Projecto cultural
D. Manuel Clemente

Pastoral da Cultura em Portugal: situação e perspectivas

D. Manuel Clemente, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, reafirma que a Pastoral da Cultura é fundamental para a evangelização. Excerto da entrevista concedida a 10 de Novembro, no final da visita "ad limina".

 

Pacheco Gonçalves:
O senhor D. Manuel Clemente é também presidente da Comissão Episcopal da Cultura. O que acaba de dizer tem que ver precisamente com uma pastoral da cultura: com uma abordagem respeitosa e positiva dos fenómenos culturais, com toda a sua variedade e complexidade. Deste ponto de vista, o que é que pensa da actual situação, em Portugal?

D. Manuel Clemente:
O que eu penso, em termos culturais, é que existe persistência, alguma persistência, de coisas passadas, até de preconceitos, aquilo que nós ainda hoje notamos como algum laicismo, até com alguma dureza em termos da sua apresentação pública, alguma incompreensão do lugar da religião na sociedade… Bem, isso são questões que vêm do passado e que precisam de ser deslindadas, como eu dizia atrás. Aproveitemos então este centenário da República para o fazermos da melhor maneira. Depois, há uma certa falta de conhecimento. Isso tem a ver com certeza com a vida das pessoas, que hoje é muito atarefada, muito apressada, muito dispersa, também com um nível de escolaridade que ainda deixa muito a desejar em termos do que devia ser, mas em que precisamos de investir, precisamos de investir – repito – em termos modernos, com apontamentos às vezes breves, mais ou menos sugestivos, e em que se possa proporcionar às pessoas uma informação suficiente para depois elas poderem tomar posições culturais de uma maneira mais certa e mais séria. Depois também a presença, enfim, nos debates e naquilo que a nova evangelização exige. Para utilizar aquela formulação de João Paulo II – como a nova expressão e até novos métodos de apresentação da verdade evangélica.

No âmbito da Comissão Episcopal da Cultura – e concretamente do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (onde nós temos muito boa ocasião de aproveitar de um sacerdote muito culto e muito bem colocado no movimento cultural português, que é o padre José Tolentino), vamos fazendo o quê? Nós temos a preocupação de estabelecer uma rede, não só nas dioceses, mas também nas congregações religiosas e nas associações, de referentes culturais: pessoas que promovem actividades - nesses âmbitos que têm a ver com a evangelização da cultura e a evangelização na cultura – com esta nova linguagem, com estas novas expressões. Esta rede, nós vamo-la consolidando. Fazemos encontros periódicos com todos estes referentes diocesanos e de congregações e associações. Vamos a ver se conseguimos também ir estabelecendo uma rede de Centros culturais, nas diversas dioceses e outras realidades eclesiais onde este diálogo, este debate cultural se mantém e se incentiva.

Temos depois, também a atribuição anual de um Prémio da Cultura, da parte da Igreja. Já fizemos três atribuições, que tiveram o seu impacto: uma vez a um poeta, Fernando Echevarria; a segunda vez a um cientista, o padre Luís Archer; e agora a terceira, a um cineasta, o Manuel de Oliveira (a atribuição já foi feita; a entrega propriamente dita do Prémio será, se Deus quiser, no mês de Dezembro, na cidade do Porto). E isso tem um certo impacto porque é, da parte da Igreja (de uma instância da Conferência Episcopal Portuguesa), o reconhecimento da relevância, em termos de cultura e relação Evangelho-cultura, de uma personalidade e, em alguns casos, de uma carreira. E também temos feito, sempre no âmbito da Comissão Episcopal da Cultura, alguma reflexão – que procuramos que seja consistente – sobre realidades que julgamos dever ser atendidas.

E a realidade a que nós nos dedicámos, durante dois-três anos, em reflexões, em debates, em encontros, é a dos tempos livres. Hoje em dia, como cultura comum, como mentalidade das pessoas, como expectativa geral, o tempo livre tem uma importância extraordinária! Só que põe, em termos evangélicos, uma outra questão: até que ponto o “tempo livre” representa uma libertação do tempo? Sobre este tema, nós vamos, dentro em breve, não só produzir, como publicar, os resultados destas nossas reflexões e debates ao longo de três anos, que serão apresentados à Igreja portuguesa e à sociedade portuguesa que queira também reflectir sobre este assunto. Devo dizer, aliás, que ainda ontem [sexta-feira, 9 de Novembro] tive aqui, em Roma, uma reunião com o Pontifício Conselho para a Cultura, com o seu novo responsável, Mons. Ravasi, e ele ficou até surpreendido, dizendo que é um tema da maior importância e que até aqui não tinha sido tratado, que ele soubesse, por outra realidade, por outra instituição, a nível episcopal. É isso o que nós vamos fazer.

 

in Voz Portucalense

Publicado em 26.11.2007

 

 

Topo | Voltar | Enviar | Imprimir

 

 

barra rodapé

D. Manuel Clemente
Edição mais recente do ObservatórioOutras edições do Observatório
Edição recente do Prémio de Cultura Padre Manuel AntunesOutras edições do Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes
Quem somos
Página de entrada