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A «loucura divina» de Santa Jacinta Marto

«A Jacinta nasceu a 5 de março de 1910, às quatro horas da tarde, em Aljustrel, uma aldeia da paróquia de Fátima. Sétima e última filha de Manuel Pedro e Olímpia de Jesus, ela faz a alegria de toda a família. Ela faz sobretudo a alegria de seus pais, que a Lúcia conheceu muito bem: “Recebiam todos os filhos, que o Senhor lhes quisesse conceder, não como uma carga, mas como mais um dom com que Deus enriquecia as suas casas, mais uma vida a prolongar a deles pelos tempos além, mais uma flor a desabrochar no seu jardim, a perfumá-lo e a alegrá-lo com os mais variados aromas e tons da juventude fresca e sorridente, mais uma alma que Deus confiava a seus cuidados” (LÚCIA, 2002: 40). E a Lúcia acrescenta: “No coração dos filhos, o que mais se grava é aquilo que sorveram nos braços paternos e no regaço da mãe. Nada há que possa dispensar os pais desta missão sublime que Deus lhes confia” (Ibid.: 164). Os pais da Jacinta são recompensados, conforme reconhece Manuel: “A Jacinta! Foi sempre muito mansinha! Neste jeito, era uma coisa muito admirável. Do jeito dela não criámos mais nenhum!” (MARCHI, 2011: 22). Eles serão ainda mais recompensados quando se aperceberem que, apesar do seu descontentamento inicial bem compreensível, Nossa Senhora escolhera os seus dois filhos mais novos para lhes aparecer.»

«Doce, afetuosa e comunicativa, a Jacinta tem um sentido profundo da amizade, conforme atestam certos testemunhos deslumbrantes como este: “A amizade que a unia à sua prima Lúcia era uma amizade que raras vezes se encontra entre crianças: nenhum dos sentimentos peculiares às amizades infantis, como a emulação e a inveja, a enlaivava. Só lhe sabia bem quando brincava com a Lúcia, e o dia que passasse longe dela era de tristeza, um dia perdido. [...] Tão profundamente o coraçãozito da Jacinta estava tão preso à Lúcia que, sendo esta já mulherzinha [...] e tendo de deixar os folguedos para ganhar o pão pastoreando, a Jacinta não conseguiu conformar-se com tal ideia e tanto fez que a mãe, por fim, acabou por lhe entregar também umas ovelhitas para lhe proporcionar a alegria de passar os dias na companhia da sua terna amiguinha” (MARCHI, 2011: 22). Não podemos deixar de lembrar também aqueloutro relato, igualmente admirável: “Poucas vezes terá florescido na terra entre duas crianças amizade mais pura, profunda e santa” (LEITE, 1999: 289). A Jacinta sente esta mesma ternura, tão comovente quanto delicada, para com o seu irmão, do qual se sente muito próxima espiritualmente e com quem está totalmente à vontade. Quanto ao Francisco, é incapaz de recusar seja o que for à irmã. E, sempre que é preciso, apressa-se a confortá-la com muito carinho. Como eles teriam gostado do que diz a Escritura: «Um amigo fiel é uma poderosa proteção, quem o encontrou, descobriu um tesouro” (Sir 6,14-16).»



«“Christian Bobin afirma que ‘a doença é ausência de caminho, a incerteza dos itinerários’, ao ponto de nos levar a sentirmo-nos inúteis e pesados para os outros. Mas não parece ser esse o caso da Jacinta, durante a sua doença, porque é manifesto que não deixa que essa experiência represente para ela uma ausência de caminho»



