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Guia para a leitura da obra de Joseph Ratzinger - Bento XVI

No dia em que se assinalam sete anos da eleição de Bento XVI, oferecemos um extrato da obra “Guia para a leitura da obra de Joseph Ratzinger”, lançada em março pela Editora Principia.

«Entre as tarefas a que Bento XVI dedica um cuidado mais atento e assíduo - por estar consciente da importância primordial de que ele se reveste no âmbito da sua missão evangelizadora -, está o ministério da pregação e da catequese. Um ministério que se desenvolve com uma reflexão rica em conteúdos teológicos e impregnada de uma forte carga espiritual que comunica não somente a inteligência da fé, mas também a sapiência do coração.»

Baseando-se precisamente numa leitura atenta dos ensinamentos de Bento XVI, o percurso traçado por este guia pretende captar e perceber o dinamismo espiritual do magistério do atual Papa e as grandes linhas orientadoras do seu pontificado.

O autor, Giuliano Vigini, é uma das figuras mais conhecidas do mundo editorial e da cultura católica italianos. Estudioso da Bíblia, de Santo Agostinho e da literatura cristã antiga e moderna

A obra, de que oferecemos um excerto, divide-se em duas partes: “Os fundamentos do Magistério” e “Linhas orientadoras do pontificado”.

 

A emergência educativa

A Igreja sempre dedicou uma atenção especial ao problema educativo e pô-lo sempre entre os seus objetivos primários. De facto, sem educação «não há evangelização duradoura e profunda, não há crescimento e amadurecimento, não há mudança de mentalidade e de cultura». Portanto, a Igreja não fala somente de educação no sentido específico da iniciação e da formação cristãs, mas também no sentido alargado da educação do homem como pessoa, orientada para dar um sentido durável à sua vida e para procurar uma felicidade que não seja efémera.

Hoje, porém, tanto a primeira como a segunda missões educativas são visivelmente um problema e um «desafio» de grande alcance que, enquanto tais, não se limitam a um só âmbito, antes atravessando todos os setores da Igreja. Assim sendo, se educar nunca foi simples, na sociedade atual tornou-se uma tarefa muitíssimo árdua e complexa que, para alguns, é mesmo impossível, como que uma batalha perdida à partida, tão numerosos e tão fortes são os adversários que se opõem à ação educativa não só dos pais, dos professores e dos educadores em geral, mas também dos sacerdotes. Na realidade, independentemen­te do esforço dos indivíduos e das instituições, o trabalho fatigante de educar é muitas vezes frustrado ou inutilizado por instâncias, comportamentos e hábitos que rejeitam - na linha dos princípios ou no plano prático - aquele património de certezas, de ideias e de valores-base da existência que no passado eram largamente partilhados e, portanto, constituíam uma sólida referência comum. Isto significa que a experiência representada por aquele património, na passagem das várias gerações interrompeu-se, ou quebrou-se, ou de certa forma deixou de ser perce­bida como fecundadora de novas experiências de vida. Por outras palavras, o passado deixou de gerar o presente e, muito menos, o futuro.

Não podemos esquecer-nos de que, no clima de crescente mal-estar moral e de esvaziamento ético do nosso tempo, o sentido da autoridade das gerações mais jovens tem enfraquecido progressivamente, acabando por se tornar ainda mais precário o respeito pelos superiores e pelas regras necessário para assegurar «um justo equilíbrio entre a liberdade e a disciplina». De igual maneira, enfraqueceu notavelmente em muitos educadores a respeitabilidade com que devem exercer a autoridade de modo credível, quer dizer, não só com experiência e competência, mas sobretudo com uma «coerência de vida capaz de testemunhar a verdade e o bem».

Deste contexto geral deriva a preocupação da Igreja e, ao mesmo tempo, a certeza de que esta tarefa fundamental da educação - «sua exigência constitutiva e permanente» - exige hoje um notável reforço do empenho pastoral e cultural. De facto, a situação de «urgência» e, até, de «emergência» em que nos encontramos exige um esforço muito maior, na tentativa de ainda poder desempenhar adequadamente a tarefa de formar «pessoas livres, verdadeiramente livres, isto é, responsáveis, cristãos maduros e conscientes».

