Pedras angulares
S. Gregório Nazianzeno


Deus e Homem verdadeiro

Foi envolto em panos, mas, ao ressuscitar, arredou as vendas da sepultura.

Foi reclinado num estábulo, mas depois foi celebrado pelos anjos (cf. Lc 2,7), assinalado por uma estrela e adorado pelos magos (cf. Mt 2,2).

Porque te maravilhas por quanto viste com os olhos, se não observas o que é percebido com a mente e com o coração?

Foi obrigado a ir para o Egipto; mas converte em fuga o andar errante dos egípcios.

Não tinha nem aspecto nem beleza humanos entre os judeus (cf. Is 53,2) ; mas, segundo David, era formoso de rosto, mais que todos os filhos dos homens (cf. Sal 44,3); e também sobre o monte, à maneira de fulgor, resplandece e chega a ser mais luminoso que o sol (cf. Mt 17,2), vislumbrando-se, assim, o esplendor futuro.

Foi baptizado (cf. Mt 3,16) como homem, mas carrega sobre si os pecados como Deus; não que carecesse de purificação, mas para que as mesmas águas produzissem a santidade.

Foi tentado como homem, mas conseguiu a vitória como Deus. Manda-nos ter confiança n’Ele como n’Aquele que venceu o mundo.

Teve fome (cf. Mt 4,1-2), mas saciou a largos milhares de pessoas (cf. Mt 14,21) e Ele mesmo converteu-Se em pão que dá a vida e o Céu (cf. Jo 6,41). Padeceu sede (cf. Jo 19,28), mas exclamou: se alguém tem sede, venha a Mim a beba (Jo 7,37): e também prometeu brotar, para quantos têm fé, fontes de água viva.

Experimentou a fadiga (cf. Jo 4,6), mas faz-Se repouso dos que estão cansados e oprimidos (cf. Mt 11,28).

Sentiu-se extenuado pelo sono (Cf. Mt 8,24), mas caminha ligeiro sobre o mar, increpa os ventos e salva Pedro que estava a ponto de ser submergido pelas ondas (cf. Mt 14,25).

Paga os impostos com um estáter (cf. Mt 17,23), mas é o Rei dos cobradores. É chamado samaritano e possesso (cf. Jo 8,48), mas leva a salvação para aquele que, descendo a Jerusalém, foi assaltado por uns ladrões. É reconhecido pelos demónios (cf. Mc 1,24; Lc 4,34), mas expulsa os demónios e força as legiões de espíritos malignos a jogarem-se no mar (cf. Mc 5,7), e vê o príncipe dos demónios, quase como um relâmpago, a precipitar-se do céu (cf. Lc 8,18).

É agredido com pedras, mas não se esquiva (cf. Jo 8,59).

Roga, mas acolhe os demais que pedem. Chora, mas enxuga as lágrimas. Pergunta onde foi sepultado Lázaro, pois efectivamente era homem; mas ressuscita Lázaro da morte para a vida, porque, com efeito, era Deus.

É vendido, e por pouco dinheiro: por trinta moedas de prata (cf. Mt 26,25); no entanto redimiu o mundo por grande preço: com seu sangue (cf. 1 Pe 1, 19; 1 Cor 6, 20). É conduzido à morte como uma ovelha (cf. Is 53, 7), mas Ele cuida de Israel e agora também do mundo inteiro.

Está mudo como um cordeiro (cf. Sal 57,71), mas Ele é o mesmo Verbo, anunciado no deserto pela voz daquele que gritava (cf. Jo 1, 23). Foi abatido e ferido pela angústia (cf. Is 53, 4-5), mas vence toda a enfermidade e sofrimento (cf. Mt 9, 35).

É tirado do lenho onde foi suspenso, mas restitui-nos a vida com o lenho, e dá a salvação também ao ladrão (que pende no lenho) e obscurece tudo o que se descobre.

Dá-se-Lhe a beber vinagre e nutre-se-lo com fel (cf. Lc 23, 33 Mt 27 34), mas a quem? Àquele que transformou a água em vinho (Jo 2,7). Saboreou aquele gosto amargo, Aquele que era a mistura da doçura com todo o apetecível (cf. Cant 16).

Confia a Deus a sua alma, mas conserva a faculdade de a tomar de novo (cf. Jo 10,18). O véu rasga-se (e as potências superiores manifestam-se) e as pedras despedaçam-se, mas os mortos ressuscitam (cf. Mt 17,51).

Ele morre, mas devolve a vida e derrota a morte com a sua morte.

É honrado com a sepultura, mas ressuscita da tumba.

Desce aos infernos, mas acompanha as almas ao alto, e sobe ao céu, e virá para julgar os vivos e os mortos e para examinar as palavras dos homens.

Discurso 29, 19-20

RF

Publicado em 02.10.2007

 

 

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