«“A Jacinta possuía uma alma requintada, cheia de finíssimos sentimentos. Amava as ovelhas e designava a cada uma delas pelo seu nome, [...] e os cordeiritos brancos eram o seu enlevo. [...] Amava as flores [...] na serra que fartura, que riqueza, especialmente na primavera! [...] Era um alvoroço quando descobria as primeiras rosas albardeiras. [...] Amava as estrelas, a que chamava ‘as candeias dos Anjos’, e desafiava a prima e o irmão a que contassem maior número do que ela. Amava o Sol que doira a serra com os seus raios esplendorosos. Amava ainda mais a claridade da Lua, ‘a lâmpada de Nossa Senhora’, como ela também lhe chamava, porque, como dizia, a lua não faz mal ao olhar. Quando a lua era cheia corria a dar a boa nova. [...] Amava os montes e tudo o que de belo criou o Divino Artífice” (MARCHI, 2011:23-24). Mas qual é a razão profunda desta admiração sem limites por todos os seres vivos e criados? A Escritura explica-nos: “Com efeito, pela grandeza e beleza das criaturas, pode-se, por analogia, chegar ao conhecimento do seu Autor” (Sb 13, 5). Nesta linha, a Irmã Lúcia acrescenta: “Toda a natureza foi criada para nos falar de Deus e revelar-nos a grandeza do mistério de Deus.” E sublinha: “Se quisermos escutar, toda a obra criada nos fala de Deus criador” (LÚCIA, 2002: 118-119).»

«“A predição de Nossa Senhora – anunciando à Jacinta que seria de novo hospitalizada e que iria sofrer muito – estava a ponto de se cumprir. Na véspera da partida, sabendo que ia deixar Fátima para sempre, Jacinta pediu à mãe que a levasse à Cova da Iria. Embora visse a filha magríssima, duma palidez cadavérica, a arder em febre e a tremer de frio, Olímpia aceitou e colocou a pequena em cima duma jumentinha. Ao chegar a certa distância da Cova da Iria, Jacinta apeou-se: para maior penitência e mais respeito e devoção a Nossa Senhora, quis fazer a última parte do caminho a pé. Colheu um ramo de flores e, rezando o terço, foi dirigindo os seus passos trémulos para o local abençoado. Ali depôs com todo o carinho e amor o ramo de flores – símbolo da sua vida, toda ela uma flor aos pés de Maria; ali se demorou em recolhida e fervorosa oração. Com que saudade e tristeza se apartou daquele lugar bendito, onde cinco vezes tinha ouvido a suave e meiga voz da Mãe do Céu e onde seus olhos se extasiaram na contemplação daquela “Senhora tão linda”, daquela “Senhora tão nossa amiga”, como a pequenita candidamente se exprimia” (Leite, 1999: 288-289).»



«De tal maneira Deus amou os homens deste século, que lhes deu esta maravilha, este milagre vivo que é a Jacinta, tão identificada com Jesus, no seu amor a Deus e no seu amor aos homens. Nós, os homens de hoje, temos necessidade desta loucura divina, bem patente na vida da Jacinta»



«Chegou o dia 21 de janeiro, dia da partida da Jacinta – partida que ela sabia ser a derradeira – para o hospital, em Lisboa. Uma partida amarga: “A despedida cortava o coração. Permaneceu muito tempo abraçada ao meu pescoço e dizia, chorando: – Nunca mais nos tornamos a ver! Reza muito por mim, até que eu vá para o Céu. Depois, lá, eu peço muito por ti. Não digas nunca o segredo a ninguém, ainda que te matem. Ama muito a Jesus e o Imaculado Coração de Maria e faz muitos sacrifícios pelos pecadores!” (LÚCIA, 2007: 63-64). “Estas foram as suas últimas palavras, o testamento que ela deixava à sua amiga predileta. E também a mensagem que ela nos deixa a todos e cada um de nós: ‘Ama muito a Jesus e o Imaculado Coração de Maria e faz muitos sacrifícios pelos pecadores!’ Naquela manhã triste e fria de 21 de janeiro de 1920, Jacinta deixou para sempre Fátima, a terra em que despertou para a luz do dia, a terra em que por duas vezes contemplou o Santo Padre, em que três vezes lhe apareceu o Anjo e seis, Nossa Senhora, sem esquecer as outras cinco, pelo menos, em que lhe apareceu só a ela” (LEITE, 1999: 289). Deixar tudo para sempre: a Jacinta não esperava uma prova tão dura. Mas com o amor inflamado que tinha por Nossa Senhora, nunca lhe recusava nada e dizia sempre que sim.»

