Bíblia e teatro
Leitura encenada do Cântico dos Cânticos
O “TEatroensaio” apresenta esta quarta-feira e quinta-feira, 23 e 24 de novembro, no Porto, a leitura do livro bíblico “Cântico dos Cânticos”, a partir da tradução do padre e poeta José Tolentino Mendonça.
«Ao colorido vegetal, à profusão de perfumes e às imagens sensuais desencadeadas pelas palavras do Cântico dos Cânticos associa-se, nesta leitura encenada a realizar no claustro do Mosteiro de São Bento da Vitória, a interpretação ao vivo de música antiga, colocada ao serviço deste texto tão humano – e, por isso, tão sagrado», anuncia o site do Teatro Nacional São João.
A palavra ao encenador, Pedro Estorninho.
«Sobre o espectaculo gostaria de me reservar e de deixar opiniões e ilações a quem vai assistir. Prefiro falar ou escrever sobre afinidades com o texto. Irei referir-me a ele nestas linhas. Palavras para a tradução também serão difíceis de encontrar, pois é de uma sensibilidade e familiaridade tal, que percebemos de imediato o respeito pelo texto. E é de uma consideração poética a relação de José Tolentino Mendonça com o “Cantíssimo”, que dela emerge assim uma afetividade muito particular com estes oito cantos.
O Cântico dos Cânticos foi um texto que me acompanhou sempre. Primeiro, na minha educação religiosa; depois, mais tarde, na educação literária; e agora, nestes últimos tempos, na educação artística teatral. Admiro a frase de Saint-Exupéry, escrita na sua Cidadela: “Para uma educação em forma de poema”. Aplica-se-me com o Cântico.
Pegar nele agora, e porquê somente agora? Por estar, talvez, no ponto em que, cada vez que o releio, menos certezas tenho sobre o meu conhecimento dele. O que me dá uma alegria imensa, pois tenho assim a oportunidade de visitá-lo, ouvi-lo, dialogar com e lê-lo mais fundo ainda. Esperar, acima de tudo, pelo que me venha a contar, como se se tratasse da primeira vez que o folheio. Penso que estou um pouco mais pronto a poder falhar, estando assim mais livre para o trazer, na sua intensa beleza, ao público.
Salvo erro, foi Steiner que confessou numa entrevista ao Literatour, essa fantástica publicação literária, que, quando lhe diziam que nunca tinham lido D. Quixote, respondia: “Você é um ser de uma sorte invejável, gostaria de lê-lo como o vai ler, pela primeira vez”. Também eu, neste momento, invejo deveras o público que nos visitar no Cântico.
O Cântico dos Cânticos estará certamente longe de ser esquecido; é impossível a quem o lê não regressar a ele e não o partilhar. Este é um dos mais belos poemas de amor já escritos. Espero que sintam o mesmo que eu ao lê-lo e ouvi-lo.»
A leitura encenada começa às 21h30, prolongando-se durante aproximadamente 90 minutos.
In Teatro Nacional São João
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02.12.11