Pedras angulares
Parábola do semeador

S. Gregório Magno

A parábola do semeador:

Retende em vosso coração as palavras do Senhor que haveis escutado com os vossos ouvidos; porque a palavra de Deus é o alimento da alma; e a palavra que se ouve e não se conserva na memória é rejeitada como o alimento quando o estômago está mal. Mas [a palavra] exorbita da vida de quem não retém os alimentos no estômago; por conseguinte, temei o perigo da morte eterna, se recebeis o alimento dos santos conselhos, mas não retendes na vossa memória as palavras de vida, isto é, os alimentos de justiça. Vede que passa tudo quanto fazeis e cada dia, querendo ou não, aproximais-vos mais do juízo extremo, sem qualquer perdão de tempo. Porque, pois, se ama quanto se há de abandonar? Porque não se faz caso do fim aonde se há de chegar? Lembrai-vos de que se disse: Se algum tem ouvidos para ouvir oiça. Todos os que escutavam o Senhor tinham os ouvidos do corpo; mas aquele que disse aos que têm ouvidos: Se alguém tem ouvidos para ouvir, que oiça, referia-se, sem dúvida, aos ouvidos da alma. Procurai, pois, reter no ouvido do vosso coração a palavra que escutais. Procurai que a semente não caia à beira do caminho, não aconteça que venha o espírito maligno e arrebate de vosso memória a palavra. Procurai que a semente não caia em terra pedregosa, e que produza o fruto das boas obras sem as raízes da perseverança. A muitos agrada o que escutam, e propõem-se fazer o bem; mas logo que começam a ser assaltados pelas adversidades abandonam as boas obras que haviam começado. A terra pedregosa não teve suficiente jugo, porque o que havia germinado não o levou até ao fruto da perseverança. Há muitos que quanto ouvem falar contra a avareza, a detestam, e abraçam o menosprezo pelas coisas do mundo; mas logo que a alma avista algo que deseje, esquece-se do que decidira anteriormente. Há muitos que quando ouvem falar contra a impureza, não só não desejam manchar-se com as sujidades da carne, como ainda se envergonham das manchas com que se haviam manchado; mas logo que à vista se lhes apresenta a beleza corporal, de tal modo o coração é arrastado pelos desejos, como se nada houvera feito ou determinado contra tais desejos, e realiza o que é digno de ser condenado, e que o mesmo havia condenado ao recordar o que havia cometido.

Muitas vezes compungimo-nos pelas nossas culpas e, todavia, voltamos a cometê-las depois de as termos chorado. Assim vemos que Balaão, contemplando os tabernáculos do povo de Israel, chorou e pedia para ser semelhante a eles na sua morte, dizendo: Morra a minha alma com a morte dos justos, e sejam os meus últimos dias parecidos com os seus; mas logo que passou a hora da compunção, endureceu-se na maldade da avareza, pois que, devido ao pagamentos prometido, aconselhou a destruição deste povo, a cuja morte desejara fossea sua semelhante, e esqueceu-se do que chorara, sem querer apagar os ardores da avareza.

S. Gregório Magno

in Homilias sobre o Evangelho

Publicado em 29.08.2007

 

RF

 

 

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