Conselho das Conferências Episcopais da Europa aponta desafios para a Igreja e para o continente
De 26 a 30 de Junho último reuniram-se em Covadonga - região onde, no séc. VIII, se deu o renascimento da Espanha cristã - os Secretários-gerais das Conferências Episcopais da Europa. Estiveram presentes representantes da Albânia, Alemanha, Inglaterra e País de Gales, Bielo-Rússia, Bósnia-Herzgovina, Bulgária, Croácia, Escócia, Espanha, França, Hungria, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Polónia, República Checa, Roménia, Suiça, Turquia e Ucrânia. O encontro foi organizado pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa, na sequência do convite da Conferência Episcopal de Espanha.
O tema central da reunião foi a situação religiosa na Europa, entre a secularização e a procura de sentido e de espiritualidade. Na Europa, a abertura e o interesse pela dimensão religiosa não param de crescer. São numerosos os jovens que buscam um caminho que vise ultrapassar o materialismo decepcionante e redescobrir a realidade do transcendente, do verdadeiro, do belo e do bom. Esta procura inscreve-se no quadro de um pluralismo religioso crescente, originado principalmente pelas migrações, que cria uma espécie de concorrência entre as religiões e as verdades. Actualmente este confronto ocorre especialmente com o Islão. Devido sobretudo ao terrorismo, a religião deixou de ser considerada na opinião pública como um factor positivo. Nesta situação complexa, assiste-se a uma tendência de liquefacção da fé cristã, onde a referência à dimensão objectiva e verdadeira da fé está em vias de desaparecer, e onde cada um constrói uma fé e uma moral privadas em função das suas próprias representações e emoções. Esta situação exige uma grande vigilância, para evitar que esta fragmentação e esta fraqueza não se tornem propícias à instalação de poderes totalitários. A própria Igreja é frequentemente considerada, de forma redutora, como uma instituição civil, apenas interessante na medida do seu compromisso em favor da solidariedade e do ambiente. Ao mesmo tempo, constata-se a emergência de um ateísmo humanista agressivo, específico de uma minoria, mas muito presente no espaço mediático e público, que tende a organizar-se sobre o modelo das Igrejas. Em reacção a esta tendência, o risco de um fundamentalismo rígido, pronto a criar novos cismas, não deve ser negligenciado.
Sob o comunismo, os cristãos do Leste da Europa olhavam com esperança para o Ocidente, como espaço de liberdade religiosa. Mas foram obrigados a constatar rapidamente que as coisas eram bem diferentes. Por outro lado, estão ainda envolvidos em problemas relacionados com a restituição dos bens eclesiásticos e com a definição das relações entre Igreja e Estado.
É evidente que já não nos encontramos numa sociedade cristã, mas há ainda muito espaço para uma visão cristã da realidade. Os cristãos têm uma oportunidade: mostrar pelo seu testemunho a riqueza da humanidade da fé cristã. É preciso que a Igreja seja ela mesma, ultrapassando toda a tentação de secularização que exista em si, que ela testemunhe o Cristo Ressuscitado, que ela, com humildade e verdade, volte a oferecer Deus à Europa, e que ela se coloque ao serviço do encontro entre os Europeus e Jesus Cristo. Há um lugar na Europa para esta sã identidade e para uma proposta da fé séria e dialógica. Perecebe-se a espera de uma luz capaz de responder às aspirações profundas do homem, de alargar o horizonte da racionalidade para lá do cientismo puro, de gerar cultura. Muitas experiências, seja nas paróquias ou em movimentos espirituais novos e antigos, provam que se pode viver o cristianismo mesmo dentro de uma cultura secularizada. As próximas Jornadas Mundiais da Juventude na Austrália, assim como os numerosos encontros de jovens que se vão realizar em diversos países da Europa paralelamente a Sydney. são um sinal desta possibilidade.
Este encontro foi igualmente ocasião para agradecer a D. Aldo Giordano, que, depois de ter sido Secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) durante 12 anos, foi nomeado Observador Permanente da Santa Sé no Conselho da Europa, em Estrasburgo. Ele integrou a CCEE em 1995, numa altura em que a Europa estava mergulhada na tragédia dos Balcãs e que se iniciava o tempo que sucedeu à queda do muro de Berlim. Nos anos seguintes, a forte aceleração do processo de redução do espaço e do tempo tornou o mundo cada vez mais pequeno e mais global. Hoje, os problemas da Europa são os do resto do mundo: emergência da China e da Índia, alterações climáticas, questão das fontes de energia, fome, terrorismo, migrações. Estas mudanças sucedem a um ritmo cada vez mais veloz. Basta pensar no mundo da comunicação ou das ciências. De uma forma inteiramente nova, estamos confrontados com mutações culturais e problemáticas éticas relacionadas com a vida e com a essência da pessoa humana que outrora eram inimagináveis.
O reforço da rede e da comunhão entre as Conferências Episcopais, os bispos e as comunidades cristãs da Europa permite dar uma resposta significativa a estas grandes interrogações. Tal é o sentido do serviço da CCEE. Intensificar esta “rede de bem”, como a definiu um dos participantes, é uma tarefa importante para contribuir, como Igreja, para o processo de unificação, da paz e de estabilidade da Europa. A Europa tem necessidade de encontrar uma bússola que lhe indique o caminho a seguir. As instituições comunitárias parecem demasiado distantes das populações e dos seus problemas reais, como mostrou o “não” irlandês ao Tratado de Lisboa.
Graças à sua rede de especialistas, as Conferências Episcopais podem contribuir para analisar certas problemáticas éticas delicadas que muitas vezes constam dos programas dos governos nacionais e dos organismos europeus, tais como a eutanásia, os cuidados paliativos, a pesquisa sobre as células tronco ou o aborto.
É chegado o momento de aprofundar a nossa identidade cristã, a nossa pertença à Igreja, a nossa comunhão e a nossa responsabilidade face à pessoa humana hoje.
O próximo encontro dos Secretários-gerais das Conferências Episcopais da Europa terá lugar na Ucrânia, de 9 a 13 de Julho de 2009.
Conselho das Conferências Episcopais da Europa
in Comunicado de Imprensa, 30.06.2008
Tradução: Rui Martins
© SNPC | 07.06.2008
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