Religiosidade popular: encontro feliz entre evangelização e cultura
Segundo o Magistério, a piedade popular é uma realidade viva na Igreja e da Igreja; a sua fonte está na presença constante e activa do Espírito de Deus no organismo eclesial; o seu ponto de referência é o mistério de Cristo Salvador; o seu objectivo, a glória de Deus e a salvação dos homens; a ocasião histórica, o encontro feliz entre a obra de evangelização e a cultura. Por isso, o Magistério exprimiu por várias vezes a sua estima pela piedade popular e pelas suas manifestações; aconselhou aqueles que a ignoram, a descuram ou a desprezam, a assumir em relação a ela uma atitude mais positiva que tenha em conta os seus valores; por fim, não hesitou em apresentá-la como “verdadeiro tesouro do povo de Deus” (João Paulo II, Homilia em La Serena, Chile).
O apreço do Magistério pela piedade popular é motivado, antes de mais, pelos valores que ela incarna.
A piedade popular tem um sentido quase inato do sagrado e do transcendente. Manifesta uma genuína sede de Deus e “um sentido apurado dos atributos profundos de Deus: a paternidade, a providência, a presença amorosa e constante” (Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 48), a misericórdia.
Os documentos do Magistério relevam alguma atitudes interiores e algumas virtudes que a piedade popular valoriza de maneira particular, sugere e alimenta: a paciência e a “resignação cristã nas situações irremediáveis” (CELAM, Documento de Puebla, 913); o abandono confiante em Deus; a capacidade de sofrer e de perceber o “sentido da cruz na vida quotidiana” (Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 48); o desejo sincero de agradar ao Senhor, de reparar as ofensas a Ele dirigidas e de fazer penitência; o desapego das coisas materiais; a solidariedade e a abertura aos outros; o “sentido de amizade, de caridade e de união familiar” (CELAM, Documento de Puebla, 913).
A fusão harmónica da mensagem cristã com a cultura de um povo que, frequentemente, se encontra nas manifestações da piedade popular é outro motivo da estima do Magistério por ela.
De facto, nas manifestações mais genuínas da piedade popular, a mensagem cristã, por um lado, assimila os módulos expressivos da cultura do povo, por outro, impregna de conteúdos evangélicos a sua concepção da vida e da morte, da liberdade, da missão e do destino do homem.
Por conseguinte, a transmissão de pais para filhos, de uma geração à outra, das expressões culturais leva consigo a transmissão dos princípios cristãos. Em alguns casos, a fusão é de tal modo profunda que elementos próprios da fé cristã se tornam elementos integrantes da identidade cultural de um povo. Pense-se, por exemplo, na piedade à Mãe do Senhor.
in Directório sobre a piedade popular e a Liturgia, nn. 61, 63
10.09.2008
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