
A "Via Pulchritudinis", caminho privilegiado de evangelização e diálogo
Introdução
O tema da Assembleia Plenária de 2006 do Conselho Pontifício da Cultura inscreve-se na sua missão de ajudar a Igreja a transmitir a fé em Cristo através de uma pastoral que responda aos desafios da cultura contemporânea, destacando-se entre eles a indiferença religiosa e a não crença (Motu proprio Inde a Pontificatus). Recorrendo a projectos e a propostas concretas, o Conselho deseja ajudar os pastores a seguir La Via Pulchritudinis como caminho de evangelização das culturas e de diálogo com os não crentes, conduzindo a Cristo que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
I - Um desafio crucial
A antepenúltima Plenaria do Dicastério, em 2002, que teve por tema “Transmitir a fé ao coração das culturas, novo millennio ineunte", e a seguinte, em 2004, sobre "A fé cristã na aurora do novo milénio e o desafio da não crença e da indiferença religiosa", sublinharam a urgência de um novo impulso apostólico da Igreja para evangelizar as culturas através de uma efectiva inculturação do Evangelho.
A cultura, marcada por uma visão materialista e ateia, característica das sociedades secularizadas, suscita a desafectação da religião, por vezes uma oposição contra ela, em particular no que diz respeito ao cristianismo, com um novo anti-catolicismo. Muitos vivem como se Deus não existisse (Etsi Deus non daretur), como se a sua presença e a sua palavra não pudessem influenciar de nenhuma maneira a vida concreta das pessoas e das sociedades. Muitos experimentam a dificuldade de afirmar claramente a sua pertença religiosa, e a sua espiritualidade é confinada ao domínio estrito da vida privada. Consequentemente, a experiência religiosa dissocia-se muitas vezes de uma pertença clara a uma instituição eclesial: alguns crêem sem pertencer, enquanto que outros pertencem sem expressar sinais visíveis da sua crença.
O fenómeno da nova religiosidade e as espiritualidades emergentes que se espalham pelo mundo constituem um enorme desafio para a nova evangelização. Elas pretendem responder melhor do que a Igreja e do que as formas religiosas tradicionais às expectativas espirituais, emocionais e psicológicas dos nossos contemporâneos. Através de ritos sincretistas e de práticas esotéricas, tocam no cerne da emotividade das pessoas, numa dinâmica comunitária pseudo-religiosa que frequentemente as asfixia, privando-as até da sua liberdade e dignidade.
No coração da cultura neo-pagã, os cristãos continuam a ser uma força viva, capaz de testemunhar a sua fé com discernimento e coragem, mesmo em países tradicionalmente cristãos onde os fiéis praticantes já não constituem a maioria da população. Sinais evidentes desta esperança podem ser vistos nas Jornadas Mundiais da Juventude, nas grandes convocações motivadas pelos Congressos Eucarísticos e pelos santuários marianos, na multiplicação de lugares de renovação espiritual e na procura de estadias silenciosas nas hospedarias dos mosteiros, na redescoberta das antigas vias de peregrinação e no florescimento de uma multiplicidade de novos movimentos religiosos que chegam a jovens e adultos, nas multidões que convergiram para Roma aquando da morte de João Paulo II e da eleição de Bento XVI. “Sim, a Igreja é viva, eis a maravilhosa experiência destes dias”, exclamou o Santo Padre na homilia da Missa de Início do seu Pontificado. E prosseguiu: “Precisamente nos tristes dias da doença e da morte do Papa isto manifestou-se de modo maravilhoso aos nossos olhos: que a Igreja é viva. E a Igreja é jovem. Ela leva em si o futuro do mundo e por isso mostra também a cada um de nós o caminho para o futuro. A Igreja é viva e nós vemo-lo: experimentamos a alegria que o Ressuscitado prometeu aos seus.”.
A continuar.
Próximo trecho: "Uma proposta de resposta da Igreja: a Via Pulchritudinis - 1. Acolher o desafio"
Documento final da Assembleia Plenária do Conselho Pontifício da Cultura, 2006
© SNPC: Tradução | Publicado em 19.11.2007
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