O bibliotecário e arquivista do Vaticano, o arcebispo D. José Tolentino Mendonça, sublinhou hoje, em Lisboa, que «as bibliotecas são santuários no meio da cidade, no meio do mundo.
As palavras do prelado foram proferidas na sessão de encerramento do curso “Filosofia, Literatura e Espiritualidade”, que está a decorrer na Capela do Rato, comunidade católica organizadora da iniciativa.
«A palavra tem um lugar fundamental», «explica o sentido da vida, da morte, do amor», «vão além da pele», e delas estão repletas as salas da Biblioteca Apostólica e do Arquivo Secreto, de que D. Tolentino Mendonça é responsável desde setembro.
Para o poeta e biblista, «as bibliotecas são grandes repositórios das palavras humanas»: «Precisamos do encontro com essas palavras para realizar a aventura das nossas existências».
Nas palavras guardadas nas bibliotecas, os leitores podem encontrar «consolação», «rasgo», «encontro inesperado», «segredo que está guardado», «fogo recebido de gerações», declarou.
A palavra, prosseguiu, tem «poder curativo, transformador»: «Acreditamos que há palavras, discursos, que curam as enfermidades», não só em obras de medicina, mas também de astronomia, matemática, iluminuras, e, naturalmente, a Bíblia.
A biblioteca do Vaticano tem 80 mil livros manuscritos, desde o século II, que constituem, além de outro património, «tesouros incalculáveis», mas «um tesouro não menor tem sido a relação com as pessoas», referiu.
D. Tolentino Mendonça recordou também a visita do papa Francisco, a 4 de dezembro, destacando como ficou impressionado pelos corredores a perder de vista, que ao todo totalizam 50 km.
Um dos principais doadores de livros para a biblioteca da Santa Sé são os papas, que cedem algumas das obras recebidas de presente por individualidades que se deslocam ao Vaticano para o visitar, ou durante as peregrinações apostólicas ao estrangeiro.
Para a "diplomacia histórica, cultural e espiritual" do papa, a biblioteca do Vaticano também contribui, ao preparar ofertas, cópias das obras que estão à sua guarda, para que os pontífices as possam oferecer, como aconteceu, por exemplo, na recente viagem de Freancisco a Marrocos.
A constituição de um fundo de arte contemporânea portuguesa e o projeto de elaboração de uma «árvore da vida», pelo brasileiro Vic Muniz, são algumas das iniciativas em agenda para este ano.
A concluir, D. Tolentino evocou a sua avó, analfabeta, que lhe transmitiu as primeiras histórias de infância, destacando que a biblioteca do Vaticano está também aberta a quem não sabe ler nem escrever.