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Monjas dominicanas do Lumiar: Fecha-se a porta de um espaço de liberdade; outra se abrirá?

Celebrou-se esta segunda-feira, 4 de março, a última missa no mosteiro de Santa Maria, no Lumiar, em Lisboa, fundado nos inícios dos anos 80 para acolher um grupo de monjas dominicanas, e que durante os últimos anos ensaiou «uma nova proximidade ao laicado cristão e a todos os anónimos buscadores de Deus».

A citação é de D. José Tolentino Mendonça, na mais recente crónica semanal que assina no jornal “Expresso”, ele que nos últimos anos foi o responsável pela programação dos ciclos de conferências organizados pelas religiosas.

Alfredo Teixeira, Alfredo Bruto da Costa, Alice Vieira, Clara Meneres, José Augusto Mourão, José Mattoso, Leonor Xavier, Manuela Silva, Paulo Pires do Vale e o próprio D. Tolentino, com o maior número de intervenções, foram alguns dos convidados.

«Dirigidas a um público heterogéneo de crentes e não crentes», as sessões, com entrada livre, começavam com a conferência; seguia-se um espaço de debate entre o público e o interveniente, antes do tempo para o convívio, saboreado por chá e bolo, culminando com a celebração da missa.

As quatro décadas do mosteiro, escreve D. Tolentino Mendonça, vividas no «escondimento» por parte das religiosas, caracterizaram-se por uma «irreverente experiência de fé e de liberdade», que «inspirou uma estação do catolicismo português, e inclusive das suas margens».



«O que foi o mosteiro do Lumiar? A aventura espiritual de um punhado de mulheres que nos explicou, sem ruído, que a liberdade é o sabor de Deus. E isso, queridas Irmãs Maria Domingos, Teresa e Mary John, não acaba»



Para quem, na cultura contemporânea, considera que o monaquismo é hoje «uma opção de vida anacrónica e inadequada, com um caráter feudal, um modelo ilegível e pouco operativo no confronto com a realidade», a «vitalidade» do mosteiro do Lumiar «testemunha bem a importância de que se pode revestir a vida monástica e como ela profeticamente se inscreve no tempo».

O distanciamento que a vida monacal compreende face à sociedade não pretendeu, no caso destas monjas dominicanas, «denegrir ou acusar o mundo, nem instaurar uma relação dicotómica entre ação e contemplação, entre vida interior e exterior, entre sagrado e quotidiano».

«Pelo contrário: o silêncio do mosteiro tornou-se a possibilidade inesperada do encontro do uno e do diverso; tornou-se para tantos uma experiência de acolhimento integral da existência e da própria história; uma imersão numa liturgia cuidada, preocupada com a beleza dos símbolos e da linguagem; uma aprendizagem comum de esvaziamento, de relançamento e de plenitude», escreve D. Tolentino Mendonça, que ontem presidiu à última missa dominical.

Os frades dominicanos, entre os quais se destacam Mateus Peres e José Augusto Mourão, «foram os cúmplices certos das monjas para fazer do mosteiro um ativo laboratório de vida espiritual, implicado com as questões mais nodais (e também as mais de fronteira) que se colocam ao presente».

«O que foi o mosteiro do Lumiar? A aventura espiritual de um punhado de mulheres que nos explicou, sem ruído, que a liberdade é o sabor de Deus. E isso, queridas Irmãs Maria Domingos, Teresa e Mary John, não acaba: é uma alegria para sempre», conclui D. José Tolentino Mendonça.

As monjas partem na manhã desta terça-feira para a sua nova morada, o mosteiro Pio XII, em Fátima.



 

Rui Jorge Martins
Fonte: Expresso
Imagem: D.R.
Publicado em 04.03.2019 | Atualizado em 09.10.2023

 

 
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