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Leitura: "100 entradas para um mundo melhor"

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Leitura: "100 entradas para um mundo melhor"

Publicado pela Lucerna, chancela da editora Principia, "100 entradas para um mundo melhor" «compila alguns dos textos mais significativos que o Pe. Vítor Feytor Pinto preparou nos últimos anos enquanto pároco da Igreja Dos Santos Reis Magos, no Campo Grande», em Lisboa.

Com este volume amplia-se o auditório das reflexões «sobre temas tão variados como os momentos mais significativos do ano litúrgico, a dúvida, a conversão, a comunicação social, as diversas facetas da missão social e apostólica dos cristãos, a unidade da Igreja ou as vocações e os valores cristãos», explica a nota de apresentação do livro.

«Ouvir o meu pároco interpela-me e simultaneamente responsabiliza-me - e que posso dizer de mais "definitivo" que isto? Atrevo-me mesmo a julgar que ninguém sai indiferente das suas Eucaristias», escreve a jornalista Maria João Avillez no prefácio.

«Sabemos que o verbo do Padre Vítor atende ao mais essencial, ao mais fulcral do Verbo Divino. Por isso, ao ouvi-lo de cada vez transformar o Evangelho num convite a melhor vivermos e testemunharmos aquilo que nos compete ser e testemunhar, talvez cresçamos um bocadinho», assinala.

«Não se estranhe que eu lhe admire dons e capacidades, que goste de falar com ele, que o entreviste nos média, ou que lhe tenha proposto este livro. E que olhe para ele com um olhar - e um coração - que querem ver mais longe», acrescenta.

Ordenado padre há 59 anos, Vítor Feytor Pinto coordenou a Pastoral da Saúde em Portugal, departamento a que esteve ligado durante mais de três décadas, integra o Conselho Pontifício para os Profissionais da Saúde e é membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, entre outros cargos na mesma área de ação.

 

A linguagem dos gestos
P. Vítor Feytor Pinto
In "100 entradas para um mundo melhor"


1. O ser humano é um ser simbolizador. Através de sinais, a pessoa humana comunica com os outros, transmite mensagens, significa alegria ou tristeza, revela sentimentos de ternura ou de ódio, manifesta desprezo ou carinho, abre-se a todos ou fecha-se sobre si mesma mostrando, nas mais pequeninas coisas, o que lhe vai no coração. Como simboliza?

- Pela expressão, uma vez que o rosto é o espelho da alma, nas lágrimas como nos sorrisos;

- Pelas palavras, traduzindo na linguagem tudo o que a inteligência e o coração construírem;

- Pelo beijo, pelo aperto de mão, pelo abraço que podem ser apenas um cumprimento, mas que muitas vezes são o princípio de uma comunhão;
- Pelos sinais exteriores – a arrumação da casa, a marca do automóvel, a forma de vestir… – tornados símbolos de poder económico, de cultura ou de sensibilidade.

De muitas formas se apontam os caminhos, se desdobram preocupações, se proporcionam cuidados, se abrem perspetivas de esperança, como de outras tantas formas se projetam desesperos, se provocam violências, se matam os sonhos, se fecham as portas de promessas não concretizadas. O ser humano vive de símbolos que acabam por dar sentido à vida.

2. Tome-se um bom exemplo: o Natal e os seus símbolos. Quando chega dezembro, as ruas enchem-se de estrelinhas, os jardins veem nascer presépios, as lojas têm músicas de inconfundível beleza e os «pais natal» contam histórias às crianças, enquanto os centros comerciais regurgitam de gente e nas grandes empresas se preparam festas de um convívio único, com votos amigos de boas festas. É o Natal com os seus símbolos sociais.

Mas há símbolos verdadeiros:

- O presépio com musgo ainda húmido, onde aparecem as figurinhas de barro a falar de Jesus, Maria e José aquecidos pelo bafo quente dos animais;

- A árvore de Natal com luzinhas que se acendem a apagam, como que a sorrir, chamando os pequeninos para seu redor, a celebrar a vida que o verde do pinheiro torna perene;

- A fogueira à porta das igrejas, uma lareira com labaredas altas quase a aquecer os crentes que entram e saem da Missa do Galo;

- A consoada em famílias, com o bacalhau e as rabanadas, uma refeição igual para os pobres e os ricos;

- Os presentes e os cartões de boas festas, expressão simples de que os tempos que passam na roda do ano não fazem esquecer a amizade nascida num dia qualquer e alimentada em cada Natal.

Tudo símbolos desta quadra festiva, rica de sinais que é necessário manter verdadeiros. Infelizmente, estes gestos maravilhosos são tantas vezes «estragados» pela linguagem ritual de um marketing obrigatório que joga com outros interesses. Também aqui o hábito mata o sonho, a rotina compromete a relação, a obrigação destrói o amor. É urgente reinventar, com verdade, os símbolos do Natal de sempre, e este centrado no nascimento de Jesus.

3. Os nossos gestos, expressão de amor, são o anúncio claro de Jesus. Não basta dizer que se acredita em Jesus Cristo, Filho de Deus. Não basta acreditar que Ele nasceu em Belém, da Virgem Santa Maria. Não basta acreditar que o Menino veio realizar o sonho dos profetas e a esperança do povo eleito. Não basta. É preciso fazê-l’O nascer hoje:

- No ambiente da nossa casa, onde é importante construir a harmonia e a paz, pelo diálogo constante, pelo perdão e a reconciliação, pela entreajuda e a ternura com atenção aos mais fracos, às crianças e aos idosos;

- No prédio, na rua, no bairro, com preocupações de vizinhança, indo ao encontro de quantos ali, ao nosso lado, estão em solidão, ou enfermos, ou até com fome e sede;

- Na grande cidade onde se multiplicam os sem-abrigo, os imigrantes, os meninos de rua, a par dos toxicodependentes, das prostitutas, dos sem-família, tudo gente que precisa de gente;

Em todo o lugar onde é urgente ensaiar a parábola da partilha: o meu pouco é muito para quem nada tem.

De que valerá participar em vendas de Natal, na construção de cabazes para a consoada, na multiplicação de gestos rotineiros, se não descobrirmos que «o outro é meu irmão»?

 

Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 16.12.2014

 

Título: 100 entradas para um mundo melhor
Autor: Vítor Feytor Pinto
Editora: Lucerna (Principia)
Páginas: 270
Preço: 15,00 €
ISBN: 978-989-851-687-9

 

 
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De muitas formas se apontam os caminhos, se desdobram preocupações, se proporcionam cuidados, se abrem perspetivas de esperança, como de outras tantas formas se projetam desesperos, se provocam violências, se matam os sonhos, se fecham as portas de promessas não concretizadas. O ser humano vive de símbolos que acabam por dar sentido à vida
Infelizmente, os gestos maravilhosos são tantas vezes «estragados» pela linguagem ritual de um marketing obrigatório que joga com outros interesses. Também aqui o hábito mata o sonho, a rotina compromete a relação, a obrigação destrói o amor. É urgente reinventar, com verdade, os símbolos do Natal de sempre, e este centrado no nascimento de Jesus
Não basta dizer que se acredita em Jesus Cristo, Filho de Deus. Não basta acreditar que Ele nasceu em Belém, da Virgem Santa Maria. Não basta acreditar que o Menino veio realizar o sonho dos profetas e a esperança do povo eleito. Não basta. É preciso fazê-l’O nascer hoje
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