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Bíblia

Luís Miguel Cintra lê o Eclesiastes

O ator e encenador Luís Miguel Cintra vai ler o livro bíblico do Eclesiastes na Capela do Rato, em Lisboa, neste domingo, 31 de outubro, às 21h30, numa sessão com entrada livre.

Em entrevista ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, Luís Miguel Cintra fala da leitura do Apocalipse, proferida no mesmo local em junho deste ano, do Eclesiastes e do texto das Escrituras que gostava de voltar a interpretar.

 

Sobre o Apocalipse

«É um texto que coloca problemas a muita gente. A mim também. E assusta. Para nós, é quase impossível conceber o julgamento final e aquela visão terrível que nos é apresentada no Apocalipse.

Fazer a leitura de um texto em público, seja ou não religioso, é uma forma de me obrigar a confrontar com ele. Há uma parte de identificação do leitor com o texto que, para mim, é indispensável e me obriga a tomar uma posição, a fazer uma interpretação séria. Por ser um livro tão difícil de aceitar, mais me estimulou a confrontar-me com ele e a fazer esse confronto em conjunto com outras pessoas.

Ao mesmo tempo que me impressiona, é um texto que me fascina pela capacidade visionária que tem e... como hei-de dizer?... pela grandiosidade e generosidade da imaginação que está por trás dele. Conceber o bem, o mal, a própria figura de Deus e a representação dos que fizeram o bem é uma forma humana de exprimir uma enorme paixão por verdades muito mais profundas. É admirável a maneira como S. João [autor a quem é atribuído o livro] encontrou imagens que o ser humano pode entender para representar uma ideia abstrata. Aliás, a Bíblia está cheia disso, o que é maravilhoso.

A religião é feita com imagens humanas. A ideia de Deus é abstrata. Não podemos conceber Deus a não ser com aquilo que conhecemos, que é a vida. A ideia que existe no cristianismo de um Deus que se torna carne faz parte dessa perceção. Para que os homens entendam a ideia de Deus, foi preciso que Deus se tornasse num homem. É isso que torna o cristianismo extraordinário. A religião é uma coisa dos homens mas transcende-os.

Como é que o ser humano há-de pensar o que se passa com Deus? Não o pode fazer a não ser recorrendo a essas imagens. Para mim é comoventíssimo, do ponto de vista da análise da escrita, a forma como S. João concebeu toda aquela estrutura simbólica, aquele grande, enormíssimo, gigantesco painel com milhões de figuras para representar coisas que são ideias. Por isso gostei muito de o ler.

O texto tem uma leitura difícil porque é muito concreto naquilo que vai dizendo. Não há grandes artifícios de estilo. É imagem, outra imagem, ainda outra imagem, numa espécie de acumulação, não permitindo variações que tornem a leitura mais espetacular. Fiquei muito contente porque senti que na leitura que fiz na Capela do Rato as pessoas eram sensíveis a isso; não estavam a pedir que a leitura se tornasse mais espetacular do que o espetáculo imaginário que é escrito pelo próprio S. João.»

 

Sobre a leitura do Eclesiastes

«O padre Tolentino disse-me que gostava que eu viesse mais vezes ler textos à Capela do Rato. ‘Não gostava de ler o Eclesiastes?’, perguntou-me. ‘Eu nunca li o Eclesiastes’, respondi. ‘Vai ser uma coisa que, de certeza, vai adorar’.

De facto, o texto toca em todos os temas que povoam a minha cabeça e com que me debato continuamente. São questões que têm a ver com a exaltação dos valores humanos, da meditação sobre a morte, começando logo com aquela frase famosa ‘Vaidade das vaidades, tudo é vaidade’.

Do ponto de vista da leitura, é um texto de natureza completamente diferente do Apocalipse. De certa maneira é muito mais simples e moralizador, mas muitíssimo bonito.

Também é uma forma de eu ler a Bíblia e de as pessoas que vão assistir a lerem também. Ouvem-se trechos da Bíblia nas celebrações religiosas mas são raríssimos aqueles que se puseram a lê-la do princípio ao fim. E há textos não utilizados nas celebrações que são deslumbrantes.

Ao conhecer a Bíblia um pouco mais, ficamos com uma noção muito mais rica do que são os livros sagrados. É um conjunto de textos de natureza muito diferente, que constitui uma espécie de herança que forma a nossa cultura e a nossa identidade. A Bíblia não é só a história da vida de Cristo. A Bíblia é uma quantidade de outras coisas que no seu todo formam uma visão do mundo, ou até várias visões do mundo, que se congregam em torno de alguma coisa que os primeiros cristãos consideraram pertencer a uma mesma maneira de ver a vida.»

 

Sobre o livro da Bíblia a que gostaria de voltar

«A Bíblia está cheia de oportunidades. No que diz respeito aos Evangelhos, por exemplo, já muitos fizeram dramatizações da vida de Cristo. E há uma, que é o ‘Evangelho Segundo Mateus’, do Pasolini, que acho absolutamente deslumbrante. O Pasolini consegue acrescentar no filme alguma coisa que as pessoas não conseguem imaginar do ponto de vista religioso. A cena mais deslumbrante é a do batismo de Cristo porque consegue tornar humano o que lemos de outra maneira.

Há uma coisa que me apetece sempre fazer – que, aliás, já fiz em “O meu caso”, do Manoel de Oliveira – que é o livro de Job. As falas de Job no “Breve sumário da história de Deus” são das coisas mais bonitas que Gil Vicente escreveu. É um livro fascinante de interpretar como ator. A constante interrogação perante Deus sobre o sofrimento humano é muito bonita de sentir na pele.»

ImagemLivro do Eclesiastes (Ilda David')

 

rm
© SNPC | 24.10.10

Cartaz






















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