Os leigos «são chamados a sair sem medo para ir ao encontro dos homens da cidade», derrubando «o muro do anonimato e da indiferença que com frequência reina soberano» nos aglomerados urbanos, frisou hoje o papa, no Vaticano.
Na audiência aos participantes na assembleia plenária do Pontifício Conselho para os Leigos, dedicada ao tema “Encontrar Deus no coração da cidade”, Francisco relembrou que a Igreja quer estar ao serviço da «procura sincera que existe em muitos corações e os torna abertos a Deus».
«Trata-se de encontrar a coragem de dar o primeiro passo de aproximação aos outros, para ser apóstolos do bairro», apontou o papa, para quem «cada vida cristãmente vivida tem sempre um forte impacto social».
Ao anunciarem o Evangelho, os leigos «descobrem que há muitos corações que o Espírito Santo já preparou para acolher o seu testemunho, a sua proximidade, a sua atenção», porque na cidade há muitas vezes «um terreno muito mais fértil do que aquele que muitos imaginam».
É também indispensável que os leigos, «em comunhão com os seus pastores, saibam propor o coração do Evangelho, não os seus “apêndices”, assinalou Francisco, que lembrou o Beato papa Paulo VI.
Às pessoas envolvidas na missão urbana na cidade italiana de Milão, o então arcebispo Montini «falava da “procura do essencial”», apelando aos católicos para serem «verdadeiros, genuínos, e a viver daquilo que verdadeiramente conta».
«Só assim se pode propor na sua força, na sua beleza, na sua simplicidade, o anúncio libertador do amor de Deus e da salvação que Cristo nos oferece», numa «atitude de respeito» com as pessoas a quem a Igreja se dirige, apontou Francisco.
As cidades, prosseguiu o papa, «apresentam grandes oportunidades e grandes riscos: podem ser magníficos espaços de liberdade e de realização humana, mas também terríveis espaços de desumanização e de infelicidade».
Cada cidade, mesmo a «mais florida e ordenada», pode «gerar dentro de si uma obscura “anti-cidade”»: «Trata-se de indivíduos a quem ninguém dirige um olhar, uma atenção, um interesse. Não são só os “anónimos”; são os “anti-homens”. E isto é terrível».
Perante os «tristes cenários» existentes nos aglomerados urbanos, é crucial recordar que «Deus nunca está ausente da cidade porque nunca está ausente do coração do homem», continuando presente nas ruas e nos ritmos «frenéticos» que a constituem, observou Francisco.
Diante desta perspetiva confiante, é essencial não ceder «ao pessimismo e ao ceticismo, mas ter um olhar de fé sobre a cidade, um olhar contemplativo que «descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças».
Para que os leigos assumam a sua identidade, é importante investir na sua «formação», educando-os «a ter aquele olhar de fé, repleto de esperança, que saiba ver a cidade com os olhos de Deus», não obstante as «linguagens, símbolos, mensagens e paradigmas» urbanos que «muitas vezes» estão «em contraste com o Evangelho».
«Numa palavra: os leigos são chamados a viver um humilde protagonismo na Igreja e tornar-se fermento de vida cristã para toda a cidade», mediante um testemunho que ofereça aos outros «com amor o dom da fé que receberam, acompanhando com afeto aqueles seus irmãos que dão os primeiros passos na vida de fé», declarou o papa.
Francisco citou a sua exortação “A alegria do Evangelho”, que nos números 71 a 75 reflete sobre os «desafios das culturas urbanas», e lembrou que em 2015 se assinalam os 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II (1962-1965).
Também este ano se assinalam o cinquentenário da publicação do decreto conciliar “Apostolicam actuositatem”, sobre o apostolado dos leigos: «Encorajo esta iniciativa, que não olha apenas para o passado, mas para o presente e o futuro da Igreja».
Rui Jorge Martins