A análise de Bento XVI, em resposta à «radicalidade e à amplidão da procura educativa», parte das raízes da crise, e em especial de duas delas. A primeira é «uma falsa conceção da autonomia do homem» segundo a qual ele «deveria desenvolver-se apenas por si mesmo, sem imposições de outros», enquanto na realidade o «eu» não está completo em si próprio e só começa a ficá-lo no momento em que se inicia o diálogo, o encontro e a comunhão do «tu» com o «nós». A segunda raiz é a «exclusão das duas fontes que orientam o caminho humano»: a natureza e a Revelação. Se não se reconhecer que a natureza é o livro da criação de Deus e que este livro está decifrado na Revelação, «aplicado na história cultural e religiosa e por ela apropriado», então perder-se-ão os pontos de orientação fundamentais da vida. A Igreja considera que educar significa precisamente «formar as novas gerações para que saibam entrar em relação com o mundo, fortalecidas com uma memória significativa que não é somente ocasional, mas também ampliada pela linguagem de Deus que encontramos na natureza e na Revelação».

A formação integral da pessoa não pode prescindir destes princípios essenciais, que hoje, porém, esbarram contra conceções e estilos de vida diferentes daqueles que a fé e a cultura cristã ambicionariam para o bem do homem e da sociedade. As seduções de um «relativismo dogmático», os atalhos das «gratificações efémeras», o frenesim da afirmação de si mesmo e do sucesso imediato são alguns dos sintomas bem visíveis da cultura hodierna e é precisamente também neste terreno cultural que se trava o desafio educativo. Porque a cultura, influindo na mentalidade e nos comportamentos dos indivíduos, está sempre de algum modo envolvida na modelação do tecido ético e social, não sendo por acaso que outrora foi assumida pela Igreja como uma das dimensões essenciais da sua ação evangelizadora, recebendo solicitações e desenvolvimentos determinantes durante o pontificado de João Paulo II e encontrando agora um renovado impulso em Bento XVI.

Uma fé que gera cultura é, de facto, essencial para abraçar, transformar e enriquecer as realidades do mundo. Se a cultura «é aquilo pelo qual o homem, enquanto homem, se torna mais homem», é claro que também para a Igreja (sacerdotes e leigos, famílias, paróquias, escolas católicas, mass media, etc.), a responsabilidade de educar coincide com o empenho de tornar as pessoas capazes de viverem a sua vida em plenitude e darem o seu contributo para o bem da comunidade.

Daí a insistência do Papa, e dos bispos com ele, na importância da formação dos sacerdotes e dos leigos, para que estejam espiritual e culturalmente cada vez mais preparados para esta delicada missão educativa, mediante a qual a transmissão da fé e a formação das pes­soas caminham a par e passo na tentativa de suscitar e valorizar o que de mais verdadeiro e humano existe no homem. Se não tiver diante de si este objetivo, a educação falhará completamente a sua vocação, que é precisamente a de indicar as opções fundamentais que podem plasmar uma existência livre, consciente e harmoniosa. De facto, independentemente dos muitos itinerários que compõem a experiência do homem, deve haver sempre pelo menos um ponto em que diversas culturas se encontram, superando as dissonâncias, as diversidades ou as divisões; e esse ponto comum é a consciência sólida da unicidade do homem e da sua dignidade inviolável.

Pode-se compreender muito bem como é árduo este reconhecimento essencial, porque implica já uma cultura fundada num humanismo que coloca no centro a verdade e o bem do homem. O que não chega ao homem e à sua totalidade é sempre uma conquista parcial, uma meia vitória, longe daquela sabedoria íntima que faz com que a pessoa cresça consciente do seu destino e das suas responsabilidades em relação aos outros. Por isso e antes de tudo, o humanismo integral não pode deixar de caminhar em direção à transcendência e esta ascensão para o significado e para o termo da existência também alarga cada um dos caminhos que conduzem à realização da comunidade dos homens. O fracasso da cultura moderna advém precisamente da perda dos valores (ou da perda da consciência dos valores) ligados à transcendência. Uma cultura autenticamente humana, pelo contrário, vive desses valores, sente-os como constitutivos de si mesma e leva o homem a assumi-los, isto é, a deixar-se envolver por eles e, mais profundamente ainda, a entregar-se por eles, porque só no momento em que alguém se entrega por alguma coisa que vale a pena e dura no tempo é que a vida toma a sua forma de verdade e de esperança.

