Observatório da Cultura
Blogosfera

A Internet e o debate cultural pela Vida
Um caso português recente

O blogue do não - http://bloguedonao.blogspot.com/ - nasceu no dia 22-10-2007 e terminou no dia 12 de Fevereiro de 2007, ou seja no dia seguinte ao referendo. Colaboraram cerca de 30 pessoas a título permanente e tivemos também quase 10 colaboradores especiais que contribuíram pontualmente, como sejam o Prof. Jorge Miranda, o Dr. Bagão Félix, o Dr. Francisco Sarsfield Cabral, a Katia Guerreiro, a Matilde Sousa Franco, etc. Dos colaboradores permanentes realço a variedade de origens e de convicções. Em termos religiosos, se bem que a maioria se afirme como católica, a verdade é que contámos com a colaboração de um pastor protestante, de ateus e também de não crentes. Foi, aliás, nossa intenção afirmar convictamente a não confessionalidade do blogue, de forma a evitar aqueles que repetidamente rejeitam e diminuem a opinião de muitos que deles discordam, unicamente pelo facto de se assumirem católicos.

Em termos profissionais, contámos com advogados, economistas, professores universitários, jornalistas, etc.

O blogue do não teve como objectivo fazer campanha pelo Não no referendo do aborto, provocando o debate e uma discussão que se pretendia séria.

Escreveram-se mais de 1000 posts (textos), foram recebidos centenas de mails (a maioria dos quais teve direito a resposta), muitos dos colaboradores do blogue do não participaram em dezenas de debates pelo país, foram feitos milhares de comentários, teve mais de 80.000 visitas em menos de 5 meses de existência, tendo atingido uma média na última semana de cerca de 2.000 visitas diárias.  Perdemos, porém, o referendo, como já se vinha adivinhando por todas as sondagens que foram publicadas.

Pelo caminho publicámos um livro, a nossas expensas, revertendo os lucros das vendas para uma associação - Ajuda de Mãe - que ao longo dos últimos 16 anos se tem dedicado a ajudar mulheres grávidas em dificuldades. Muito embora pensemos que os montantes são pouco relevantes, porque muitos foram generosos nas suas contribuições e mais ainda na compra do livro, importa referir que angariámos mais de € 4.000 com as vendas directas do livro, o que tirando os custos de edição, dá um resultado líquido de mais de 2.000 euros, montante que será entregue na Ajuda de Mãe no decorrer do mês de Maio de 2007. Há ainda que considerar as centenas de livros vendidos pelas livrarias, cuja receita será também entregue àquela Associação.

Os comentadores do blogue, pelo Sim ou pelo Não, foram incansáveis e, em certa medida, o sucesso da iniciativa em muito se lhes deve, os quais constituíram presença assídua nas caixas de comentários do blogue. É para mim claro que os blogues estão em franca expansão, nas mais diversas áreas, o que aliás se pode comprovar através da intervenção essencial que têm tido em acontecimentos políticos que têm vindo a lume nestes últimos tempos. Já ninguém ignora esta poderosa ferramenta de comunicação, tantas vezes consultada por jornalistas, políticos e outros intervenientes na vida activa do país. Prova disso é a relevância que teve no referendo, lançando algumas pessoas na campanha, como seja a Katia Guerreiro ou a Assunção Cristas, as quais intervieram inicialmente por intermédio do blogue do não.

Realço também o sem número de textos e de pedidos de intervenção que muitas pessoas enviaram para a nossa caixa de mails, muitos deles com franca qualidade. Alguns deles chegámos a publicar no blogue e revelam a vontade que muitos têm em intervir na defesa de valores e princípios que se vão tornando, apesar de tudo, politicamente incorrectos na sociedade dos nossos dias.

A título pessoal, importa referir que considero que o balanço foi muito positivo.

Com efeito, apesar da maioria das pessoas que votaram ter optado pelo Sim à pergunta que era colocada, parece-me óbvio que terá sido o Sim moderado a ganhar o refe- rendo. Isto, apesar da lei entretanto aprovada não ir de en- contro ao espírito de muitos Sim que falaram e escreveram durante a campanha - o Sim que não vê o aborto como um direito mas sim como um mal menor. A lei contraria esta minha análise, não obstante estar convencido de que não foi este o Sim que venceu o referendo.

Sou da opinião de que a lei deveria contemplar aquele princípio que a grande maioria dos defensores do Sim afirmaram vezes sem conta - a de que também eles são contra o aborto. Para isso, o Estado deveria de abrir os cordões à bolsa, ajudando quem mais necessita, de forma a reduzir as razões que poderão levar uma mulher a abortar. Penso também deve ser feita uma aposta séria num planeamento familiar sério e responsável.

Penso também ser fundamental chamar todos aqueles que, de forma descomprometida e gratuita, deram o seu contributo para esta campanha, pois a verdade é que nos preparamos para discutir em breve outros assuntos que poderão vir a colocar em causa o valor Vida. E, nesta perspectiva, é essencial poder contar com todos.

Rui Castro

Jurista, Animador do “Blogue do Não”

© SNPC

 

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