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"Introdução à Vida Devota": S. Francisco de Sales oferece um contributo para crescer em Deus para o mundo

Da “Introdução à Vida Devota”, de S. Francisco de Sales, edição da Voz Portucalense, apresentamos o prefácio, assinado pelo bispo do Porto e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente.

 

Prefácio

Em boa hora se reedita a Introdução à vida devota, obra maior de S. Francisco de Sales (1567-1622). Em boa hora, porque a oportunidade é grande e urgente.

Como o próprio autor reconheceu e disse, os que até então tinham escrito sobre a devoção – o verdadeiro amor e entrega a Deus – dirigiam-se sobretudo a “religiosos” presentes ou futuros e apartados do mundo. Não é esse o seu intento, nem do livro, que nascera das orientações espirituais que dera a uma cristã comum, espiritualmente exigente.

E é por isso que a “vida devota” de Francisco de Sales é verdadeiramente inaugural do catolicismo moderno. Na Idade Média, de que ainda lhe chegara tanta coisa, “converter-se” quase significava entrar nos claustros ou em ambientes próximos deles. Mas para o bispo de Genebra, constante caminheiro de terras dissidentes, entre católicos e protestantes, e contínuo correspondente de tantos que lhe escreviam, já não bastava ser assim. Mais do que apartar-se do mundo, era no mundo que importava estar e exercitar-se, na união a Deus e no testemunho cristão.

Para isso escreveu esta obra em 1608 e a reviu depois. Como ele próprio esclarece no prefácio: “Os que até hoje trataram da devoção, quase todos tiveram em vista instruir as pessoas que vivem muito arredias e avessas ao trato e comércio do mundo, ou pelo menos ensinavam uma espécie de devoção que leva a esse total retiro. Pelo contrário, eu quero instruir e guiar os que vivem nas cidades, no seio da família, na Corte e palácios dos grandes…”. Aí mesmo, onde a vida ganhara mais dispersão e contraste no respeitante a convicções e costumes, aí mesmo se devia revigorar o amor a Deus e ao próximo, na densidade espiritual de cada um: “Dirijo as minhas palavras a Filotea, […] porque Filotea quer dizer amante ou enamorada de Deus”.

A obra nasceu por isso teórico-prática, sendo toda a devoção um sentimento exercitado. Tira, se assim quisermos, toda as consequências duma autêntica conversão. E assim prossegue, de passo em passo, em cinco partes: na primeira, contêm-se “os avisos e exercícios necessários para levar a alma desde o seu primeiro desejo de vida devota até uma absoluta e formal resolução de abraçá-la”. Entrevê-se que a exigência de mudança espacial, entre o mundo e o claustro, se alarga agora à resolução firme de aperfeiçoamento espiritual, para viver com Deus no mundo.

Na segunda parte visa-se a elevação da alma a Deus, pela oração e os sacramentos; na terceira, a consequente prática das virtudes, nas situações mais concretas do dia a dia de qualquer um; na quarta, avisos contra tentações correntes; e na quinta deixam-se mais “exercícios e avisos para renovar a alma e confirmá-la na devoção”.

A terminar, Francisco de Sales responde de avanço à objecção de que proporia de mais para gente comum. Na verdade, o que sugere de oração mental, meditação particular e práticas concretas para crescer na verdadeira devoção – ou vida espiritual, como diríamos hoje - já parecia demasiado naquela altura… Para ele tratava-se, apenas, de propor o que Cristo propõe a qualquer seguidor generoso. Requerendo, isso sim, uma auto-definição que marque o tempo com prioridades assumidas e distinga no espaço público uma personalidade singular: “Os filósofos alardeavam de filósofos, para que os deixassem viver filosoficamente; e nós devemos dar-nos a conhecer como amantes da devoção, para que nos deixem viver devotamente”.

A isto mesmo se chamaria hoje vida exemplar, evangelicamente assumida e manifestada no mundo. Vida baptismal também, na vocação comum à santidade. E concluindo deste modo: “Enfim, caríssima Filotea, peço-te encarecidamente por tudo o que há de sagrado no Céu e na terra, pelo Baptismo que recebeste, […] continua e persevera nesta bem-aventurada empresa da vida devota…”.

Chegarão talvez estas linhas para reforçar a oportunidade da reedição da Introdução à vida devota, quando queremos redobrar a presença evangélica no mundo, quatrocentos anos depois de S. Francisco de Sales a ter escrito. Será o texto mais paradigmático da espiritualidade moderna nos seus alvores. É certamente um profundo e belo contributo para crescermos em Deus para o mundo.

 

Prefácio: D. Manuel Clemente
In Introdução à Vida Devota, ed. Voz Portucalense
24.01.13

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S. Francisco de Sales


























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