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Exposição

Porto recebe «Tocar as Coisas da Memória - Aproximações ao Sagrado»

Encontra-se patente até 15 de Fevereiro, na cripta da igreja da Senhora da Conceição, na Praça do Marquês, 111, no Porto, uma exposição de trabalhos de escultura e pintura do mestre escultor José Rodrigues, que foi inaugurada no dia 31 de Janeiro. Tem por tema «Tocar as Coisas da Memória - Aproximação ao Sagrado».

Nela se reúnem trabalhos de José Rodrigues, trabalhos de facetas muito variadas, que vão desde pequenas peças, como várias “pietás”, até o báculo de D. António Marto, em lugar de destaque, e que constitui uma memória do actual bispo de Leiria Fátima. José Rodrigues é também o autor do báculo de D. Armindo Lopes Coelho. A exposição percorre vários locais, desde 13 de Março de 2008 até ao verão de 2009, quer na cidade do Porto quer em outras cidades da diocese, como Amarante, Matosinhos, Marco de Canaveses entre muitos outros locais.

Acompanha esta exposição, colaborando para a sua compreensão e apreensão do seu sentido, um bem elaborado Catálogo, construído a partir de textos de autores conhecidos, entre os quais Nuno Higino (comissário da exposição), Arnaldo Pinho, João Ribeiro, Carlos Magno, José Luandino Vieira, Castro Guedes, entre outros. Cada um procura interpretar à sua maneira as características expressivas das diversas peças, que pretendem relacionar factos e mistérios cristão com formas muito pessoais de interpretações humanas do religioso e do sagrado.

Uma entrevista conduzida por Nuno Higino leva o autor das obras a confidências interessantes: “O problema da desobediência é universal. Desobedecer para saber”, a propósito das várias representações do paraíso segundo as imagens bíblicas. “Para mim a questão religiosa passa muito pela relação que fui tendo e tenho com pessoas ligadas à religião”. Sobre os Cristos (o primeiro foi-lhe encomendado por D. Armindo para o seminário de Viana) afirma que sempre lhe recordam realidades e sofrimentos humanos, e por isso muitos deles são mutilados. José Rodrigues considera a sua arte de escultor como uma forma de intervenção cívica: “quanto mais crítica e autêntica é a sociedade, mais rica e autêntica é a arte” – afirma.

Há muitas imagens da crucifixão, do calvário, presenças ao pé da cruz, sangue vertido para o chão. Há imagens da Senhora do Ó, concentradas e meditativas. Há imagens da anunciação em que a nudez corporal é como uma nudez da alma. Há imagens de maternidade que são como pietás antecipadas.

Há anjos e “anjas”, retomando e questão antiga e nunca resolvida do seu sexo. Porque os anjos são essencialmente uma relação.

Há cenas bíblicas, com a presença indelével (ou ao menos ainda não destruída) da serpente. Há cabeças de João Baptista, expressando e maldade humana. Uma delas lembra angustiosamente o estupendo quadro de Caravaggio que nos faz tremer na co-catedral da cidade de Malta. Há imagens de S. Francisco contemplativas e densas como árvores da natureza que ele amou. Há os báculos e há um estudo para o Bispo e Cardeal D. António Ribeiro.

Vale a pena olhar com ar meditativo para esta exposição em que o sagrado parece profanizar-se e o profano, não apenas o barro e o bronze, mas as imagens que eles plasmam, se sacraliza de repente num olhar mais interior.

A mostra pode ser visitada de 2.ª a 6.ª entre as 16h00 e 20h00, e aos sábados e domingos das 11h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00. A entrada é livre.

C.F.

in Voz Portucalense

09.02.2009

 

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José Rodrigues
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