Às portas do Ano Paulino
O ano de 2008, em dinâmica pré-sinodal, está a ser vivido como o Ano da Bíblia. E também aquele em que se inicia a celebração dos 2000 anos do nascimento de São Paulo, que é um génio religioso, e um interlocutor referencial de civilizações sucessivas.
Não há dúvida que passados dois mil anos do seu nascimento, Paulo adquire uma importância e um estatuto eclesial e cultural de grande relevo. Ele é o primeiro autor cristão. Quando morreu, à roda do ano 64-67, o primeiro Evangelho, aquele de Marcos, provavelmente não tinha ainda sido escrito. É, por isso, impossível pensar o primeiro momento de autoconsciência do movimento cristão sem Paulo.
Outro facto importante é que nós possuímos dele várias cartas, e é possível seguir a evolução do seu pensamento nos quinze anos que dura a sua actividade epistolar. No Novo Testamento é um caso único. Em quinze anos de actividade intensa e de reflexão, o seu pensamento evolui, as motivações alteram-se, como também os destinatários e as situações que enfrenta. A sua, é uma escritura em movimento, do princípio ao fim, e não um pensamento fixo. A evolução do seu pensamento liga-se também à maturação da forma literária na qual ele se exprime. Se os primeiros escritos de Paulo são cartas simples, sem grande elaboração, o apóstolo passa a conhecer o jogo e a oficina da escrita e torna-se um verdadeiro escritor.
Esta evolução é ainda mais interessante – e é certamente um factor que confere ao pensamento de Paulo um potencial de sedução muito forte – se tivermos em conta que o mundo paulino tem um centro que permanece inalterável: a ressurreição de Jesus. «Se Cristo não ressuscitou a nossa pregação é vazia, e vazia também é a vossa fé» (1 Cor 15,12). Um centro fixo num pensamento móvel – assim se poderia descrever em grande parte o génio do apóstolo que inaugura a escrita teológica cristã.
JTM
© SNPC - Publicado em 25.01.2008
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