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A Cultura no culto à Rainha Santa

Imagem Procissão com imagem da Rainha Santa Isabel | Coimbra, 2016 | © Câmara Municipal de Coimbra

A Cultura no culto à Rainha Santa

Qual a origem da popularidade do culto à Rainha Santa, que atravessa séculos da nossa História? A Rainha Santa não deixou obra escrita, nem textos doutrinários. A eloquência da sua obra reside antes na sua prática de vida, na assunção de valores cristãos, na sua interiorização e na repartição desses mesmos valores, que se congregam, como uma coroa de rosas, em torno de um núcleo a partir do qual irradia tudo o mais: o amor divino, nessa relação biunívoca de Deus para o ser humano, que procura retribuir com o amor a Deus.

O cap. 25 do Evangelho de S. Mateus constitui a doutrina orientadora que Santa Isabel tomou para si: «Vinde, benditos de meu Pai! (…). Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.» (…) «Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?» (…) «Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes».

Centralizando toda a sua existência no amor a Deus, Santa Isabel vê a imagem de Cristo em todo o irmão carente e pratica a caridade ("caritas"/amor) com espírito de amor autêntico, zelando pelo próximo com o mesmo grau com que ama a Deus, fechando, assim, o círculo virtuoso que lhe confere uma aura de santidade que perdura através dos tempos.

Tal como os valores do Evangelho são sempre atuais, independentemente do avanço da ciência, da evolução da História, com as alterações inerentes das circunstâncias sociais e das conjunturas políticas, também a devoção a uma das mais sublimes e emulativas figuras da santidade em Portugal (e não só), que conformou a sua vida com a mensagem do Evangelho não perde atualidade e torna-se mais presente nos momentos de maiores dificuldades.

D. Isabel de Aragão foi elevada aos altares porque provou, com a sua vida, que o amor fraterno, a harmonia e o convívio pacífico entre povos e raças, sem distinções sociais – no fundo, os ideais evangélicos almejados pela doutrina joaquimita da idade do Espírito Santo –, não são utópicos, desde que a nossa atuação seja plenamente imbuída do genuíno amor evangélico.

Celebrar a Rainha Santa será sempre uma oportunidade de nos deixarmos tocar pela infinita bondade de Deus, através de uma das suas servas que mais O amou na multiplicidade de formas em que o amor divino se reparte. Do mesmo modo, o culto à Rainha Santa ultrapassa as importantes manifestações cultuais que revemos um pouco por todo o mundo lusófono e hispânico, mas extravasa esse âmbito espiritual e religioso, numa rica e variada plêiade de manifestações artísticas transversais, da literatura às artes plásticas, num registo paradigmático igualmente diversificado, que desdobra os níveis das primeiras em nuances culturais que vão das mais eruditas às mais populares.

Compreender a mensagem da devoção à Rainha Santa é apreender a mensagem do Evangelho. Aprofundar o estudo do culto e das suas manifestações artísticas é seguramente uma forma de proporcionar aos seus devotos instrumentos e pistas que lhes permitam passar do mero devocionismo a um nível de mais profunda e autêntica espiritualidade evangélica. Deve ser esse o objetivo de qualquer instituição religiosa. Só assim se justifica o culto aos santos.

A beleza da cultura associada à devoção à Rainha Santa merece, por isso, continuar a ser estudada das mais diversas formas, que ultrapassam o espaço cultual e religioso, seja através da promoção de congressos, de exposições, de palestras, de concertos, de produção bibliográfica, de espetáculos, de conferências…

Em 1560, quando a Confraria da Rainha Santa Isabel foi criada, o seu objetivo principal era o de prestar culto à sua padroeira, organizando duas procissões anuais, além da oração pelos irmãos e benfeitores, vivos e defuntos, e assistência aos irmãos mais carenciados, sobretudo na doença e na morte. Hoje, além destes três objetivos, a Confraria tem a obrigação moral de zelar pelo bem-estar espiritual e salvação dos nossos irmãos transformando-se em «escolas populares de fé vivida e centros de santidade», como preconizava o Papa Bento XVI em 2007 (numa audiência aos Membros das Confrarias das Dioceses Italianas), pois essa é a forma de as confrarias e irmandades continuarem a ser na sociedade «levedura» e «fermento» evangélico, contribuindo para suscitar aquele despertar espiritual que todos desejamos. Bento XVI terminava encorajando os membros das Confrarias e Irmandades a multiplicar as iniciativas e atividades de cada uma destas associações de fiéis:

«Peço-vos sobretudo que cuideis da vossa formação espiritual e que tendais para a santidade, seguindo os exemplos de perfeição cristã autêntica, que não faltam na história das vossas Confrarias.»

A Rainha Santa Isabel é um dos exemplos mais eloquentes de autenticidade na vivência da fé cristã. A sua Confraria tem, por isso, motivos de sobra para prosseguir nesta senda da formação espiritual também pela vertente cultural, que é também a da valorização da espiritualidade na criação cultural e, mesmo, a da formação espiritual através da cultura.

 

De 16 de julho a 30 de outubro realiza-se a exposição «Iconografia isabelina - Representação e devoção», por ocasião dos 500 anos da beatificação de Santa Isabel, que se assinalam em 2016. A mostra estará patente em dois espaços: núcleo 1: "A Rainha Santa no Paço Real" (Universidade de Coimbra, Pátio das Escolas); núcleo 2: "A Santa Rainha no Real Mosteiro" (Mosteiro de Santa Clara-a-Nova).

 

António Manuel Ribeiro Rebelo
Presidente da Confraria da Rainha Santa Isabel
Publicado em 14.07.2016

 

 

 
Imagem Procissão com imagem da Rainha Santa Isabel | Coimbra, 2016 | © Câmara Municipal de Coimbra
Compreender a mensagem da devoção à Rainha Santa é apreender a mensagem do Evangelho. Aprofundar o estudo do culto e das suas manifestações artísticas é seguramente uma forma de proporcionar aos seus devotos instrumentos e pistas que lhes permitam passar do mero devocionismo a um nível de mais profunda e autêntica espiritualidade evangélica
Quando a Confraria da Rainha Santa Isabel foi criada, o seu objetivo principal era o de prestar culto à sua padroeira, organizando duas procissões anuais, além da oração pelos irmãos e benfeitores, e assistência aos irmãos mais carenciados, sobretudo na doença e na morte. Hoje, além destes três objetivos, a Confraria tem a obrigação moral de zelar pelo bem-estar espiritual e salvação dos irmaos
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