Nicolau de Cusa
Quão grande é a profusão da Tua doçura, que manténs oculta àqueles que Te temem. Com efeito, ela é o tesouro inexplicável da mais feliz alegria. Por isso, saborear a Tua própria doçura é apreender num contacto experimental a suavidade de todos os bens agradáveis na sua origem, é atingir a razão de todos os bens desejáveis na Tua sabedoria. Ver, pois, a razão absoluta, que é a razão de todas as coisas, não é senão saborear-Te mentalmente a ti, Deus, porque és a própria suavidade do ser, da vida e do intelecto.
Que outra coisa é, Senhor, o Teu ver, quando me olhas com olhos de piedade, senão o ser visto por mim? Vendo-me, Tu que és o Deus escondido, concedes que sejas visto por mim. Ninguém pode ver-Te senão na medida em que concedes que sejas visto.
E o Teu ser visto não é senão o Teu ver aquele que Te vê. Vejo nesta Tua imagem quando Te inclinas, Senhor, para mostrar a Tua face àqueles que Te procuram. Com efeito, jamais fechas os olhos, jamais os voltas noutra direcção, e ainda que eu me desvie de Ti quando me volto completamente para outra coisa, Tu, todavia, nem por isso deslocas os olhos ou o olhar.
Nicolau de Cusa, A visão de Deus
RF
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