Distinção

D. Manuel Clemente recebe Prémio Pessoa e deixa mensagem de esperança

O bispo do Porto, D. Manuel Clemente, recebeu nesta 3.ª feira, das mãos do Presidente da República, o Prémio Pessoa 2009. Foi a primeira vez que um homem da Igreja recebeu o galardão do jornal Expresso e da Caixa Geral de Depósitos.

"É sobretudo uma responsabilização, quando reparam em nós positivamente é porque estão à espera que continuemos e que melhoremos, e é assim que o tomo", disse aos jornalistas.

Na sessão estiveram personalidades da vida política, financeira e empresarial, como o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, o presidente do conselho de administração da Sonae, Belmiro de Azevedo, e o presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d' Oliveira Martins.

Faria de Oliveira, presidente da Caixa Geral de Depósitos, transmitiu uma mensagem de Ramalho Eanes, que não pôde estar presente. “Este mundo precisa de uma mensagem de esperança e de quem nos lembre  que vivemos para mudar as coisas. A obra de D. Manuel Clemente é de evangelização em tempos difíceis, mas também é a obra do filósofo, do homem da cultura”, sublinhou.

Pinto Balsemão, presidente da Impresa, que administra o Expresso, garantiu que a atribuição do prémio teve, desta vez, “um significado especial”, por ser atribuído a uma “referência moral”, num altura em que o país precisa de ter “quem seja um ponto de referência do ponto de vista ético”. E contou que o júri debateu o prémio durante horas. “Quando lhe telefonei a anunciar que tinha ganho, ele pensou que lhe estava a telefonar para lhe confidenciar quem era o laureado em primeira mão. Isto mostra muito da sua personalidade simples”, frisou.

O discurso do presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais foi sobre o ser português. “Somos realmente problemáticos porque nos resumimos demais”, defendeu. “Sonhamos ou detestamos heróis, consoante a mentalidade da época”.

O Prémio Pessoa 2009 recordou momentos da infância, nos anos 50, para concluir que as grandes figuras dos tempos “não correspondem inteiramente ao que fizeram delas”. Recordou Padre António Vieira e rematou: “O melhor de Portugal não abre os noticiários, mas existe. Nas escolas, nas instituições de saúde, nas IPSS, onde há abnegações quotidianas e vontades que não esmorecem perante as dificuldades”. Uma mensagem de esperança.

Sobre o facto de no seu discurso ter dito que as coisas boas não são suficientemente mostradas ao país, o bispo do Porto disse aos jornalistas que é preciso "denunciar o que está mal", mas que se deve "conjugar duas palavras que são parecidas no som, a denúncia com o anúncio".

O Prémio Pessoa é concedido anualmente ao português que tenha tido uma actividade relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país. É o prémio com maior valor monetário atribuído em Portugal. Os 60 mil euros vão ser doados ao Fundo Diocesano de Solidariedade.

Visita de Bento XVI a Portugal

Em declarações à imprensa no final da cerimónia, D. Manuel Clemente admitiu que "pode acontecer" que a visita papal seja marcada pelo tema da pedofilia.

"As visitas papais às vezes são muito apanhadas por aspectos secundários ou marginais à própria visita. Não quero dizer que não sejam importantes, mas não eram o assunto da visita. Tive imensa pena que no ano passado, quando o Papa Bento XVI foi a África, concretamente a Angola, quase só se tivesse falado da questão do preservativo, que foi uma passagem de uma entrevista informal no avião", referiu.

Em 2009, antes da viagem de Bento XVI a Angola, foram divulgadas imagens onde o Papa defendia que o combate ao vírus da sida não passa pela distribuição de preservativos.

D. Manuel Clemente lamentou que "se tivesse passado quase ao lado" do discurso que Bento XVI fez em território angolano "em relação à corrupção e à necessidade de governar com honestidade".

"Tudo pode acontecer" quanto à visita papal, resumiu, acrescentando: "Eu espero que não desvirtue aquilo que é a intenção religiosa e pastoral da visita".

O bispo do Porto revelou ainda que teve um papel directo na visita do Papa à sua diocese. "Ao princípio não estava integrada, mas eu comecei a ouvir que a visita não era só a Fátima, comecei a ouvir falar na visita a Portugal, então há a metade para cima de Fátima, pelo menos ao Porto tem de vir, se a questão é apanhar o avião também lá se apanha bem", disse, em tom bem humorado.

D. Manuel Clemente adiantou ter escrito ao Papa e que "a própria Câmara Municipal do Porto já tinha manifestado todo o interesse em repetir o que está muito na memória dos portuenses, que foi a visita de João Paulo II, também ali nos Aliados, em 1982".

Texto: Rosa Ramos (i) / Lusa
Fotografia: Presidência da República
Vídeo: SIC
© SNPC | 28.04.10