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Exposição

Lugares de Santiago

O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja inaugura a 5 de fevereiro, no Museu de Arte Sacra de Grândola, a exposição "Loci Iacobi - Lugares de Santiago, Lieux de Saint Jacques".

A iniciativa, realizada em parceria com a Secretaria Xeral para o Turismo da Xunta de Galicia (Espanha) e a Communauté d'Agglomération du Puy-en -Velay (França), reúne obras de arte antiga e contemporânea provenientes de museus e igrejas dos três países envolvidos na mostra, refere uma nota do Departamento do Património da diocese de Beja enviada ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

A exposição, que inclui pela primeira vez, numa iniciativa de arte sacra, um cartoon de Luís Afonso, intitulado "Caminhos de Santiago", coincide com a inauguração do Museu de Arte Sacra, instalado na igreja de S. Sebastião.

Abrangendo cerca de três dezenas de obras de arte, da época medieval ao século XXI, a iniciativa parte de uma reflexão acerca das raízes da peregrinação para revisitar alguns dos seus espaços privilegiados Trata-se de um percurso aberto que tem o epicentro na reconstituição virtual da catedral de Compostela. A presença de um fragmento do coro românico desta igreja, esculpido sob a direção de Mestre Mateo, o autor do Pórtico da Glória, fá-lo ainda mais palpitante.

Na escolha dos eixos nucleares da exposição transparece uma empatia muito especial, pondo em confronto a figura histórica de Santiago, que Herodes fez “matar à espada” no ano 43, e os seus tipos lendários – o peregrino e o guerreiro.

FotoFrancisco Borba, Porta do Paraíso (2008)

Sobressaem as interpretações que a tradição artística fez de personalidades tão díspares, embora complementares. Noutro plano, a dimensão profundamente humana da peregrinação revela-se em curiosos testemunhos da religiosidade quotidiana, como as colheres com a imagem do apóstolo, dotadas de bordas afiadas, que podiam substituir a faca para cortar alimentos, ou as joias talhadas em azeviche, um característico fabrico compostelano, tendo essa mesma imagem em lugar de honra.

Entre as obras-primas presentes na exposição sobressaem as vindas do Museo das Peregrinacións, de Compostela, do Musée Crouzatier, de Le Puy, e de igrejas e museus do Alentejo (com realce para Beja, Moura e Santiago do Cacém).

Lado a lado podem apreciar-se conchas de vieira que acompanharam no túmulo peregrinos enterrados em cemitérios medievais da Auvérnia e pinturas de mestres como David Teniers II. Ou uma “Sagrada Família Peregrina”em prata, executada no México durante o período colonial, a pouco distância de uma escultura de Joana Vasconcelos.

FotoConchas de peregrino da época medieval (Le Puy-en-Velay)

O desafio de aproximar obras do passado e da vanguarda constitui, de resto, um dos fios condutores da exposição, que deixa velhos preconceitos à porta. “Caminhos de Santiago”, cartoon de Luís Afonso realizado em 2010 para a exposição, dá o mote para isto, mostrando a importância assumida pelo desenho humorístico na arte dos nossos dias. A sua integração dentro de um contexto dominado pelo património sacro não deixa de ser reveladora das metamorfoses ocorridas na maneira de abordar as questões religiosas.

 

Grândola na rota dos peregrinos

Sita num cruzamento de caminhos, Grândola deve a sua origem e o seu florescimento à posição estratégica. Convergem também aqui vários tramos do Caminho de Santiago, em particular o mais conhecido, que vem do Cabo de São Vicente e toca Odemira, Santiago do Cacém e Alcácer do Sal. A terra, outrora com o nome de Bendada, foi importante ponto de apoio aos peregrinos que tinham feito a dura travessia da serra do mesmo nome. Para o seu acolhimento existiu um pequeno hospital quinhentista, a cargo da Misericórdia.

ImagemEgid von Kobell, Santiago Apóstolo (1819)

Quando a ermida de São Sebastião foi construída, em pleno século XVI, num arrabalde da vila, junto à estrada real, para proteger a comunidade local da peste, transformou-se de imediato numa referência para quem percorria o Caminho de Santiago e passava à sua beira. Este antigo santuário de romagem, que serviu também para velar os mortos, retomou agora, por iniciativa da paróquia local, em colaboração com a Diocese e o município, uma nova centralidade, hospedando o mais recente pólo da rede museológica da Diocese de Beja.

 

O Caminho de Santiago e a Europa

Quando a decadência do império romano, a partir do século V, facilitou a expansão do regime feudal, proliferaram na Europa os poderes descentralizados, a agricultura de subsistência e a economia baseada em trocas diretas, quase sem comércio. Durante boa parte da Idade Média, viajar de região em região tornara-se cada vez mais difícil – a não ser quando se obtinha o salvo-conduto da Igreja, a única “internacional” que ficou de pé. Com a anexação da Península Ibérica e de vasta extensão da bacia do Mediterrâneo aos domínios islâmicos, em 711, esta situação ganhou ainda maior complexidade. Uma das raras exceções que permitiam ultrapassar fronteiras, inclusivamente em áreas sob tutela muçulmana, era a peregrinação aos lugares santos.

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ImagemLuís Afonso, Caminhos de Santiago (2010)

O Caminho de Santiago, iniciado no século IX, representa a prova viva disto, acabando por contribuir decisivamente para a descoberta de uma unidade europeia face à multiplicação de pequenas soberanias. Ao túmulo do apóstolo Santiago Maior – que a tradição situa em Compostela, exatamente onde depois se lhe edificou a catedral – afluíam peregrinos de toda a Europa, desde a Escandinávia e a Rússia até às Ilhas Britânicas e à Grécia. A passagem destes caminhantes, protegida por leis eclesiásticas e civis, trouxe em muitos sítios a melhoria das infraestruturas viárias, incluindo pontes, meios náuticos e albergues. Pouco a pouco, o território europeu abriu-se à circulação de pessoas, mercadorias e ideias. Foi um sinal de esperança para as nações divididas.

Ao classificar o Caminho, em 1987, como “Primeiro Itinerário Cultural Europeu”, o Conselho da Europa reconheceu o excecional papel da peregrinação compostelana na construção de uma identidade comum. Entretanto, o aumento espetacular do número de viandantes oriundos de outras partes do mundo que se verificou nas últimas décadas do século XX viria reforçar a escala internacional do fenómeno jacobeu, assinalada pela UNESCO com a atribuição do título de “Património da Humanidade”ao Caminho em Espanha (1993) e França (1998). Ultimamente está-se a acentuar o pendor para a globalização. São cada vez mais os peregrinos oriundos da Austrália, Brasil, Estados Unidos e Japão.

 

Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja / SNPC
30.01.11

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