No pensamento de Bento XVI emerge com clareza esta ideia de fundo. A falta de confiança na vida e, portanto, também de esperança no futuro nasce, antes de mais, do facto de, com a perda do sentido de Deus, só se inventarem substitutos e símbolos efémeros que não exaurem a busca existencial de um fundamento certo, de uma perspetiva durável, de um sentido final. A cultura do materialismo e dos muitos «ismos» que ela gerou tem como origem primária a perda de um centro. Sem este centro, que é vida e totalidade, a cultura divide-se, particulariza-se, entra em conflito e não consegue oferecer mais nada de significativo para o homem, porque lhe tirou o horizonte mais importante: a dimensão completa e definitiva da vida.

O cerne da existência cristã é o encontro com Deus; por isso é que são importantes todos os pontos de que se parte para ir à descoberta de Deus. O caminho da verdadeira cultura é esta saída para fora de si mesma, partindo do confim em que o limite humano tenderia a encerrá-la e secularizá-la para entrar nos espaços abertos onde Deus Se revela numa relação inteiramente nova que imediatamente confere um significado diferente e rico ao encontro com os outros. De facto, se é o centro do homem, Deus é também a medida e a presença unificadora das ligações entre os homens. Ora, é precisamente partindo desta certeza fundamentada que a cultura pode realmente tornar-se a grande força que, posta ao serviço do homem, constrói um mundo feito para o homem.

A reconstrução desta vocação original da cultura passa pela assunção da mensagem cristã como síntese e práxis específica dos valores que a humanidade é chamada a encarnar na história. O cristianismo é voz de uma cultura que, ao anunciar e atuar o Evangelho, fecunda todos os bens sobre os quais a sociedade poderá desenvolver-se de modo harmonioso e fraterno. Independentemente dos tempos, dos contextos e dos problemas individuais, a mediação cultural cristã na organização espiritual, ética e material da cidade do homem valerá tan­to mais quanto mais souber manter a dimensão cristocêntrica que lhe é própria, quanto mais souber projetar-se missionariamente na experiência e no caldeamento das culturas, quanto mais souber imprimir no crescimento do homem o sinal de uma criatividade corajosa.

Cristocêntrica é uma cultura que irrompe na história testemunhando que a verdade de Cristo não é só uma palavra que se transmite, mas também uma atitude que se assume como própria; não é só uma mensagem de liberdade e esperança, mas também um modo de ser livre e de se abrir à esperança. Missionária é uma cultura que reconhece e afirma o que há de positivo nas culturas, enriquecendo-se como património para crescer no diálogo e no compromisso de servir o homem, mas também uma cultura que se apresenta como sinal de contradição e, resistindo às tentações, aos fingimentos e aos compromissos equívocos, suporta até ao fim os sofrimentos ligados ao seu chamamento profético. Criativa, finalmente, é uma cultura que não se fecha nem imobiliza, antes se interrogando continuamente para suscitar iniciativas, adotar instrumentos e encontrar ligações cada vez mais adequadas ao trabalho pastoral de formar a pessoa e de animar a sociedade em ordem à fé e aos valores.

Uma cultura cristã assim formada é, segundo Bento XVI, absolutamente idónea para se situar com sábia consciência no coração da sua época, percebendo profundamente as suas mudanças, as suas viragens, os seus conflitos e as suas instâncias culturais e éticas. Por outras palavras, pode entrever subtilmente como se deve responder hoje aos problemas postos pela aculturação da fé; que riquezas antigas e novas é necessário suscitar do anúncio cristão; em que setores específicos é preciso trabalhar mais para reconstituir a aliança despedaçada entre os valores divinos e os valores humanos e, portanto, também para dar a cada projeto terreno um fundamento duradouro.

