Projecto cultural
D. João Lavrador

Revelação e Cultura: uma síntese

Para assinalar a escolha de D. João Lavrador para Bispo Auxiliar da Diocese do Porto, ele que nos últimos anos foi Secretário da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, recuperamos parte de um texto publicado no nosso «site» em 11.10.2007, que pode ser lido integralmente nesta página.

 

Revelação e cultura: síntese conclusiva

João Paulo II convocou a Igreja para uma nova evangelização. A evangelização, para ser autêntica, tem de ser sempre nova. No dizer de Paulo VI, a frescura há-de vir do Evangelho proclamado, escutado e interiorizado. João Paulo II afirma que «a fé que não se converte em cultura é uma fé não plenamente acolhida, não inteiramente pensada, não vivida numa fidelidade total».

É fundamental ter consciência de que o Evangelho é independente de qualquer cultura, mas necessita da cultura e das culturas para ser comunicado. É deste equilíbrio de alteridade e de implicação que urge ter consciência. Isto leva a que quando se dá uma crise cultural no seio da sociedade, como é a nossa que estamos a viver, a proclamação da Revelação ressente-se profundamente. Mas de igual modo, quando se dá um afrouxamento na ordem da proclamação da Revelação, é a cultura que fica empobrecida porque lhe falta o poder de elevação, de purificação e de humanização que só a Revelação lhe pode oferecer. Quando se dá um período de transformação cultural, com aquele que estamos a viver, em que os modelos tradicionais se alteram, os valores mudam e a linguagem começa a expressar algo diferente, cabe uma árdua tarefa à Igreja arauta e proclamadora da Boa Notícia, que pela Revelação lhe foi entregue, descobrir os caminhos mais aptos para evangelizar, sendo fiel à essência da Revelação e à linguagem acessível ao homem concreto.

É o permanente mistério da encarnação que enobrece a Igreja mas que a interpela sem cessar a uma tarefa sempre nova de encontro com o ser humano situado em culturas sempre em mutação.

Por vezes, de forma muito simplista, exige-se mudanças na Revelação, quando o que está a mudar é a cultura. E, deste modo, o que importa é estar atento às crises culturais que convidam, nomeadamente a Igreja, a um atento exame de discernimento.

A cultura moderna, no que diz respeito à relação entre a racionalidade da Revelação e da fé, iniciou um processo que foi continuado na cultura contemporânea, relegando para o privado tudo o que tivesse a ver com o Transcendente. Foi-se constituindo uma cultura imanentista, em que o homem é puramente visto no seu contexto histórico e material, desprovido de tudo o que de transcendente o pode dignificar. O Concílio Vaticano II encetou um caminho de diálogo com a modernidade de modo a compreender e a examinar os calores determinantes desta cultura, a denunciar os seus erros e insuficiências e a assumir o que de bom ela provocou. Mas, apesar disso, a Igreja encontra-se hoje com um fenómeno nada menos preocupante, o indiferentismo perante a Revelação. Há modelos substitutivos, a que poderemos chamar de divindades pagãs, que escravizam o ser humano. É a esta cultura que a Igreja, uma vez consciente das suas inquietações e da sua linguagem, é chamada a anunciar a Jesus Cristo, o único salvador.

Tal como em outras épocas da história, também esta cultura de hoje, com os seus valores e deficiências, tem em si as características necessárias para reconhecer o Verbo de Deus que, uma vez proclamado, há-de atingir a razão e a interioridade do homem, oferecendo sentido à revelação humana. Também hoje, a Revelação é geradora de uma nova cultura e esta, nomeadamente a europeia, tal como se tem sublinhado em tantos documentos do magistério e outros, tem necessidade de ser purificada e elevada pela força da Palavra Revelada.

A evangelização é um processo que a Igreja já experimentou em outras épocas culturais, com incidências especial nos primeiros séculos do cristianismo. Urge implementar um itinerário, longo e difícil, porque exige conversão, que, tal como é apresentado na Evangelii Nuntiandi, transforme os critérios, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida de todos os homens.

 

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D. João Lavrador

in Estudos Teológicos, Janeiro/Dezembro 2006, Coimbra.

09.05.2008

 

 

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