«A noite de 2 para 3 de fevereiro de 1920 é a primeira que a Jacinta passa no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. “Mas que diferença entre o seu pequeno quarto no orfanato e esta grande sala do hospital reservado às crianças, onde ela ocupava a cama 38! Jacinta não era mais do que um número entre outros. Não tinha ninguém com quem falar livremente das ‘suas coisas’. E, sobretudo, o ‘Jesus escondido’ já não estava presente! No entanto, o que a fazia talvez sofrer mais era ver as pessoas, quando vinham fazer a visita aos seus doentes, atravessar a sala num trajo pouco modesto: – Para que serve tudo aquilo? – dizia ela, referindo-se a certas roupas demasiado vulgares ou certos decotes excessivos. – Se soubessem o que é a eternidade!... A madre Godinho vinha fazer-lhe uma visita todos os dias. Eram para ela momentos deliciosos, em que a pequena lhe fazia confidências. O Manuel pôde vir, uma vez, ver a sua filhinha; uma visita demasiado breve porque os seus outros filhos, também eles doentes, reclamavam a sua presença. E, sobretudo, Jacinta recebeu a visita de Nossa Senhora, que lhe apareceu no hospital e lhe disse que o pecado que leva mais gente à perdição é o pecado da carne, e que não deviam obstinar-se no pecado, tal como até ao presente” (MACHI, 2011: 271-272).»



«Ainda hoje não fizemos nenhum sacrifício pelos pecadores! Temos de fazer este. Põe o figo na cesta, faz o oferecimento e lá deixámos os figos, para converter os pecadores»



«A irmã Ângela [médica e postuladora da causa de canonização dos Pastorinhos] lembra assim a mais dura provação da Jacinta: “Christian Bobin afirma que ‘a doença é ausência de caminho, a incerteza dos itinerários’, ao ponto de nos levar a sentirmo-nos inúteis e pesados para os outros. Mas não parece ser esse o caso da Jacinta, durante a sua doença, porque é manifesto que não deixa que essa experiência represente para ela uma ausência de caminho. Sabia para onde ia, sabia o sentido que tinha dado à sua vida. É claro que o sentido com que vivia a doença e a forte relação com o Senhor não lhe diminuíam o sofrimento. Por isso, não esconde a dor da solidão, que parece ser o seu maior tormento. A solidão da Jacinta é, nos nossos dias, a experiência comum à maior parte das pessoas doentes. A solidão é um dos sofrimentos mais intensos de todos aqueles e aquelas que padecem qualquer tipo de doença. Christian Bobin diz ainda que, na doença, “não se está perante uma pergunta, está-se lá dentro. Somos nós próprios a pergunta’. Ora, Jacinta respondeu à pergunta. Encontrou a resposta dentro do Coração Imaculado de Maria e em Jesus. Por isso, mesmo doente, sabendo que ia morrer, era uma menina feliz, ainda que com lágrimas” (cf. COUTINHO, 2010: 209-216).»

«Sabendo que o seu fim estava próximo, a Jacinta confidencia à Lúcia palavras reveladoras de um amor ardente. Um verdadeiro testamento: “Já me falta pouco para ir para o Céu. Tu ficas cá para dizeres que Deus quer estabelecer no mundo a devoção do Imaculado Coração de Maria. Quando for para dizeres isso, não te escondas. Diz a toda a gente que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria; que lhas peçam a ela; que o Coração de Jesus quer que, a seu lado, se venere o Coração Imaculado de Maria; que peçam a paz ao Imaculado Coração de Maria, que Deus lha entregou a ela. Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!” (LÚCIA, 2007: III, 130). Eis aqui um comentário, breve, mas do mais sublime que pode haver: “Jacinta compreendeu perfeitamente os desígnios de Deus: manifestar aos homens a mediação universal de Maria, através do seu Imaculado Coração. Ela viveu para ambos os Corações Sagrados – o de Jesus e o de Maria. E ambos se deixaram enternecer por tantas provas de amor total que ela lhes dedicava. Por isso, derramaram sobre aquela alma inocente torrentes de graça e de amor. E até os mais assinalados favores de ordem mística” (LEITE, 1999: 326-327).»