A responsabilidade que se delineia neste contexto não é tanto a de elaborar uma «nova cultura» ou um «novo humanismo» cristão, quanto sobretudo - como explica o Papa - a de promover uma «nova evangelização», ajudando a evidenciar, fortalecer e redescobrir os significados e as atitudes perenes da antropologia e da ética cristãs. Hoje - quando a antropologia se tornou o horizonte fundamental das ciên­cias, na tentativa de apreender e explicar quem é este homem ainda tão escorregadio e tão dramaticamente desconhecido -, a antropologia cristã pode e deve sair a terreiro para voltar a colocar com vigor a antiga pergunta «quem é o homem?», o homem como pessoa, ser livre e consciente, uno e irrepetível e, como seu princípio constitutivo, o ho­mem que se coloca de maneira singular no desígnio providencial de Deus, que realiza a sua salvação em Cristo, que vive na comunhão da Igreja. Anunciar e testemunhar tudo isto com discernimento e caridade não é somente dar a uma sociedade cansada e homologada o sentido último das coisas - também quer dizer comunicar a responsabilidade, a alegria e o dom de viver, individualmente e como comunidade, num esforço para ir ao encontro de um destino comum.

Portanto, como Bento XVI afirmou em numerosas intervenções, a missão dos cristãos no campo educativo deve retomar força e ela, de modo a conseguir abanar as consciências adormecidas ou indiferentes do homem contemporâneo, mediante a proposta dos valores espirituais e éticos que formam a riqueza e a universalidade do seu humanismo. Sem estes valores - reais, não abstratos -, a renovação da sociedade, tão desejada por muitos, não deixará de ser uma vã utopia. Com efeito, os valores são o vínculo que, unindo os homens de boa vontade na busca e na difusão do bem, e no esforço diário de se melhorarem pessoalmente, lança as raízes de uma consciência individual e de uma convivência social solidamente fundadas. O ter suplanta imediatamente o ser logo que o homem pensa que pode minimizar esses valores e abandoná-los como velhas quinquilharias. E uma existência em que o primado do ser decai, que já não sabe reconhecer o que eleva a pessoa é uma existência empobrecida que bem depressa se torna uma existência impossível, porque vazia de esperanças decisivas.

Como Bento XVI ilustrou na sua encíclica, a esperança verdadeira é, pelo contrário, a que mete pés a caminho à procura da verdade em que o ser se reflete e o homem se descobre mais homem. E a verdade consiste em assumir Deus como primeiro valor absoluto. Porque cada projeto humano que não tenha como pilar o sentido de Deus e a tensão constante para Deus, mais cedo ou mais tarde, verga-se e desaba. O homo religíosus não renuncia a nenhuma das suas prerrogativas de homem, antes as valoriza e finaliza; mas se, pelo contrário, se assumir como único parâmetro, em plena autonomia e com termos de referência puramente humanos, a civilização que nascer será uma civilização manca, governada por uma «moral laica» que, nos seus subjetivismo, egoísmo e desejo de fruição, não sabe elaborar um modelo estável e uma convivência durável. Uma conceção ou uma moral de facto ateia, apesar de eventuais altos e baixos de provisória filantropia, conduz sempre - como a história passada e recente ensina - ao resultado de dividir os homens, de apoiar os seus instintos e de perseguir metas falsas. Sem Deus, não pode existir uma cultura à medida do ho­mem. Porque, sem Deus, a pessoa assume contornos indefinidos e até os direitos de liberdade e dignidade, que estão incindivelmente ligados à pessoa, se esfumam, empobrecem e permanecem escravizados.

Deste modo, a rutura da ligação a Deus - outro fio dos raciocínios que, muitas vezes, aparecem nos ensinamentos de Bento XVI - marca não tanto o princípio de uma maior liberdade, mas sobretudo o início de uma completa escravidão: o homem deixa de reconhecer o outro homem como irmão e, esvaziando-se de todo o conteúdo espiritual, pode tranquilamente tornar-se meio, objeto, mero instrumento de produção e de troca. Não é por acaso que o consumismo, o ativismo e o sucesso material parecem ter-se fixado hoje - com todas as suas tentações e manipulações - como critérios absolutos da verdade e do saber do homem. Consequentemente, a prepotência, a falsidade e o engano tornaram-se os sistemas normais para se chegar, a qualquer preço, à posse das coisas e à conquista do poder. Esta não é certamente a verdade que o homem em si mesmo exprime e, simultaneamente, persegue no seu esforço de crescimento. E muito menos é a verdade cristã que liberta, que traz a paz e cria ligações de comunhão entre os homens. De facto, os valores do humanismo cristão comportam o reconhecimento da liberdade como ponto de partida, da justiça como caminho, da paz como objetivo e da caridade como vínculo que une e aperfeiçoa.

