Hoje a Igreja faz memória de um discípulo e apóstolo de Jesus: Bartolomeu, um dos Doze que a tradição identificou com a figura de Natanael, que encontramos na página do Evangelho deste dia (João 1, 45-51).
Mas a nossa meditação, mais do que se deter no discípulo, deve olhar para Deus: como é que Jesus se relaciona com este homem a quem é anunciado que Ele é o Messias? Natanael não acredita e é sincero: «De Nazaré poderá alguma vez vir alguma coisa de bom?». Natanael é espontâneo, franco, tanto que o próprio Jesus lho reconhece: «Eis verdadeiramente um filho de Israel em quem não há falsidade!».
A Jesus pode dizer-se tudo, com franqueza. A Ele pode abrir-se o nosso coração, mesmo com a nossa incredulidade, porque Deus está próximo, faz-se encontrar por quem o procura de coração sincero, como diz o Salmo 145. É a sinceridade, e não a hipocrisia, o não ter um coração dúplice, que abre a porta ao conhecimento de Jesus, desde que se esteja disposto a escutar e a acolher o que Ele nos responde, mesmo se se o contesta, mesmo se a sua Palavra nos pode colocar em crise.
E então Natanael faz a experiência de ser conhecido por Jesus, que lhe revela tê-lo visto debaixo da figueira, isto é, segundo a tradição rabínica, enquanto lia a Escritura, enquanto escutava a Palavra de Deus. Natanael profere então uma confissão de fé e Jesus responde-lhe referindo-se ao sonho de Jacob (Génesis 28, 10-22): o Deus de Jacob, o Deus dos pais, o Deus da aliança faz-se próximo de nós no homem Jesus de Nazaré, em quem a promessa de Deus se realiza, em quem se cumpre a comunhão definitiva entre o Céu e a Terra.
Se formos sinceros connosco próprios, com os outros e com Deus, como Natanael, essa atitude abre-nos ao conhecimento do Deus-em-relação, do Deus amante fiel, como o próprio Deus se revelou a Jacob, do Deus que cuida de toda a humanidade e de cada homem e criatura, como também cuidou de Jacob no seu caminho. Quando, às vezes, nos parece que Deus não se revela a nós, examinemos se não há em nós uma duplicidade de coração que nos impede de o reconhecer.
Acolhamos, por isso, este alegre anúncio do cumprimento em Jesus da promessa messiânica, e abramos-lhe, com sinceridade, sem medo e na disponibilidade à conversão, o nosso coração e a nossa vida.
Ir. Cecilia