
Multiculturalidade na Gulbenkian
De 21 de Junho a 28 de Outubro, a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta «Distância e Proximidade», que pretende interrogar as possibilidades e os limites da interculturalidade.
Desde o primeiro dia que os visitantes podem apreciar a exposição «Toldos de Artistas», desenhos que, uma vez estampados em tecido, serão instalados como toldos atravessando parte do Jardim Gulbenkian. Os autores convidados foram: António Sérgio Moreira (Belo Horizonte), Celestino Mudaulane (Maputo), Francisco Vidal (Lisboa), Gabi Jiménez (Marines), Hakam Gursoytrak (Istambul), Kenya Evans (Houston), Marisa Vinha (Lisboa), UIU (Lisboa), Philomena Francis (Londres), Rosana Paulino (S. Paulo), Santiago Cucullu (Milwaulkee), Sergio Vega (Gainesville), Yonamine (Luanda) e Wilson Shieh (Hong Kong). A entrada é livre.

Cinema, música, exposições e uma conferência são algumas das iniciativas deste programa.
Os objectivos
A pista de um aeroporto, a imagem que escolhemos para apresentar o Programa Gulbenkian Distância e Proximidade, é um símbolo da mobilidade do nosso tempo. Poderia ter sido um écran de televisão ou a página de um sítio na internet. Nunca, como hoje, se deslocam tantas pessoas, circulam com tanta rapidez as ideias e são tão acessíveis as imagens.
Esta aparente vitória sobre a distância e o tempo é simultaneamente fonte da riqueza dos encontros e das contrariedades dos desencontros: da convivência criativa e enriquecedora e, em contraponto, da afirmação radical da identidade e da recusa do diferente.
Nunca, como hoje, há razões para estarmos próximos e cooperarmos pela natureza dos problemas que temos de enfrentar e que só a solidariedade à escala global pode resolver: crise ambiental, fome, pandemias, tráfico de drogas e de armas. Mas é também nos nossos dias que conflitualidades e confrontos, por razões étnicas, culturais e religiosas emergem como reflexo, causa ou consequência de outras conflitualidades económicas, sociais ou políticas.
O que nos propomos no Programa Gulbenkian Distância e Proximidade  é reflectir sobre os limites actuais ao entendimento e à comunicação cultural e  interrogar (-nos) sobre as possibilidades abertas por novas abordagens  conceptuais, societais e artísticas. É nestas várias dimensões que o Programa  se assume, através de diversas iniciativas e propostas, como uma experiência de  aprendizagem sobre a diferença e um debate aprofundado e liberto de
    preconceitos sobre a convivência nas sociedades contemporâneas. (Emílio Rui Vilar, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian)
Limites e possibilidades do multiculturalismo
Só há um futuro mais pacífico possível para a Humanidade se a interculturalidade for viável. Com isto quer-se dizer que a Interculturalidade, mais do que uma estratégia de encontro ou de comunicação cultural, deve ter subjacente um projecto político de transformação social transnacional.
O Multiculturalismo foi um conceito operativo que serviu, durante muitos anos, para definir sociedades, em particular cidades, como lugares de convivência de múltiplos grupos de origens étnicas e culturais diferentes. O conceito em si não ultrapassava esta dimensão de coabitação mais ou menos pacífica e não geria expectativas ou utopias relativamente ao futuro dessas cidades.
Londres, Paris, Berlim, Marselha, Nova Iorque e Hong Kong eram exemplos de cidades multiculturais. Mas, quando se percebeu que a diferença ética e também a cultural (dado que a expressão cultural de um grupo está ancorada no seu passado histórico e na expectativa que esse grupo tem em relação ao seu futuro) implicava necessariamente tensões que, por vezes, evoluíram para conflitos graves, tentou encontrar-se uma estratégia de comunicação entre grupos e expressões culturais, baseada em duas premissas fundamentais: a convivialidade a partir de um código mínimo de valores, entre os quais são irrecusáveis a negação de qualquer forma de sofrimento e de exclusão e de morte, não havendo qualquer relativismo cultural que o justifique; e, simultaneamente, esta estratégia deve pressupor uma ideia de futuro social em sociedades de coabitação diversificada, como tenderão a ser todas as sociedades do século XXI com tudo o que tal implica em termos de direitos, de deveres, de avaliação do peso do Estado na vida individual, de ’negociação cultural’, tendo em vista a pacificação das cidades e uma globalização menos perigosa e gerando menos injustiças. A este projecto, que deve ter uma natureza política, chama-se Interculturalidade. Num ano em que este tema com todas as suas variantes faz parte essencial da agenda europeia, a criação do Programa Distância e Proximidade pretende provocar a discussão pública sobre a complexidade deste processo evitando duas atitudes demagógicas comuns: a primeira é que a cultura na sua expressão generalista resolve o problema das tensões e dos conflitos culturais. Não resolve. Pode contribuir para o reconhecimento das razões das tensões, para um melhor entendimento entre pessoas ou grupos em conflito, pode iniciar um processo de conhecimento do outro diferente. No entanto, as razões de natureza social têm o seu lugar de resolução, como as económicas, as políticas, as de doença ou carência e não há maior demagogia do que aquela que quer atribuir à cultura a resolução destas esferas de conflitualidade. A segunda atitude que evitaremos é aquela que supõe que a Interculturalidade se resolve em instâncias de poder. De facto não resolve. A interculturalidade decorre da democracia e da sua aprendizagem e vivência e, para tanto, precisa de ser aprendida tal como a democracia. Nos vários momentos por que passa este Programa Distância e Proximidade pretendeu-se, em termos práticos, contribuir para esta aprendizagem sobre o outro, sobre como o conhecer, como o acolher, sobre como construir com ele ressalvando sempre o que de estranho, de diferente e muitas vezes de inultrapassável existe entre grupos culturais, sociais e económicos diferentes. (António Pinto Ribeiro, Comissário)
Consulte e descarregue o programa
30.06.2008
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