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Parceria na transcendência: Vídeos de Bill Viola exibidos junto a desenhos de Miguel Ângelo

O museu Royal Academy of Arts, em Londres, vai abrir em 2019 as galerias ao artista norte-americano e académico honorário Bill Viola, para a sua primeira grande mostra de vídeoarte.

Doze das metafísicas imagens em movimento de Viola (1951) serão emparceiradas com 16 obras, igualmente de matriz espiritual, de Miguel Ângelo (1475-1564), incluindo um dos tesouros do museu, o “Taddei tondo”, a par de um conjunto de desenhos emprestados pela Royal Collection.

A ideia para a exposição, prevista para decorrer entre 26 janeiro e 31 março, nasceu de uma visita do artista residente na Califórnia ao castelo de Windsor, há mais de uma década.

Além de mostrar os desenhos de Leonardo da Vinci que Bill Viola queria ver, Martin Clayton, da Royal Collection, recordou que fez questão de lhe mostrar o inventário de desenhos que Miguel Ângelo tinha criado para oferecer a amigos e pessoas próximas.

«O Bill ficou imensamente entusiasmado com os desenhos de Miguel Ângelo, que nunca tinha visto – ao contrário das pinturas e esculturas –, e percebeu instantaneamente a espiritualidade inata que os enformava», referiu Clayton.

«Falámos então das ressonâncias impressionantes entre os desenhos de Miguel Ângelo e os próprios trabalhos de Viola – que não eram conscientes ou deliberadas por parte de Bill, mas inserem-se numa longa tradição da tentativa da arte tornar visível ou percetível os aspetos espirituais da nossa existência», acrescentou.

A exposição, que resulta de conversas esporádicas ao longo dos anos, baseia-se nas preocupações permanentes dos dois artistas com o corpo enquanto vaso transitório para a alma imortal.

Os momentos de transição no nascimento e na morte, a transcendência através do êxtase ou humilhação e a fragilidade da vida, a presença da morte na vida e a luta do ser humano para transcender os limites do mundo material constituem também elementos fundamentais da mostra.

As comparações são claras no emparceiramento impressionante que abre e fecha a exposição, organizada para conduzir os visitantes através de uma viagem em “looping” de vida, morte e renascimento, explica o curador da Royal Academy, Andrea Tarsia.

“O mensageiro”, de Viola (1996), em que um homem lentamente flutua e se afunda na água, num ciclo que significa vida e morte, será mostrado numa extremidade do salão central da Royal Academy, frente ao “Taddei tondo”, uma inacabada escultura de mármore em relevo, na qual Maria segura o menino Cristo, que foge com medo de um pássaro agarrado pela mão do também menino João Batista, símbolo do seu futuro sacrifício.

«Esses trabalhos que tão eloquentemente consideram a mortalidade como uma condição da vida», diz Tarsia, «conduzem ao cerne da prática dos artistas, ao representar como moldam o meio e o sujeito a uma expressão da sua investigação, mas também na carga emotiva com que ligam o observador a ela».

A maior parte da exibição exibirá esboços íntimos de Miguel Ângelo com os vídeos de grande dimensão, por vezes imersivos, de Viola. Colocou-se o problema de como exibir obras tão díspares, não no significado, mas no resultado visível.

O plano nunca passou por os mostrar «em justaposição direta, porque a escala, cor e som da maioria das peças de vídeo iria esmagar qualquer desenho», apontou Clayton.

«As relações são configuradas de maneira diferente em diferentes galerias, mas no final considerámos ser importante que as obras não fossem apresentadas separadamente, como se estivessem em exibições paralelas, mas que o diálogo que a exposição se propõe estabelecer se refletisse na interlocução entre as obras», assinala Tarsia.

Este propósito será concretizado através de um desenho de galerias e passagens «que serão mais abertas ou mais contidas», o que deverá criar uma nova experiência para os visitantes.


 

Helen Stoilas
In The Art Newspaper
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 30.08.2018 | Atualizado em 08.10.2023

 

 

 
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