«Graças à oração, ao sacrifício e à firme determinação, ela conseguiu mudar de vida, converter-se. E foi, primeiro, pelo seu testemunho de vida, depois, pelo seu diálogo com o Senhor e, por fim, a sua imolação nele, que ela encontrou e ensinou aos outros o caminho da evangelização, fazendo seu o seguinte adágio: "Só se ensina aquilo que se é"»



«Dom Alberto Cosme do Amaral [bispo de Leiria-Fátima de 1972 a 1993] declara assim a sua admiração pela Jacinta: “São João diz-nos: ‘De tal maneira Deus amou o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito’ (Jo 3,16). Sim, de tal maneira Deus amou os homens deste século, que lhes deu esta maravilha, este milagre vivo que é a Jacinta, tão identificada com Jesus, no seu amor a Deus e no seu amor aos homens. Nós, os homens de hoje, temos necessidade desta loucura divina, bem patente na vida da Jacinta: a loucura do amor até dar a sua vida. Amar como a Jacinta reclama, pois, de cada um de nós, que amemos assim apaixonadamente a Jesus, de modo a não cometer pecado algum. Mas o amor não é simples ausência do pecado: é algo de positivo que leva à identificação com o Senhor. E isto supõe um despojamento total de si próprio, uma entrega total e gratuita. Para quem ama, só conta o critério e gosto da pessoa amada. Amar a Jesus reclama amar os que Jesus ama; e, por isso, a Jacinta amava os pecadores, por cuja conversão fazia essas mortificações inauditas, impensáveis numa criança, sem uma graça especial do Espírito Santo. O amor da Jacinta é para nós um desafio: com ela, também nós iremos aos cumes do amor. (AMARAL, 1991: 100-102).»

«“Brincávamos, um dia, sobre o poço. A mãe da Jacinta tinha uma vinha pegada. Cortou alguns cachos e veio trazer-no-los, para que os comêssemos. Mas a Jacinta não esquecia nunca os seus pecadores. – Não os comemos – diz ela –, e oferecemos este sacrifício pelos pecadores. Depois, correu a levar as uvas às outras crianças que brincavam na rua. À volta, vinha radiante de alegria; tinha encontrado os nossos antigos pobrezinhos e tinha-lhas dado a eles” (LÚCIA, 2007: I, 57). “Outra vez, minha tia foi chamar-nos para comermos uns figos que tinha trazido para casa e que na realidade abriam o apetite a qualquer um. A Jacinta sentou-se connosco, satisfeita, ao lado da cesta e pega no primeiro para começar a comer; mas, de repente, lembra-se e diz: – É verdade! Ainda hoje não fizemos nenhum sacrifício pelos pecadores! Temos de fazer este. Põe o figo na cesta, faz o oferecimento e lá deixámos os figos, para converter os pecadores. A Jacinta repetia com frequência estes sacrifícios, mas não me detenho a contar mais; senão nunca acabo” (Ibid.: I, 58).»



«O mundo sempre teve necessidade de precursores, de arautos, para preparar os caminhos do Senhor, tal como os profetas de outrora, João Batista, Paulo e tantos outros. Jacinta pertence a estes missionários intrépidos



«“A Jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão dos pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma. Havia umas crianças, que andavam pelas portas a pedir. Encontrámo-las, um dia, quando íamos com o nosso rebanho. A Jacinta, ao vê-los, disse-nos: – Damos a nossa merenda àqueles pobrezinhos, pela conversão dos pecadores! E correu a levar-lha. Pela tarde, disse-me que tinha fome. Havia ali algumas azinheiras e carvalhos com a bolota ainda bastante verde. A Jacinta teve a ideia de as apanhar para fazermos o sacrifício de comer o fruto amargo. Ela tomou este por um dos seus sacrifícios habituais. Colhia as bolotas dos carvalhos ou a azeitona das oliveiras. Disse-lhe um dia: – Jacinta, não comas isso, que amarga muito. – Pois é por amargar que o como, para converter os pecadores. Não foram só estes os nossos jejuns. Combinámos, sempre que encontrássemos os tais pobrezinhos, dar-lhes a nossa merenda; e as pobres crianças, contentes com a nossa esmola, procuravam encontrar-nos e esperavam-nos pelo caminho. Logo que os víamos, a Jacinta corria a levar-lhes todo o nosso sustento desse dia, com tanta satisfação, como se não lhe fizesse falta” (LÚCIA, 2007: I, 46-47).»

