento sustentável.
«Chegou a hora de celebrarmos tudo o que ele representa para o povo brasileiro e o mundo inteiro. Por isso vamos fazer uma grande festa, com atividades religiosas, sociais e culturais», sublinhou o reitor do santuário, em texto publicado na mais recente edição do semanário da arquidiocese.
Para o P. Omar Raposo, «o significado da existência do monumento vai muito além do turismo: ele é um Santuário, um local sagrado que recebe peregrinos do mundo inteiro, e, desde a construção, é o símbolo nacional de fé e esperança».
Uma das iniciativas em agenda é a realização do Dia de Portugal, durante o qual será realizada uma noite de fado «com grandes nomes», refere a publicação da arquidiocese, adiantando que o evento é realizado «numa parceria entre o Consulado Geral de Portugal e o Santuário de Cristo Rei, localizado em Almada, que, em 2009, firmou a Geminação com o Santuário Cristo Redentor, com o objetivo de partilhar experiências e incentivar a espiritualidade».
Antes da celebração central do aniversário, a missa presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Card. Orani João Tempesta, marcada para 12 de outubro, realiza-se no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, uma ação de limpeza da cidade «que envolverá toda a sociedade civil, contando com o apoio das paróquias».
O programa prevê igualmente a visita à tribo Bororos, ligada à cidade: em 1908, o presidente do país, Afonso Pena, preparava-se para assinar o decreto «que dava o aval do extermínio dos povos indígenas»; nessa iminência, o P. Antônio Malan levou 12 membros da tribo integrantes da banda de música para tocar na cidade.
«Os jornais exaltaram o talento artístico dos bororos e deram voz ao discurso do padre Malan, pedindo a restituição aos índios, segundo a própria fala do sacerdote, “de uma pátria que lhes foi roubada em nome de uma falsa civilização conquistadora, liberticida”». Mais tarde, aquando da campanha de recolha de fundos para a construção da imagem no morro do Corcovado, a tribo do Maro Grosso fez questão «de dividir o pouco» das suas posses.
A cantora Elba Ramalho será uma das participantes do programa cultural, que incluirá apresentações de escolas de samba, teatro, dança e folclore. A exposição “Cristos do Brasil” exibirá 27 imagens inspiradas no santuário, enquanto a dramatização “Auto do Cristo Redentor” encenará a história do monumento, oferecendo a «oportunidade para valorizar o teatro, essa forma de arte tão importante e especial».
O aniversário assinalará a estreia do Coro da Princesa, evocador da princesa Isabel do Brasil, ligada à construção da imagem, e proporcionará a realização da “Corrida de Rua”, para acentuar as vertentes «da amizade, do companheirismo, da fé, da esperança e do amor, em um ambiente saudável onde o mais importante é, acima de tudo, chegar e comemorar com todos».
O «ponto alto» cultural das comemorações vai ser o “Espetáculo teatralizado a céu aberto”, «explosão de alegria com várias inspirações de vários cantos do país (Parintins, Gramado, desfiles cívicos, carnaval do Rio, bandas de fanfarra etc.), demonstrando a universalidade do monumento».
«Para alinhar esta homenagem aos 90 anos, será contada a história do Cristo Redentor sob a perspetiva das maiores festas populares do país, ícones multiculturais do povo brasileiro, numa ótica amplificada de ritmos, cores e formas», revela o semanário.
Por ocasião dos 450 anos da fundação da cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, em 2015, dois anos depois de a ter visitado para as Jornadas Mundiais da Juventude, o papa Francisco perguntou: «Hoje, se pudéssemos nos colocar na perspetiva do Cristo Redentor, que do alto do Corcovado domina a geografia da cidade, o que é que nos saltaria aos olhos?».
«Sem dúvida, em primeiro lugar, a beleza natural que justifica seu título de Cidade Maravilhosa; porém, é inegável que, do alto do Corcovado, percebemos igualmente as contradições que mancham esta beleza. (…) E qual seria o caminho a seguir? Não podemos ficar “de braços cruzados”, mas abrir os braços, como o Cristo Redentor», assinalou.