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Televisão: A família de “This is us"

Há uma série televisiva que envolveu e comoveu os EUA e que tem conquistado muitos apaixonados noutros países. “This is us”, transmitida em Portugal no canal Fox Life, atualmente na 3.ª temporada, parte de um conceito de Dan Fogelman, e conta a vida da família Pearson, entre filhos naturais e adotados, brancos e negros, desenvolvendo-a em vários níveis temporais. O percurso vai dos anos Oitenta, quando a história começa, aos nossos dias.

Os protagonistas são um casal de pais e os seus três filhos. Histórias diferentes, com alguns pontos em comum, todas destinadas a entrecruzar-se, enquanto que a contínua alternância entre presente e passado, além de permitir algumas surpresas, favorece a análise psicológica das personagens, colocando em evidência as relações interpessoais, sobretudo entre filhos e pais, mas também as insatisfações pelos sonhos não realizados ou a procura da mudança.

O desfasamento temporal permite também acrescentar mosaicos que esclarecem as razões das novas dinâmicas e dos novos equilíbrios que se criaram ao longo dos anos. Por outras palavras, os momentos cruciais, as reviravoltas e as opções que deram uma direção à vida dos protagonistas para um determinado sentido em vez de um outro. Se as escolhas foram acertadas ou erradas, isso é avaliado a longo prazo, com disponibilidade para remediar aquilo que não foi bem decidido.



Apesar de todos os limites de uma ficção televisiva, “This is us" é uma das não muitas séries que abordam sem distorções particulares o tema da família. Não será por acaso que nos EUA seja transmitida pela NBC, que já tinha apresentado “Parenthood” (igualmente disponível em Portugal pela Fox Life), outro caso de um drama familiar inovador



“This is us” é uma série realizada com boa técnica e trama envolvente, que tem a virtude de narrar o ser humano no contexto da família através do casamento, a relação entre pais e filhos ou entre irmãos, a doença e até a morte. Tudo isto é apresentado sem concessões, narrando a complexidade da vida, com muito realismo, mas também com muita humanidade. Por um lado pode acusar-se um pai de ter despedaçado o sonho de um filho; por outro o filho admite que deve ao pai a sua força. Entretanto, todos aprendem a partilhar alegrias, perdão, coragem e esperança, felicidade e amor, guiados, como na vida real, por emoções e sentimentos.

É verdade que a televisão tende a simplificar, a reduzir ao denominador mínimo comum os problemas, para os exagerar ou diminuí-los de acordo com as necessidades. Também é verdade que não há nesta série, como noutras, uma referência explícita à transcendência ou a uma moral mais convincente, e não faltam sequer elementos discutíveis, mas pelo menos há a procura das próprias raízes, a fidelidade, a abertura à vida, a partilha. Valores que, ainda que apresentado de maneira laica, podem criar um húmus positivo para uma reflexão que pode ir bem mais além do que a contingência de uma série televisiva.

Também não se deve subestimar o corte transversal da sociedade americana que, de alguma forma, está em segundo plano, aludindo para questões importantes como a integração, os direitos civis, as repercussões internas das guerras travadas fora das fronteiras, e questões éticas, morais e políticas.

Apesar de todos os limites de uma ficção televisiva, “This is us" é uma das não muitas séries que abordam sem distorções particulares o tema da família. Não será por acaso que nos EUA seja transmitida pela NBC, que já tinha apresentado “Parenthood” (igualmente disponível em Portugal pela Fox Life), outro caso de um drama familiar inovador, com boa escrita e bom ritmo, que narra as vidas de quatro irmãos (dois homens e duas mulheres) com os seus cônjuges, os seus filhos e os seus pais, apontando para a solidariedade familiar e a tentativa de diálogo entre as gerações, mas também para a aceitação da gravidez e da maternidade.

A família pode estar em crise, mas continua a ser uma grande fonte de inspiração para a televisão, por vezes com bons resultados.


 

Andrea Fagioli
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 11.04.2019

 

 
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