Partindo de uma constatação sinistra sobre o estado atual do nosso planeta, este documentário propõe iniciativas concretas para mudar o mundo a partir de agora. Dividido em seis capítulos, "Amanhã" quer ser, antes de tudo, portador de esperança, mostrando o que já existe, o que funciona, quer seja ao nível individual, coletivo ou político. E fá-lo com um tom lúdico e pedagógico, encenado com uma verdadeira intenção de fazer cinema.
A abrir, os realizadores propõem um panorama sobre a realidade, apoiando-se no estudo do paleoecologista Anthony Barnovsky e da bióloga Elizabeth Hadly, autores do livro “End game – Tipping point for planet Earth?”, que há perto de 25 anos têm trabalhado juntos na procura de soluções para um futuro viável para a humanidade e para o globo.
Depois, os capítulos encadeiam-se sobre imagens dinâmicas e viagens ao encontro dos protagonistas que agem para transformar os sistemas.
Agricultura e energia são os domínios com que a população mundial se confronta todos os dias; a comida à nossa mesa, como se aquecer, como se deslocar. A economia parece-nos um pouco mais austera mas o filme avança de surpresa em surpresa num percurso muito claro. A democracia, de que se esquece muitas vezes ser uma boa ferramenta para agir, sem esperar gestos vindos de cima. Para terminar, a educação, porque sem ela nada é possível. Educar as nossas crianças a serem diferentes de nós não é fácil, mas, no entanto, é possível e já existe.
O documentário permite ao espectador compreender a importância dos gestos do dia a dia e salienta que cada pessoa pode agir, dado que são os indivíduos que transformam a sociedade, como o patrão de uma empresa onde tudo é feito para produzir no respeito por aqueles que produzem e evitando poluir.
As autarquias têm um poder enorme, como em S. Francisco, onde se recicla todo o lixo (todo), ou em Kuttambakkam, na Índia, onde as diferentes castas coabitam no mesmo imóvel. Na Suíça, foram industriais que engendraram um sistema monetário paralelo para não estar à mercê das leis do mercado internacional.
Há outros dois aspetos do documentário a assinalar. Em primeiro lugar, foi parcialmente financiado por uma campanha de recolha de fundos, com a participação de mais de 10 mil pessoas, que nada pediram em troca para que o filme pudesse ser realizado. Uma bela generosidade que mostra até que ponto as pessoas estão preocupadas com o futuro do planeta, mas também com uma nova forma de viver e de trabalhar em conjunto, de participar.
Por outro lado, o filme não esquece a dimensão artística. É pela ficção que se entra na coração destas realizações. Não a ficção que inventa o que não existe, mas a ficção que permite, através da emoção, o elã da generosidade e a preocupação em mostrar o belo onde se encontra, de incarnar iniciativas para mostrar o quanto são acessíveis a todos. Com frequência as imagens de “Amanhã” falam delas mesmas, sem serem acompanhadas de comentário: uma maneira já concreta de os realizadores fazerem imergir o espetador nesta aventura.
Estreado em França por ocasião da cimeira sobre o clima, realizada em Paris no mês de novembro, “Amanhã” é um documentário generoso e portador de esperança para todos aqueles que estão atentos à salvaguarda do ambiente, da criação e dos seres que nela vivem.
Magali Van Reeth