Bento XVI abriu «novas perspetivas à relação do discurso católico com a modernidade», considera Francisco Assis
Francisco Assis, antigo líder parlamentar do Partido Socialista, considera que Bento XVI «apostou na importância do diálogo entre a razão e a fé, abrindo assim novas perspetivas à relação do discurso católico com a modernidade».
«As nossas sociedades são felizmente suficientemente laicas e seculares para poderem acolher sem qualquer risco o contributo não despiciendo do mundo católico», sublinha em artigo publicado esta quinta-feira no jornal "Público".
«Teólogo de excecional envergadura, intelectual brilhante capaz de estabelecer um diálogo superior e fecundo com um dos maiores filósofos contemporâneos, Jurgen Habermas, figura absolutamente marcante no longo pontificado de João Paulo II, nada neste clérigo alemão apela à ideia de banalidade», escreve Francisco Assis, licenciado em Filosofia.
O ex-deputado europeu mostra-se convicto que Bento XVI, «homem profundamente culto», está consciente dos «desvarios a que um excesso de otimismo racionalista conduziu a humanidade no decurso do século XX».
«Vivemos numa época em que sem pôr em causa a importância crucial da ciência importa questionar o predomínio de uma razão técnica potencialmente contrária a alguns princípios da dignidade humana», salienta.
Para Francisco Assis o «grande mérito» de Bento XVI «foi não ceder à tentação de opor a essa desmesura da razão o enaltecimento de um irracionalismo acrítico e perigoso».
«Numa altura em que seria mais fácil ceder à tentação do apelo da comunicação massificante ou da apologia de uma fé puramente sensitiva, Ratzinger optou pelo caminho mais exigente e inquestionavelmente menos popular. Só por isso merece o nosso profundo respeito», assinala.
Francisco Assis realça que Bento XVI, «até pela forma como se dispôs a exibir com uma despudorada humanidade as suas próprias fraquezas», ficará na memória «como a expressão de uma inteligência solitária que encontrou o caminho da grandeza na exploração das contradições do seu próprio tempo».
Francisco Assis
Bento XVI anunciou na segunda-feira a resignação, que tem efeito a partir de 28 de fevereiro.
Segundo agências internacionais o porta-voz do Vaticano, confirmou esta quinta-feira que durante a viagem ao México e a Cuba, realizada em março de 2012, Bento XVI bateu com a cabeça e sangrou abundantemente depois de se ter levantado durante a noite.
A decisão de resignar foi tomada depois dessa viagem mas o padre Federico Lombardi disse aos jornalistas que o acidente não a influenciou.
As agências revelaram também que Bento XVI foi operado há três meses, em segredo, para mudar a bateria do "pacemaker", e que a casa onde, presumivelmente, vai habitar depois da resignação, anexa a um mosteiro situado junto ao limite norte da Cidade do Vaticano, entrou em obras de remodelação no outono.
O conclave para a eleição do sucessor deverá começar entre 15 e 20 de março.
A casa onde presumivelmente Bento XVI vai habitar após a resignação, no mosteiro Mater Ecclesiae, está em obras. Vaticano, 12.2.2013. Foto: AP Photo/Alessandra Tarantino
Rui Jorge Martins
© SNPC |
14.02.13
Vaticano, 14.2.2013
REUTERS/Max Rossi
Obras de Bento XVI são «património inestimável para crentes e não crentes», diz Zita Seabra
Bento XVI desbravou «novas dimensões de diálogo estético e ético» e acentuou importância da arte na relação com Deus
Bento XVI presidiu à missa de Quarta-feira de Cinzas pela última vez enquanto papa | IMAGENS |
Próximo papa deve continuar «trabalho notável» de Bento XVI no diálogo da Igreja com a cultura, diz bispo de Bragança
«Qual a presença da Igreja no cinema? E na televisão? E nas fontes da cultura juvenil?», pergunta bispo auxiliar de Braga
Bento XVI e a Quarta-feira de Cinzas, princípio da Quaresma
Bento XVI: figura «ímpar» do pensamento que destruiu todos os preconceitos
Bento XVI: figura «ímpar» do pensamento que destruiu todos os preconceitos
Bento XVI: cronologia do pontificado
Como se elege o papa | IMAGENS |
Discurso de Bento XVI ao mundo da cultura, em Lisboa | IMAGENS |
Ação de Bento XVI fica marcada pela «renovação» da doutrina da Igreja «no diálogo com as diferenças», considera presidente do Centro Nacional de Cultura
Resignação de Bento XVI revela «grande amor à Igreja», diz diretor da Pastoral da Cultura
«O mistério está todo na infância»: o poema de José Tolentino Mendonça para Bento XVI
Bento XVI anuncia resignação
Bento XVI: 85 anos, 85 imagens