Todos somos Igreja, sublinha papa Francisco, que lembrou Dia Mundial do Refugiado
«A Igreja somos todos: não devemos restringi-la aos sacerdotes, aos bispos, ao Vaticano», sublinhou hoje o papa Francisco perante quase 30 mil pessoas reunidas na Praça de S. Pedro para a audiência geral das quartas-feiras.
A intervenção, pronunciada em grande parte de improviso, inaugurou um ciclo de catequeses sobre a Igreja, «que não nasceu no laboratório», mas foi «fundada por Jesus» e é herdeira de «uma longa história» e de uma «preparação que começou muito antes de Cristo», afirmou, citado pela Agência SIR.
«Não é uma instituição que tem a si própria como fim ou uma associação privada, uma ONG, é uma realidade muito mais ampla, que se abre a toda a humanidade e que não nasce improvisadamente, do nada», frisou.
Depois de realçar que «o amor de Deus precede tudo» - «Deus chega antes de nós, precede-nos, é a primeira árvore que floresce na primavera» -,o papa salientou que a confiança é a «única condição» para pertencer ao povo formado por «todos os que escutam a sua Palavra e que se colocam a caminho».
«Se confiares em Deus, Ele escuta-te, e tu pões-te a caminho, isto é fazer Igreja», vincou Francisco, que voltou a destacar a interminável misericórdia divina, qualquer que seja a história de cada pessoa.
«Deus espera-te sempre, e se és um grande pecador, espera-te mais; é esta a beleza da Igreja», assinalou o papa, que se referiu às «traições» que «marcam o caminho do povo ao longo de toda a história da salvação, que é a história da fidelidade de Deus e da infidelidade do povo».
O percurso judaico-cristão, que remonta ao chamamento de Abraão, mostra que Deus «nunca se cansa, tem paciência, e continua, no tempo, a educar e a formar o seu povo, como um pai com o próprio filho».
«Também nós fazemos a experiência, a cada dia, do egoísmo e da dureza do nosso coração. Quando, porém, nos reconhecemos pecadores, Deus enche-nos da sua misericórdia e do seu amor. E é precisamente isto que nos faz crescer como povo de Deus, como Igreja», afirmou.
Com efeito, prosseguiu, sem Deus não seria possível: «Não é a nossa bravura, não são os nossos méritos, mas é a experiência quotidiana de quanto o Senhor nos quer bem e cuida de nós».
«Ser Igreja é sentir-se nas mãos de Deus, que é Pai, que nos ama, acaricia, espera-nos, faz-nos sentir a sua ternura, e isto é muito belo», disse Francisco, que se referiu aos seguidores de Cristo como pessoas «que abençoam».
O «projeto de Deus» é «formar um povo abençoado pelo seu amor e que leve a sua bênção a todos os povos da Terra», intenção que «está sempre em ato» e que continua a realizar-se na Igreja, declarou.
«O cristão, com a vida, deve abençoar sempre, nós, cristãos, somos pessoas que abençoam, que sabem abençoar. É uma bela vocação», apontou.
A terminar a catequese, Francisco orou: «Peçamos a graça de permanecer fiéis ao seguimento do Senhor Jesus e à escuta da sua palavra, prontos a partir cada dia, como Abraão, para a terra de Deus e do homem, a nossa verdadeira pátria, e assim nos tornarmos bênção, sinal do amor de Deus por todos os seus filhos».
Antes da alocução final da audiência, o papa lembrou que na sexta-feira, 20 de junho, se assinala o Dia Mundial do Refugiado, condição pela qual, vincou, também passou o próprio Jesus.
«Milhões de famílias refugiadas de muitos países e de toda a fé religiosa vivem nas suas histórias dramas e feridas que dificilmente poderão ser saradas», sublinhou Francisco, que lançou um apelo: «Façamo-nos seus próximos, partilhando os seus medos e a sua incerteza para o futuro, e aliviando concretamente o seu sofrimento».
Francisco lembrou as organizações que atuam em favor das populações que fogem por causa da guerra ou outros motivos: «O Senhor apoie as pessoas e as instituições que trabalham com generosidade para assegurar acolhimento e dignidade aos refugiados, e dar-lhes motivos de esperança».
Agência SIR
Trad./redação: SNPC/rjm
18.06.14
Vaticano, 18.6.2014
AP Photo/Gregorio Borgia