Padre António Vieira para crianças
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada assinam mais nove edições da revista “Na Crista da Onda” dedicadas a escritores portugueses. Padre António Vieira é o destaque desta série, publicada pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas. A obra, lançada no ano em que se comemora o quarto centenário do nascimento do maior pregador português, visa promover a necessidade de uma disponibilidade de espírito para o conhecimento do outro, para a compreensão das injustiças sociais e para os direitos humanos. Questões sempre presentes na vida e obra de António Vieira.
Dirigidos às crianças do 1.º e 2.º ciclos (entre os 6 e os 12 anos), os livros apresentam a informação indispensável a um primeiro contacto com os autores que revelam. A saber: Eça de Queirós, Damião de Góis, Florbela Espanca, Almeida Garrett, Bocage, Cesário Verde, António Gedeão/Rómulo de Carvalho e Júlio Dinis.
Depurados, simples, com linguagem muito acessível num discurso sempre sério (eminentemente pedagógico, como é óbvio), os textos avançam passo a passo através de capítulos-chave na vida e obra dos escritores, apenas mareados por subtítulos, o que torna a leitura mais fácil, permitindo as pausas e a pesquisa dos temas que mais interesse suscitam à criança. Recheados de curiosidades relativas ao homem por detrás do escritor (a teima de António Vieira em ser padre, sempre contrariada pelos pais, ou o tempo de antecedência com que as pessoas chegavam à Igreja de São Roque, em Lisboa, para marcar lugar para o ouvir pregar, por exemplo, revela-se um truque bem conseguido para atrair a atenção dos mais pequenos), os livros avançam a par de uma contextualização permanente com a conjuntura histórico-social que acompanhou a vida de cada autor. Também nesse campo, realce para as notas de rodapé, explicando cada termo mais complexo ou menos comum (o que significa retórica, a disciplina que António Vieira começou a leccionar aos 19 anos...).
Os excertos das obras mais significativas dos escritores ou daquelas que mais próximo se colocam dos interesses das crianças é outra arma fulcral utilizada pelas autoras (nota para o “Sermão de Santo António aos Peixes”). São excertos curtos, alguns com explicações prévias sobre a obra, o seu significado e importância, que servem de isco para captar um novo leitor.
Como elemento pedagógico importante, relevo para a cronologia esquematizada, disponível no final do livro e que coloca lado a lado os episódios de vida do autor e os acontecimentos da História de Portugal ano a ano.
Só as ilustrações é que ficam aquém da expectativa de qualquer miúdo. São demasiado pobres para conseguirem levar o seu objectivo a bom porto. Dificilmente uma criança se interessará pelos livros se os folhear apenas. É que a imagem, que lhe deveria encher os olhos e fazer ter vontade de saber que história ilustra, surge-lhe desactualizada e distante, numa época em que os livros infantis são cada vez mais pontuados por grandes ilustrações e elementos visuais tão, senão mesmo mais, valorizadores da obra.
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Alexandra Carita
in Expresso (Actual), 01.03.2008
04.03.2008
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