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Irmã Emmanuelle: O poder do testemunho

No rescaldo da celebração do Dia de Todos os Santos e na sequência da Memória dos Defuntos que, e certo modo, toca a todos, há lugar para uma referência ao testemunho deixado por uma religiosa de língua francesa recentemente falecida e conhecida por Soeur Emmanuelle.

Com uma existência de quase cem anos, aquela religiosa optou por viver grande parte da sua vida entre os mais pobres e excluídos, indo da Turquia à Tunísia, passando por uma presença de grande significado em bairros pobres suburbanos da cidade do Cairo no Egipto. Por onde passou, deixou uma marca de cariz evangélico inapagável.

Como diz o cronista D’Alain-Gérard Slama, “dotada da humanidade dos grade, ela ficou neste início de milénio, um das últimas representantes de uma elite de mulheres missionárias, vivendo-o na alegria e que eram, por isso, profundamente respeitadas”.

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Cairo

A morte de Soeur Emmanuelle suscitou uma forte emoção, mesmo em meios laicos, em alguns casos, porventura, laicistas, o que deixa lugar a interrogações pertinentes lançadas à consciência dos cristãos e à concretização a missão da Igreja nestes tempos.

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Com Jacques Chirac, então Primeiro-ministro

Segundo o editorialista de “Le Fígaro Magazine”, no dia da morte da religiosa em referência, “os grandes fizeram-lhe um ruidoso cortejo. Na homenagem a Soeur Emmanuelle nenhuma voz faltou… Os cristãos, os judeus e os muçulmanos. Os que crêem no céu e os que nele não crêem…”

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Numa escola do Cairo

Diante de uma tal circunstância, como explicar que, em sociedades secularizadas e onde o Cristianismo, inclusive, na sua mente católica, anda em crise, como acontece na Europa avançada, na qual os velhos contam pouco, uma religiosa quase centenária suscite tanta admiração? O que terá sido tão relevante nela que tenha tocado os seus contemporâneos?

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Com Abbé Pierre

Independentemente das respostas possíveis, o “testemunho espiritual” da citada religiosa dá conta de algumas das suas principais intuições. Dali ressalta a entrega da sua vida pessoal aos mais pequenos e mais frágeis do mundo em que ela se encontrava. Fê-lo adoptando uma via de conduta marcada por uma vocação de procura de Deus vivida com paixão e alegria. É o que se deduz das suas palavras: “Viver significa cantar, caminhar, dançar, rir, enfim, sentir que se tem em si um fluido, uma respiração, de modo que as nossas acções, os nossos pensamentos têm um sentido. Estamos na Terra para nos amar uns aos outros e ser filhos de Deus, irmãos e irmãs em humanidade”.

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Assim, pode dizer-se que a sua relação com Deus foi norteada pela aventura de amar, levando-a testemunhar e a advogar a necessidade de ter uma religião caracterizada pela largueza de alma ou de coração.

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São figuras com um percurso como o vivido por crentes do calibre desta religiosa que colocam os cristãos e a Igreja de hoje diante do poder do testemunho como mais importante do que outros poderes em que, por vezes, se corre o risco de se deixar enredar.

P. Cipriano Pacheco

in Jornal Diário

Fotografias: La Croix

04.11.2008

 

 

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