O que é que procuras?
- O que é que procuras?
- Não ouso dizê-lo.
- O que é que procuras?
- Não posso dizê-lo – é impossível.
- O que é que procuras?
- Deus.
- Sabes o que ele é?
- Não.
- Sabes ao menos como encontrá-lo?
- Não.
- Então é uma busca desesperada...
- Não.
- Como assim, se não sabes encontrá-lo?
- Procurá-lo, é encontrá-lo. Assim falam os velhos mestres.
- Ah! Assim ficas seguro. Encontraste-o.
- Não.
- Como assim?
- Encontrá-lo é procurá-lo.
- Ainda a palavra dos velhos mestres?
- Sim.
- Suponhamos que as tuas palavras têm um sentido. A que poderão conduzir-nos?
- Ao silêncio?
- Sim.
- Então a palavra morre...
- Não. O silêncio é irmão da palavra, a palavra é irmã do silêncio.
- Pois bem, fala!
- Direi sobre isso o que posso dizer, como que por outros caminhos, e provisoriamente, e com o sentimento irreprimível de passar para alem do limite que se impõe aos humanos.
- Mas é preciso, não é?
- Sem dúvida.
- Assim esperas perder-te em Deus, longe das preocupações dos homens e na bem-aventurada solidão do que está só, contemplando o inefável...
- O meu Deus não está aí.
- Isso é verdade? Mas como o sabes se não sabes o que ele é?
- Sei o que ele não é.
- Então, ele nada é para nós e não muda nada a nada.
- Ele transforma tudo em tudo.
- Podes explicar-me? Porque é obscuro... Mas sê breve. A teologia é demasiadas vezes uma efusão de considerações sem fim, gosta o interminável, é a sua maneira de respeitar o infinito!
- Tranquiliza-te, serei breve. E humilde, tanto quanto seja possível: porque se há um tema em que a humildade do pensamento é necessariamente exigida, é justamente este.
Maurice Bellet
in Dieu, personne ne l'a jamais vu, Ed. Albin Michel, 2008
Trad.: Maria do Loreto
© SNPC (trad.) | 19.02.2009
Topo | Voltar | Enviar | Imprimir