«Entre os traços específicos da Jacinta, há um que a irmã Ângela, a postuladora da causa de canonização dos Pastorinhos, sublinha muito oportunamente: “Na Jacinta, encontramos uma característica muitas vezes ausente na sociedade atual: a sua tendência para interiorizar as experiências que vivia, para meditar no significado dos acontecimentos e encontrar razões para o seu agir. Nesta criança é marcante uma grande interioridade e profundidade, que podem ser percebidas em reflexões como esta: ‘Gosto muito de pensar’ (LÚCIA, 2007: I, 61). Neste aspeto, a Jacinta faz-nos recordar a atitude de Maria, que ‘conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração’ (Lc 2,19). Trata-se não só de captar em profundidade os acontecimentos, descobrindo-lhes o sentido profundo e procurando ver neles a possibilidade de esperança, mas também de deixar que os acontecimentos a toquem em profundidade, aceitando transformar-se por eles, envolvendo o seu coração. Esta é uma atitude que contrasta com a cultura atual, marcada pela busca de uma felicidade fácil e imediata. A Jacinta vê para além da superfície e do momento, vê em profundidade e ao longe, sobre as grandes questões da vida. Também nisto, como em tanto mais, ela é modelo para todos nós” (in Bem-Aventurados, abril-junho de 2010: 4).»



«Resumindo numa palavra que tão bem retrata a sua alma: “O Imaculado Coração de Maria! Era a paixão da pequena apóstola!»



«“Uma das grandes características da Jacinta é o seu sentido agudo da verdade, a sua fé nessa verdade, assim como a sua vontade de a anunciar com coragem, franqueza e determinação. Em suma, ela é um modelo intrépido de evangelização. Não era preciso fazer-se de achado com ela sobre este assunto nem cansar-se a enganá-la. Porque, graças ao dom da clarividência que tinha, ela discernia sem erro entre o bem a fazer e o mal a evitar. Ela tinha o sentido da hierarquia dos valores. Todavia, antes de 1917, ela tinha os seus defeitos, os seus caprichos. Mas, graças à oração, ao sacrifício e à firme determinação, ela conseguiu mudar de vida, converter-se. E foi, primeiro, pelo seu testemunho de vida, depois, pelo seu diálogo com o Senhor e, por fim, a sua imolação nele, que ela encontrou e ensinou aos outros o caminho da evangelização, fazendo seu o seguinte adágio: ‘Só se ensina aquilo que se é.’ Também nisto a Jacinta é profeta para o nosso tempo, atingido por doenças como a apatia, a dúvida, o medo. Porque ela não teve medo diante das ameaças e ousou falar do pecado, do demónio, do inferno. O mundo sempre teve necessidade de precursores, de arautos, para preparar os caminhos do Senhor, tal como os profetas de outrora, João Batista, Paulo e tantos outros. Jacinta pertence a estes missionários intrépidos” (BALAYN, 1994: 307-309).»

«A Jacinta dizia à Lúcia, de tempos a tempos: “Aquela Senhora disse que o seu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus. Não gostas tanto? Eu gosto tanto do seu Coração! É tão bom!” (LÚCIA, 2007: III, 126). “Às vezes acrescentava, com aquela simplicidade que lhe era natural: ‘Gosto tanto do Coração Imaculado de Maria! É o Coração da nossa Mãezinha do Céu! Tu não gostas tanto de dizer muitas vezes: ‘Doce Coração de Maria’ ‘Imaculado Coração de Maria’!? Eu gosto tanto, tanto!” (Ibid.). “Pouco tempo antes de ir para Lisboa, num desses momentos em que ela parecia abatida pela saudade, disse-lhe: – Podes passar o tempo a pensar em Nossa Senhora, em Nosso Senhor e a dizer muitas vezes essas palavras de que gostas tanto: ’Meu Deus, eu vos amo! Imaculado Coração de Maria! Doce Coração de Maria!’ – Isso sim! – respondeu com vivacidade. – Não me cansarei nunca de dizê-las até morrer! E, depois hei de cantá-las muitas vezes no Céu!” (Ibid.: III, 129). Resumindo numa palavra que tão bem retrata a sua alma: “O Imaculado Coração de Maria! Era a paixão da pequena apóstola!” (MARCHI, 2011: 253).»


 

In Dia a dia com Francisco e Jacinta de Fátima, de Jean-François de Louvencourt (Paulinas Editora)
Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 20.02.2020 | Atualizado em 20.02.2020

 

 
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