Capela do Rato
Diálogo Arte Contemporânea e Sagrado prossegue com obra de Gabriela Albergaria
A Capela do Rato inaugura esta Quarta-feira, 5 de Maio, às 21h30, uma intervenção de Gabriela Albergaria (n. 1965).
Na conversa sobre a Arte e o Espiritual que integra o programa, participam a autora, Gonçalo M. Tavares, Vera Cortês e José Tolentino Mendonça.
Sem árvores não se pode falar de árvores
O atelier de Gabriela Albergara são os jardins, os bosques, os matagais silenciosos, a paisagem vegetal. A artista vai adoptando modalidades diferentes de abordagem ao seu objecto (Seja através do desenho, da escultura, da instalação ou da fotografia), e sempre com um fito que permanece inalterado: o desejo de habitar e descrever esses territórios, sem interferir demasiado neles.
Na obra de Gabriela Albergaria não nos sentimos necessariamente a caminhar para um bosque, mas sentimos o contrário: que o bosque caminha ao nosso encontro, que o jardim se desloca para o interior da casa, que as árvores chegam de longe para ver-nos.
Neste sentido, a sua proposta vem abalar algumas fronteiras culturalmente estáveis e relança o espaço para uma ampla indagação. A começar pela definição de arte. Aristóteles garantia aquilo que de tornou canónico na tradição ocidental: “a arte imita a natureza”, isto é, representa-a.
O projecto de Gabriela Albergaria estabelece-se claramente em ruptura com esta concepção. Por exemplo, na obra que vai mostrar na Capela do Rato, ela não escolheu representar uma árvore fabricando uma imagem, uma escultura... Ela foi ao bosque buscar uma árvore.
É claro que, depois, a transforma pelo efeito da recontextualização. Mas há uma coisa que ficou afirmada de modo contundente: sem árvores não se pode falar de árvores. E nesta afirmação cabe toda uma ética.
Que disse Luís Barragán? “A tarefa da nossa época é combinar a vitalidade e a calma”.
Do mesmo modo, o processo de construção do conhecimento em Gabriela Albergaria é indissociável da experiência, impensável fora da contemplação, irreconhecível longe do contacto com a presença. Ora, estas são anotações que se podem transpor, sem mudar uma vírgula, para o território espiritual. Vemos assim que o diálogo da arte contemporânea com os espaços da crença não se resume ao impulso visual, mas implica-nos a todos num exercício de mútua iluminação.
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03.05.10