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Tradição

Presépio ao vivo de Priscos

O presépio ao vivo de Priscos, considerado o maior da Península Ibérica, foi inaugurado no dia 16 de Dezembro, depois da celebração eucarística.

Apresentamos neste artigo um vídeo com fotografias referentes ao evento realizado em 2006. Seguem-se dois textos extraídos do Correio do Minho e do Jornal de Notícias de 17.12.2007.

 

 

 

Correio do Minho
Patrícia Sousa

O maior presépio ao vivo da Península Ibérica foi, ao final da manhã de ontem, inaugurado, após a Eucaristia, transmitida em directo na TVI. O povo de Priscos estava satisfeito e o padre João Torres “orgulhoso”.

Depois de semanas e semanas de trabalho em comunidade chegou “finalmente” o “grande dia”. O povo de Priscos estava “orgulhoso” e não faltou à festa: a inauguração do maior presépio vivo da Península Ibérica. “Correu tudo tão bem que sinto-me orgulhoso de ser padre de Priscos”, confidenciou, no final da Eucaristia transmitida pela TVI, João Torres. E deixou a promessa: “Para o ano vamos apostar num presépio ainda maior e com mais rigor e qualidade”.
À partida o “grande” objectivo já estava alcançado: “conseguimos trazer pessoas à comunidade cristã que já não andavam por cá”. Mas o pároco mostrou-se optimista ao acreditar que se vai conseguir “proporcionar uma vivência diferente de Natal às muitas pessoas que vão visitar o presépio”.

E João Torres explica o sucesso: “as pessoas colocam muito de si neste projecto, há muito amor em todos os cenários”. Cada equipa responsável recebeu alguns pontos de referência, mas “cada uma foi desenvolvendo e procurando mais informação”. E, nas palavras do padre João, “há inovação, espírito de grupo e comunidade”.
Quanto às despesas, o padre admite que “se gasta sempre algum, mas nada significativo”, explicando que “foi tudo construído pelos paroquianos e os empresários da zona também colaboraram com material”.

Este presépio ao vivo só prova, segundo aquele responsável, “que quando as pessoas se unem conseguem tudo e mais alguma coisa e este é um trabalho da comunidade”.
E para o ano já há novidades. “Vamos fazer com que as pessoas que nos visitem possam fazer parte do presépio, integrando as personagens que tiverem preferência”, adiantou já o ‘arquitecto’ deste presépio. As  novidades não se ficam por aqui. “Vamos tentar que a nível histórico se respeite ainda mais e seja mais rigoroso”, salientou o pároco, exemplificando com a possibilidade de alguns paroquianos aprenderem alguma coisa de hebraíco.

O presidente da Câmara Municipal de Braga também se juntou à festa. “Trata-se de uma iniciativa extremamente interessante e louvável, porque há aqui muito trabalho a nível histórico e os cenários são fantásticos”, afirmou Mesquita Machado durante a visita. E foi mais longe: “nunca pensei que tivesse a dimensão e a qualidade que tem, por isso, a comunidade de Priscos está de parabéns”.
Mesquita Machado valorizou, ainda, o facto de ser uma obra “feita por carolice”, tendo, assim, “mais valor”. Esta iniciativa ajuda “a promover o concelho” e, apesar de estar a nascer, “já deu um salto importantíssimo”.

 

Uma verdadeira lição de história

À porta estavam dois guardas. Sisudos e calados. Mas, com alguma insistência, lá deixam entrar... e a partir daqui começa uma verdadeira viragem no tempo.

Ouvem-se sons estranhos. Entra-se na primeira sala e, de imediato, descobre-se que estamos numa sinagoga. Os cânticos hebraicos repetem-se. As mulheres estão ‘escondidas’, ninguém as vê, mas estão lá, tal como os homens.

Na escola, mais à frente, os meninos aprendem hebraico. A pele para proteger a Torá não foi esquecida.

Segue-se pela gruta em terra batida. Está escuro. Apenas uns lampiões ajudam a dar mais um passo. Hospedaria. As paredes estão forradas a palha e madeira. As camas em ferro, a recepção em madeira, os objectos antigos levam-nos para tempos passados.

