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Átrio dos Gentios: Cinco anos a promover diálogo entre crentes e não crentes

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Átrio dos Gentios: Cinco anos a promover diálogo entre crentes e não crentes

Considerando o extraordinário percurso realizado pelo Átrio dos Gentios na Europa e na América nos cinco anos do seu nascimento, ele emerge como um grande estaleiro a céu aberto no qual foram lançados os alicerces de um diálogo entre crentes e não crentes.

Desde a sua inauguração, em Paris, a 24 e 25 de março de 2011, o Átrio dos Gentios pôde desbravar muitos territórios, onde o debate entre "laicos" e católicos é considerado uma prioridade. Estes temas são os da liberdade, da responsabilidade social e do bem comum, da legalidade e da consciência, das belas-artes, da Criação e da transcendência. O seu terreno é o da verdade, onde se encontram e discutem ciência, filosofia e fé.

Os importantes acontecimentos organizados pelo Átrio desenvolvem-se em torno das colunas da cultura, abordando os grandes temas da existência humana e os principais desafios da sociedade, tendo sempre em conta a especificidade simbólica dos lugares onde decorrem os encontros.

Assim, em Florença falou-se de "humanismo e beleza", em Palermo da "cultura da legalidade", em Paris de "Iluminismo, religiões e razão comum", em Barcelona de "arte e transcendência", em Washington de "democracia e bem comum", em Buenos Aires de "responsabilidade social", no Méxio de "laicidade e transcendência", em Berlim de "liberdade", em Pavia de "ciência e consciência", em Bolonha do "tempo" e em Turim de "Máfia e ocupação juvenil". Também Portugal recebeu uma sessão do Átrio dos Gentios, a 16 e 17 de novembro de 2012, nas cidades de Braga e Guimarães, dedicado ao valor da vida humana.

Ao mesmo tempo, alguns Átrios mais breves envolveram algumas categorias de pessoas: embaixadores sobre o tema "diplomacia e verdade", jornalistas sobre "jornalismo e responsabilidade", médicos sobre "relação de cuidado e fronteiras da vida", empresários e economistas sobre "economia e gratuidade", estudantes sobre "música: entre escuta e visão" e "a cidade: Babel ou Jerusalém".

Tal como a Praça de S. Pedro, também o Átrio tem a sua "colunata", não com santos, mas com grandes pensadores cujas ideias e obras são centrais nos debates que se desenvolvem durante as numerosas iniciativas. Estas representam o caleidoscópio de uma cultura que, desde os tempos da antiga Grécia, nunca cessou de se interrogar sobre a relação entre a razão e a fé, "mythos" e "logos".

Assim, no encontro de Bucareste falou-se de Cioran, "o místico sem fé", e de Ionesco, "o agnóstico apaixonado pelos místicos"; em Marselha, de Camus, "o ateu que falava aos cristãos", e de Ricoeur, "o cristão de expressão filosófica"; em Bolonha de Rosseau, "o cristão sem fé", e em Buenos Aires de Borges, "o teólogo ateu".  

Também S. Francisco inspirou vários Átrios em Assis: sobre a sua "irmã nossa Mãe Terra", derivado do Cântico das Criaturas, sobre a "paz" e sobre o "diálogo inter-religioso", em referência ao seu encontro com o sultão, outro sobre "economia de comunhão", inspirado na sua pobreza, e finalmente um sobre "humanidade", evocando a sua capacidade de reconhecer o homem também no leproso.

Santo Agostinho e Pascal foram frequentemente consultados nos Átrios, tal como Erasmo e Dante, Nietzsche e Florenskij, Simone Weil e Maritain, Hannah Harendt e Etty Hillesum. A par de Cacciari, outros mestres vivos, como Marion, Kristeva e Bauman, dialogaram sob a ampla "colunata" do Átrio dos Gentios.

Foram igualmente criados dois Átrios especiais: um para os estudantes e outro para as crianças, cuja realização mais conhecida é a visita ao papa e ao Vaticano de meninas e meninos de regiões desfavorecidas, organizada anualmente, em parceria com escolas e a companhia ferroviária estatal italiana.

Além das informações sobre as atividades do Átrio dos Gentios, a página na internet apresenta conteúdos relativos ao diálogo entre crentes e não crentes. Atualmente disponibiliza análises dedicadas ao décimo aniversário da alocução do papa emérito Bento XVI na universidade alemã de Ratisbona, perante representantes do mundo da ciência, que suscitou adversidade em círculos ligados ao islão.

