Paisagens
Paisagens
Pedras angulares A teologia visual da belezaQuem somosIgreja e CulturaPastoral da Cultura em movimentoImpressão digitalVemos, ouvimos e lemosPerspetivasConcílio Vaticano II - 50 anosPapa FranciscoBrevesAgenda VídeosLigaçõesArquivo

O que pode ser hoje uma espiritualidade cristã? (II)

A vida interior

A vida interior é uma exigência humana, de cada homem. Não é um monopólio do cristão ou do crente. Platão, na apologia de Sócrates, diz que não conduz vida humana que não se interroga sobre si mesmo. É próprio do homem interrogar-se e procurar conhecer-se.

Segundo a Bíblia, a história da salvação inicia com uma chamada a Abraão que diz para ele ir até ao fundo de de si mesmo (Gn 12, 1). O caminho de fé implica um caminho de interioridade e um mergulho (afundamento) em si mesmo. A vida interior responde a uma exigência e a uma voz interior. Podemos dizer que a vida interior é uma exigência, um apelo. Para a Bíblia, vida interior não se opõe a vida exterior, mas não deixa de haver desordem e “não sentido”. Ela é o cumprimento de um mandato para realizar a própria unicidade, que é a primeira e fundamental vocação do homem: realizar aquilo que ninguém pode realizar por mim. Daí a antropologia teológica que fala do homem como “imagem de Deus”. Deve permanecer um conhecimento binário: o conhecimento de si e o conhecimento de Deus. Santo Agostinho fala do conhecimento de Deus e da alma.

Este conhecimento da vida interior é uma viagem, um caminho de vida interior. Essa é a viagem mais longa. E isso exige coragem, para ter contacto com as partes mais profundas e escondidas de nós, requer perseverança, humildade do “buscador” e a sede do viajante. Mas a descoberta e a alegria pode ser grande. É interessante que a vida espiritual cristã seja ou um subir as escadas ou um descer. O que nós procuramos já está em nós.

A escada que sobe e que desce é sempre a mesma (Heraclito). S. Bento, na sua regra monástica, quando escreve sobre a humildade, diz que quando os monges subirem todos os graus desta escala, atingem a humildade, o grau mais baixo, que é grau do pecador publicano que não ousa olhar para o céu, mas que volta à terra e diz: «Senhor, tem piedade de mim, que sou pecador». Mas, dentro dessa treva, descobrimos a pérola preciosa, e o que procuramos já o temos em nós e espera por nós.

O caminho espiritual cristão não é linear, não é uma ascese contínua, mas um caminho humano, com regressão, quedas. É um caminho em que é essencial a pergunta, o interrogar-se e deixar-se interrogar: «Quem sou eu?». As perguntas são essenciais na procura espiritual cristã. É mais importante a boa pergunta do que muitas respostas. E esta pergunta tende a guiar-nos ao conhecimento de nós mesmos. E conhecermo-nos em perspetiva cristã significa reconhecer e nomear os enigmas que nos habitam. É um momento dramático do caminho espiritual aquele da consciência do incompreensível que está em nós, mas isso é essencial. E como somos chamados a amar, como cristãos, os inimigos, somos igualmente chamados a amar as partes inimigas que vêm de dentro de nós. Neste caminho é essencial o silêncio e a solidão que se põem diante do essencial. É o momento da nossa unificação do coração.

 

Luciano Manicardi
Lisboa, 22.10.2010
Texto recolhido por David Palatino
© SNPC | 15.12.10

FotoO Evangelho segundo Mateus
Pier Paolo Pasolini

























Citação

 

Ligações e contactos

 

 

Página anteriorTopo da página

 


 

Receba por e-mail as novidades do site da Pastoral da Cultura


Siga-nos no Facebook

 


 

 


 

 

Secções do site


 

Procurar e encontrar


 

 

Página anteriorTopo da página