Aparecem, mais à frente, Maria, grávida, e José com os animais no curral. Na  Casa de Isabel, o pequeno S. João está quieto e concentrado na representação.

Chega-se ao mercado. Aqui há luz e muitos produtos na banca. Não faltam as batatas, o milho, os ovos, os tomates, as galinhas e até os coelhos. Uma porta interior dá acesso à taberna. Recheada de petiscos...e até dois anciãos jogam ao pinhão.

Já cá fora, o cheirinho à fogueira entra pelas narinas. Está frio, mas o calor das fogueiras e dos fornos das padarias aconchega.

Luís olha pelas ovelhas e dá-lhes milho. Ruben, por sua vez, dá as boas-vindas aos visitantes. Algumas mulheres vão passando com os cestos recheados de produtos caseiros. E a broa de milho está a sair do forno. “Que delícia!”, garantem alguns.

Das mãos de Filomena sai a primeira broa. O cheirinho é inconfundível.

Ao lado estão os moleiros a moer a farinha na roda. Não faltam as arcas com milho. Os homens lá vão levando os sacos de pano com farinha para as padeiras.

Na carpintaria, os mestres fazem socos, bancos e até consertam pipos. E os dois carpinteiros vão dando algumas dicas ao aprendiz na carpintaria decorada com folhas de palmeira.

Já os sapateiros consertam o calçado para os clientes que se aproximam.

E os ferreiros também têm a ‘tenda’ montada. A fundir o ferro lá vão trabalhando afincadamente. Sem distracções. Martelam e continuam a martelar. Aproveitam para se aquecer nas brasas e ‘atirar’ o frio para trás das costas. Todos ‘vestem a ‘pele’ do personagem.

Mais à frente lá está o ‘campus romanus’. Os dois guardas, com um sorriso, dão permissão para entrar. No campo não faltam fogueiras e potes com água a ferver. As tendas, a torre e até a cavalariça com cavalos ali estão. Nada foi colocado ao acaso.

Por fim, lá está o cemitério das crianças, representando todos os ‘anjinhos’ que Herodes mandou matar. E ao lado estão as cruzes com o nome dos países em guerra.
Mas há mais... na casa do abade. Não falta a mesa dos três Reis Magos, decorada a rigor e com a mesa farta. E no fundo do corredor lá está a Casa do Rei. Uma visita a não perder!

 

 

Jornal de Notícias
Pedro Vila-Chã

Priscos é uma paróquia onde a tradição se renova. As novas tecnologias permitem uma melhor percepção colectiva, no que à história Cristã diz respeito. Um presépio ao vivo de proporções gigantescas, tendo a antiga casa do Abade de Priscos (sim, o do pudim) por cenário, proporcionará sensações únicas, numa viagem no tempo onde nada foi deixado ao acaso. Os cheiros da época (incenso, especiarias...), as músicas e as vestes vão facultar a abertura de espíritos para uma melhor percepção e enquadramento com a iniciativa.

O toque inovador não estará, porém, visível. Por "bluetooth", os visitantes podem aceder a ficheiros que suportam a visita ao local. "Quem desejar pode receber ficheiros por "bluetooth", ficando a conhecer um pouco melhor a História local e universal", aponta o padre João Torres.

Os deficientes visuais também terão tecnologias à disposição, com vista a facilitar a percepção do cenário montado, a partir de um suporte áudio. Para as grávidas também foi elaborado um percurso alternativo, por entre a mega-encenação.

"Este evento visa chamar toda a comunidade local a participar, principalmente aqueles que têm andado mais afastados da Igreja. Mesmo que não venha ninguém, só o prazer que dá ver todo o envolvimento de toda a freguesia já é uma satisfação difícil de descrever", afirmou o pároco que vai mais longe e entende a acção como "um estratagema para chegar ao coração das pessoas".

Nesta segunda edição, o campo de intervenção é mais vasto, estendendo-se pela zona envolvente à casa do Abade de Priscos, com a recriação de um cenário de bélico. "Naqueles tempos havia guerra. Tal como nos nossos dias, mas essa componente não está dissociada da História do Cristianismo. As pessoas sabem que existe guerra no Mundo", adianta o padre João Torres.

 

Publicado em 18.12.2007

 

 

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Fotografia do Presépio de Priscos 2006
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