A assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, que em outubro debateu no Vaticano o tema da família, fica marcada, aos olhos dos protagonistas e observadores de dentro e de fora da Igreja, «como o início de um processo cujo desfecho permanece em aberto», considera o padre José Tolentino Mendonça.
«Isso é bom ou é mau? Estou entre os que pensam que não só é bom como constitui um dos acontecimentos potenciadores do futuro da Igreja», escreve o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura na mais recente crónica que assina no semanário "Expresso".
Ao convidar os participantes «a falar claro», o papa Francisco «imprimiu o ritmo de um debate autêntico», em que se assistiu «a muita coincidência, mas também a contraditório intenso e a conflitualidade», imagem que, para alguns, «enfraquece a Igreja».
«É o contrário, porém. O que debilita a Igreja são os falsos unanimismos ou o empurrar as questões difíceis para debaixo do tapete. O que debilita a Igreja é a rigidez de quem se considera dono da ortodoxia e se torna surdo à porção de verdade que os outros testemunham», frisa.
Para o vice-reitor da Universidade Católica, «reconhecer que "não se sabe" pode trazer desconforto, mas traz também saúde interior e criatividade».
A «imprevisibilidade» do resultado do Sínodo deve-se também ao facto de, «pela primeira vez», a sua preparação ter sido «alargada às bases cristãs e não apenas a estruturas selecionadas», a par da realização de uma segunda sessão sinodal, desta vez ordinária, dentro de um ano.
Até outubro de 2015, a Igreja deve abrir-se a «um período de intensa auscultação, sem preconceitos», ouvindo «os teólogos e canonistas», mas também «as ciências sociais que têm acompanhado as grandes mutações no campo familiar, ou a medicina e a psiquiatria, que têm um conhecimento importante que não pode ser negligenciado».
«Penso que se percebeu (...) a importância dos testemunhos das famílias que foram convidadas a manifestar-se diretamente, e de forma inédita, na assembleia sinodal. Essa metodologia tem de ser ampliada. É inútil decidir sobre a vida das pessoas sem dispor-se primeiro a escutá-las», aponta José Tolentino Mendonça.
Rui Jorge Martins