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O Ofício de Viver

Acontece. De repente, uma imagem aparentemente banal (da luz que entra em casa, de uma sombra no chão) impõe-se de tal forma que nos damos conta da sua raridade. As fotografias que Daniel Blaufuks (Lisboa, 1963) apresente em “O Ofício de Viver”, na Galeria Carlos Carvalho, em Lisboa, recordam-nos essa possibilidade de resgatar as coisas do dia-a-dia à indiferença do tempo. Um copo de água, três limões, uma mão, um tupperrware, uma caixa de moedas. Assim, sem mais.

“São fotografias de não-acontecimentos”, acorre o artista. “Sabemos que foram feitas no passado, mas podia fazê-las hoje ou na próxima semana. Nada ali é o clique desejado pela sociedade do espectáculo. Nelas nada acontece”. Ou acontece? Bom, a resposta, se existe, não se faz ansiosa. É lenta. Apanhamo-la na volta.

“O Ofício de Viver” é um a exposição inspirada na obra homónima de Cesare Pavese (1908-1950) ou, mais especificamente, em certas passagens, frases e aforismos que o escritor italiano deixou escrito nos seus diários, entre 1935 e 1950. Sobre a experiência do tempo e as memórias que restam dos dias.

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A ligação é, desde logo, introduzida pelo parágrafo na montra da galeria e espraia-se do chão, em palavras escritas, até às fotografias, “imagens de interiores, de pormenores íntimos, caseiros, e que têm a ver com o que o Pavese escreve: a curiosidade não deve estar na viagem, mas naquilo que vemos todos os dias”. “A vida, feliz ou infelizmente, é feita disso”, resume Blaufuks.

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A relação com a pintura também sobressai: “Há uma aproximação clara e consciente à natureza-morta. Ela evidencia a transição, a passagem da vida. Trabalho essa simbologia; o copo de água pela pureza e pela fragilidade; os limões pela fidelidade; as moedas pela posse e pela vaidade”.

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E há também a consciência “do tempo que passa”: “Posso estar atento aos problemas da Palestina e continuar a fazer o meu trabalho. Se calhar, nesta fotografias, em que nada aconteça, digo mais sobre o que está a acontecer do que outras obras que tentam salvar o mundo.”

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Além de “Ofício de Viver”, que pode ser visto até, 29 de Maio, Daniel Blaufuks tem outra exposição complementar – “A memória da memória”, até à mesma data no espaço Carpe Diem  - Arte e Pesquisa, também em Lisboa.

 

José Marmeleira
In Público (Ípsilon), 23.4.2010
25.04.10

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