Exposição «O Coração da Terra
O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e a Câmara Municipal de Beja conjugaram recentemente esforços para promover a salvaguarda e a valorização dos monumentos do centro histórico da cidade, através de uma parceria que conduziu ao surgimento da Associação de Desenvolvimento Regional Portas do Território (APT). Esta entidade tem, como objectivos fundamentais, recuperar edifícios emblemáticos do património bejense e torná-los acessíveis ao público. De facto, uma das grandes dificuldades para o desenvolvimento de um turismo cultural e religioso em Beja consiste nos obstáculos criados à livre-circulação dos visitantes, que se deparam muitas vezes com os principais monumentos da cidade fechados ou com horários muito limitados.
A APT está a dar a um contributo positivo para ultrapassar esta situação. Sob a sua tutela processa-se já a abertura de dois monumentos, a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres/Museu Episcopal e as Ruínas Romanas da Rua do Sembrano/Museu de Sítio. Num futuro próximo estuda-se o alargamento deste trabalho ao Castelo e ao Museu do Seminário de Beja.
Por outro lado, a Associação Portas do Território candidatou ao INALENTEJO, no âmbito do QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional), o restauro de três importantes edifícios religiosos de Beja, hoje com severos problemas de deterioração: a igreja de Nossa Senhora de ao Pé da Cruz (Imóvel de Interesse Público), a capela de Nossa Senhora do Rosário, anexa à igreja de Santa Maria da Feira (Monumento Nacional) e a catedral de Beja (antiga igreja de Santiago, na área de protecção do Castelo, classificado como Monumento Nacional). A esta tríade somou-se a ermida de Santo André (Monumento Nacional), situada numa das principais entradas da cidade, mas permanentemente fechada ao público, por não dispor de algumas infra-estruturas indispensáveis ao seu funcionamento. As candidaturas, com um montante de investimento na ordem dos 100 000 euros, foram aprovadas há poucos meses, prevendo-se o lançamento das obras, em diversas fases, a partir do primeiro trimestre de 2008.
Cordeiro junto de Cerca, Karel du Jardin (1653)
Abrir e Dinamizar, uma Estratégia Coerente
Embora a recuperação dos monumentos e a sua abertura regular sejam tarefas prioritárias, o trabalho não pode ficar por aqui. É fundamental a dinamização. Com efeito, uma preocupação da APT consiste na realização de iniciativas que possam ajudar a dar nova vida ao centro histórico da cidade, articulando esta actividade com as entidades mais directamente presentes no terreno.
Tendo em conta isto, a Associação Portas do Território delineou um conjunto de exposições temáticas de grande qualidade que dão a conhecer não só alguns aspectos-chave do património regional, mas também outros aspectos da vida cultural do país e da Europa, incidindo com particular atenção nos âmbitos da herança religiosa, paisagística e imaterial.
A primeira destas exposições, intitulada “O Coração da Terra – Aspectos do Mundo Rural na Arte Europeia (Séculos XVII-XX)”, abriu ao público, no passado mês de Outubro, na Galeria dos Escudeiros, em pleno coração de Beja. Reúne cerca de meia centena de peças de diversas escolas europeias, oferecendo uma panorâmica extremamente diversificada das relações entre o Homem e a Natureza no meio rural. Estas obras são provenientes de museus e colecções do Baixo Alentejo.
“O Coração da Terra” constitui, de certo modo, o retrato de uma Europa cujas raízes rústicas, profundamente ligadas à agricultura, foram sendo destruídas pela civilização industrial e urbana. Mais do que a nostalgia, porém, o fio condutor do discurso museográfica desta iniciativa propõe uma reflexão sobre o destino da sociedade, as relações com o mundo natural e as opções inteligentes por uma ligação profunda entre os seres humanos e o habitat em que se inserem. Algo muito actual, num momento de clivagem dos modelos socioeconómicos tradicionais em que se impõe uma clara “mudança de paradigma” no relacionamento com a Natureza.
A exposição da Galeria dos Escudeiros, que dispõe de um catálogo de elevado nível científico e estético, tem registado considerável afluência do público, sem esquecer a visita de escolas de diversas regiões do país, e mereceu referências na imprensa da especialidade, nacional e estrangeira, o que mostra a importância de um trabalho continuado na promoção de Beja como destino do turismo patrimonial e artístico.
O encerramento da exposição, no próximo dia 10 de Janeiro, será assinalado com uma conferência de João Filipe Bugalho, professor jubilado do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa e artista plástico, subordinada ao título: “A Arte, a Conservação da Natureza e o Mundo Rural”.
José António Falcão
Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja
05.01.2009
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