O mal e a culpabilidade na Bíblia
“Quando rezardes dizei assim” – diz Jesus, à entrada do Pai-Nosso, formulando intencionalmente um modelo. Nessa oração breve, Jesus parece reduzir tudo à essência, construindo não apenas uma súplica dirigida ao Pai, mas uma súplica de Pai. De facto, aquela oração não se destina a satisfazer esta ou aquela necessidade, mas sob a concentração em redor do Nome, do Reino e da Vontade, pede-se ao Pai que seja Pai. O destinatário torna-se o objecto da oração. Ao mesmo tempo que o sujeito orante é instaurado na condição de Filho.
Ora, o quadro fixado pela principal oração cristã, é o do escondimento, pois nenhuma evidência, nenhuma imagem representa o Pai. O Pai não está num face-a-face onde podemos acompanhar ou calcular as suas reacções: é na hipótese da Fé que se edifica a oração.
A primeira palavra é “Pai”, a última é “Livra-nos do mal”. O risco de um confronto com o mal é, portanto, possível e enunciado com precisão. O mal representa retoricamente o anti-pai (é o que, no extremo, se contrapõe a Ele). Podemos, por isso, dizer que a tentação a ultrapassar consiste em não se enganar no pai. Para compreender como a filiação pode ser colocada à prova, um outro episódio a ser lembrado é o das tentações de Jesus (Mt 4,1-11). Aí, Ele ensina-nos a fazer a escolha do pai, e a renunciar às contrafacções.
P. José Tolentino Mendonça
© SNPC - 18.02.2008
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