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Machico, história e encantamento

«Machico começa rente ao mar», descreve o poeta e sacerdote Tolentino Mendonça. «A baía é uma forma natural», mas a segunda maior cidade da ilha da Madeira «prolonga-se por um vale que cresce para o interior da terra. O mar é cinzento e de um azul esverdeado. A terra é verde.» Apesar de ser uma «cidade relativamente pequena», a «impressão que temos não é essa», afirma. «Gosto da experiência do tempo que temos ali. Não é que esteja suspenso, mas é mais amplo.»

Esta é «a terra onde os navegadores portugueses aportaram» pela primeira vez na ilha, com João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira em 1419, e onde «começou o povoamento histórico da ilha». Machico foi, em 1440, a primeira capitania entregue pelo Infante D. Henrique a Tristão Vaz, antes de o Porto Santo e o Funchal serem entregues a Bartolomeu Perestrelo e a Gonçalves Zarco.

«Mas Machico é o palco da lenda, a lenda de Machim e de Ana e do seu amor infortunado», associa Tolentino Mendonça. Recorda, assim, a história do nobre inglês e de Anne d’Arfet que, fugidos de Bristol por amor e afastados da costa francesa pela tempestade, terão «descoberto» a baía que é hoje Machico oito décadas antes de os portugueses a terem reclamado. «Essa disponibilidade para conjugar história e encantamento como que se mantém».

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Desses tempos, há duas ofertas de D. Manuel a Machico - pórtico lateral e imagem da Virgem - que ornamentam a igreja matriz da cidade e que o sacerdote recomenda. Há ainda duas capelas a visitar: a Capela do Senhor dos Milagres (patrono e símbolo da festa maior da cidade, em outubro), situada na Banda d’Além, «núcleo histórico da cidade, num largo com duas monumentais casuarinas»; e a Capela de São Roque, recompensa final «de um passeio tranquilo até um dos ângulos da baía».

«A casa da cultura do Ribeirinho oferece também uma programação discreta, mas interessante. E, depois, são sobretudo os passeios pela praia ou uma pausa no Mercado Velho, um dos mais belos cafés da ilha» que não devem faltar. Para comer, qualquer refeição no restaurante do Isidro, no sítio do Piquinho, é «perfeita».

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«Machico tem alguma coisa de inesquecível», que Tolentino Mendonça deteta desde logo na pronúncia. «Os funchalenses colocam em tantas palavras, e de uma forma completamente inesperada, um "i" muito soprado, que na hierarquia insular é tido como quase fidalgo». Não em Machico, onde a pronúncia é o «chamado “falar barqueiro”», uma expressão que «assenta bem», pois há qualquer coisa de «marítimo e aguado na fala», representativo da «tradição oral muito rica» da localidade, que se destaca no cancioneiro da ilha. «Em Machico, ainda é possível ouvir histórias e cantos que lembram mundos perdidos. Às vezes, sinto que Machico conserva um silêncio ainda vizinho daquele original.»

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José Tolentino Mendonça nasceu em 1965 em Machico. «É a esse lugar que regresso», pelo menos duas vezes por ano, no verão e no Natal. A infância foi em parte passada em Angola, de onde saiu aos 11 anos.

Na ilha da Madeira, acabou por viver mais tempo no Funchal, onde estudou no seminário. Formou-se em Teologia, tirou o mestrado em Ciências Bíblicas e fez o doutoramento em Teologia Bíblica (em Roma). É padre, professor (na Universidade Católica Portuguesa) e poeta - com mais de 15 obras publicadas desde 1990. 

FotoIgreja matriz de Machico

É diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e, em dezembro passado, foi um dos 10 nomes que o Vaticano escolheu como conselheiros do Conselho Pontifício da Cultura.

 

Isabel Aveiro
In Negócios
23.08.12

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