«Formar os estudantes, não formatá-los»: com esta fórmula, o padre português Nuno da Silva Gonçalves, desde 2016 reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, resume o objetivo e o desafio didático do seu mandato.
O sacerdote jesuíta, que a 23 de julho foi condecorado pelo presidente da República com a Ordem de Santiago da Espada, no grau de Grande Oficial, sublinha que os alunos frequentam a instituição com vista a «adquirir instrumentos que devem servir para a vida, e não para superar os exames, para desenvolver pensamento crítico e autónomo, e integrar atitudes que favoreçam o discernimento na contínua procura da verdade».
«Temos de acompanhar os estudantes num processo de crescimento que lhes permita continuar a formar-se de maneira autónoma para toda a vida», aponta.
A Universidade, com origens que remontam a 1551, enraíza o modelo educativo no fundador da Companhia de Jesus, Santo Inácio de Loiola. O colégio foi confiado aos jesuítas pelo papa Gregório XIII, de que a instituição toma o nome.
Entre os atuais laboratórios culturais, a Gregoriana tem um lugar de primeiro plano, desde logo pela apresentação das exortações “A alegria do Evangelho”, sobre o anúncio cristão no mundo, e “A alegria do amor”, ambas do papa Francisco, com recurso a investigadores de todas as faculdades, de teólogos a sociólogos, procurando inserir os seus conteúdos no ensino.
O último ano académico, recentemente concluído, foi positivo ao nível dos números: 2700 inscritos, a maior quantidade dos últimos 10 anos, que apontam uma boa projeção para o futuro.
Os estudantes provenientes de 123 países espelham a progressiva redução de vocações ao sacerdócio e à vida religiosa que está a ocorrer na Europa, de onde chegam menos de metade dos alunos.
«Recordo aos nossos estudantes que aproveitem não só o encontro entre mundos diversos [da origem dos inscritos], mas também a riqueza eclesial e cultural que esta cidade e esta Igreja colocam à sua disposição», afirma.
Os inscritos concentram-se maioritariamente na Teologia (1200), seguindo-se Direito Canónico, Filosofia, História e Bens Culturais, e depois Missiologia e Ciências Sociais.
Nascida há 25 anos, a Faculdade de História e Bens Culturais foi pedida pelo Vaticano para preparar especialistas no estudo e salvaguarda do património histórico e artístico da tradição do cristianismo, com conteúdos sobre história da arte cristã, conservação e restauro, gestão de bens, direito, arquivística e biblioteconomia.
As angústias e inquietações do ser humano, «que são as perguntas de sempre», requerem hoje «linguagem diferente, direta e compreensível, inclusive na exposição de uma homilia», assinala o P. Nuno Gonçalves.
Perguntas que mobilizam também os teólogos, em resposta ao apelo que chega do próprio papa, quando solicita uma ligação mais estreita entre reflexão teológica e prática pastoral, e entre estas e a espiritualidade – e por isso se fala tanto de «fazer teologia de joelhos».
A Gregoriana procura preparar religiosos e leigos para as missões que receberão dentro das suas dioceses e, em particular, nas suas fronteiras; e é por isso que a Universidade se abre ao exterior com três centros: aquele que aprofunda a relação entre cristianismo e islão e outras religiões e culturas da Ásia, o que estuda o judaísmo e outro dedicado à salvaguarda de menores.