 

Génese e identidade

O Átrio dos Gentios é uma estrutura do Conselho Pontifício da Cultura constituída para favorecer o encontro e o diálogo entre crentes e não crentes.

A denominação tem um valor simbólico, referindo-se ao espaço que no antigo templo de Jerusalém era reservado aos não judeus (os gentios). Enquanto escutavam os cantos e seguiam a liturgia do culto, podiam interrogar os mestres da Lei sobre o mistério e a transcendência, a religião e o Deus a eles "desconhecido".

À distância de mais de dois mil anos o papa Bento XVI quis repropor a atualidade e a função daquele "espaço", para que pessoas com diferentes culturas e experiências possam encontrar o sentido de uma autêntica fraternidade e as respostas às grandes perguntas do nosso tempo. É significativo que a ideia tenha sido proposta num discurso à Cúria Romana (21 de dezembro de 2009) após a sua viagem à República Checa, onde, apesar de a maior parte da população se declarar agnóstica, encontrou um vivo interesse em relação aos seus discursos.

«Penso que a Igreja deveria também hoje abrir uma espécie de "átrio dos gentios", onde os homens pudessem de qualquer modo agarrar-se a Deus, sem o conhecer e antes de terem encontrado o acesso ao seu mistério, a cujo serviço está a vida interna da Igreja. Ao diálogo com as religiões deve acrescentar-se hoje sobretudo o diálogo com aquelas pessoas para quem a religião é uma realidade estranha, para quem Deus é desconhecido, e contudo a sua vontade não é permanecer simplesmente sem Deus, mas aproximar-se d'Ele pelo menos como Desconhecido», afirmou então Bento XVI.

Desta intuição tomou corpo a ideia de traduzir a mensagem do pontífice numa iniciativa permanente e capaz de promover o Átrio da cultura contemporânea. O ato de nascimento do Átrio dos Gentios remonta a 2011, quando em Paria foi organizado o primeiro grande evento na sede da UNESCO, na Sorbone e da Academia Francesa.

Novo estímulo foi acrescentado em março de 2013, com o pensamento do papa Francisco, que também à luz das suas origens e da sua cultura sublinhou o valor do diálogo, inclusive «com quantos não se reconhecendo parte de alguma tradição religiosa, procuram sinceramente a verdade, a bondade e a beleza que para nós encontram a máxima expressão e a sua fonte em Deus».

Ao longo deste percurso, o Átrio dos Gentios o desejo profundo da procura «que permite revelar as razões profundas da esperança do crente e da expetativa do agnóstico», como escreveu o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura.

Hoje o Átrio dos Gentios tornou-se uma realidade, uma nova "fronteira" onde adultos, estudantes, crianças e personalidades comprometidas nos âmbitos da cultura e da fé creem que do diálogo possa nascer uma comunidade mais acolhedora e fraterna.

 

Texto: Átrio dos Gentios / Com SNPC
Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 19.09.2016 | Atualizado em 29.04.2023

 

 

 
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No encontro de Bucareste falou-se de Cioran, "o místico sem fé", e de Ionesco, "o agnóstico apaixonado pelos místicos"; em Marselha, de Camus, "o ateu que falava aos cristãos", e de Ricoeur, "o cristão de expressão filosófica"; em Bolonha de Rosseau, "o cristão sem fé", e em Buenos Aires de Borges, "o teólogo ateu"
Santo Agostinho e Pascal foram frequentemente consultados nos Átrios, tal como Erasmo e Dante, Nietzsche e Florenskij, Simone Weil e Maritain, Hannah Harendt e Etty Hillesum. A par de Cacciari, outros mestres vivos, como Marion, Kristeva e Bauman, dialogaram sob a ampla "colunata" do Átrio dos Gentios
É significativo que a ideia tenha sido proposta num discurso à Cúria Romana (21 de dezembro de 2009) após a sua viagem à República Checa, onde, apesar de a maior parte da população se declarar agnóstica, encontrou um vivo interesse em relação aos seus discursos
Ao diálogo com as religiões deve acrescentar-se hoje sobretudo o diálogo com aquelas pessoas para quem a religião é uma realidade estranha, para quem Deus é desconhecido, e contudo a sua vontade não é permanecer simplesmente sem Deus, mas aproximar-se d'Ele pelo menos como Desconhecido
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