Mas não se chega a nada disto sem uma educação mais geral para os valores. Por isso, há necessidade de um itinerário que leve a assimilá-la e a difundi-la. A tarefa pastoral é precisamente esta: indicar o itinerário e também as etapas, com os tempos e os modos para a percorrer bem e até ao fim. O itinerário delineia-se concretamente num projeto que, independentemente das suas articulações específicas, aponta para dois objetivos fundamentais: a capacidade de se educar, ato primário de conhecimento, descoberta contínua da própria fé e, pouco a pouco, ato pessoal criador de se moldar à realidade e às necessidades; e a capacidade de educar, síntese de mensagens e veí­culos que ajudam a perceber o núcleo dos valores e as relações entre eles, no que existe de mais sensível e importante nos comportamentos e nas estruturas sociais.

O humanismo modela-se através desta educação comunitária para os valores, partindo de pontos em comum e chegando depois, in itinere [ao longo da caminhada], a encontrar uma unidade mais ampla. Portanto, a educação não é apenas o horizonte de investigação, mas igualmente o caminho; não só o que está na partida, mas também tudo o que de bom encontramos quando caminhamos juntos. O essencial é ter pontos de convergência e, sobretudo, o mais importante: o valor do homem como pessoa e, reflexamente, o valor de todas as relações que salvaguardam e promovem a pessoa. De facto, uma ideia autêntica do homem não pode prescindir das relações vitais que, por sua vez, implicam uma série de valores e de relacionamentos em que a existência humana se exprime. Depois, é preciso pôr sempre e ao mesmo tempo no prato da balança a grandeza e o limite do homem, e ter consciência de uma e do outro; da grandeza, para nunca se esquecer aonde se deve chegar; do limite, para se saber que barreiras não devem ser ultrapassadas para não ir contra o próprio homem. Apontar para a grandeza libertando-se do limite significa encontrar o «corretivo» antropológico adequado que dá espaço à liberdade sem prejudicar o equilíbrio e a harmonia. Por outras palavras, significa respeitar sempre e a todo o custo o homem em si mesmo e a vida em todas as suas formas, libertando-se de qualquer trama que possa levar a matar, a ofender, a trair a pessoa e a vida.

Este é - pelo menos segundo a síntese que se tentou elaborar, dentro de uma visão global do pensamento de Bento XVI - o horizonte religioso, antropológico e ético dentro do qual o Papa coloca a emergência educativa e o desafio que ela comporta, a todos os níveis e em todos os campos, para que a educação ainda possa ser a passagem obrigatória para a compreensão de si e do mundo. Ele encara com grande preocupação sobretudo o modo como crescem o mal-estar, a desconfiança, a fuga, a quebra do compromisso, a violência no mundo juvenil, durante demasiado tempo enganado e instrumentalizado por uma sociedade adulta que o traiu com milhares de slogans e ilusões, abandonando-o depois a si mesmo. A experiência amarga deste engano colossal levou os jovens a sentirem toda a precariedade da sua existência e à incapacidade de reagirem ao medo de viver - fenómenos, atitudes e manifestações diferentes que, no entanto, refletem todos a desoladora condição existencial de tantos órfãos que, sem lamentarem esta sociedade sem pais e sobretudo com muito poucos mestres, vagueiam dentro de si mesmos e no mundo à procura de uma qualquer «paternidade» que esteja disposta a socorrê-los. Mas rapidamente se apercebem de que, uma vez mais, seguiram e acariciaram apenas sombras.

É por isso que Bento XVI, enquanto, por um lado, sente todo o peso desta profunda crise educativa e cultural que se determinou no tempo, por outro encoraja a que não se deserte, mas pelo contrário se multipliquem os esforços para começar a reconstruir com um ensejo renovado.

 

Esta transcrição omite as notas de rodapé.

 

Giuliani Vigini
In Guia para a leitura da obra de Joseph Ratzinger - Bento XVI, ed. Principia
19.04.12

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Capa

Guia para a leitura da obra de Joseph Raztinger

Autor
Giuliano Vigini

Editora
Principia (Lucerna)

Ano
2012

Páginas
144

Preço
13,50 €

ISBN
978-989-8516-190

 

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