Riggan Thomson (Michael Keaton) está prestes a estrear-se na Broadway. Estrela do cinema empalidecida – até aos inícios dos anos 90 tinha sido o icónico super-herói por trás do fato de “Birdman” –, hoje, aos 60 anos, tenta reconstruir a imagem a partir de um texto de Raymond Carver, “De que falamos quando falamos de amor”.
Todavia, a tarefa é árdua: às contínuas discussões com Jake (Zach Galifianakis), amigo, produtor e advogado, junta-se pouco depois a difícil gestão do recém-chegado Mike (Edward Norton), ator talentoso mas homem impossível, para não falar do relacionamento conflituoso com a filha Sam (Emma Stone) e da difícil relação com a colega de palco, Laura (Andrea Riseborougn).
Naturalmente, poucos são os que lhe dão crédito, a começar pela temível crítica de teatro do jornal “New York Times”, Tabitha Dickinson (Lindsay Duncan), decidida a desfazê-lo ainda antes de ver a peça. Além disso, há alguém de quem Riggan não consegue libertar-se: “Birdman”, que não para de o incitar a deixar tudo e voltar a voar. A tornar a colocar a máscara do efémero para se sentir, mais uma vez, vivo.
O filme de Alejandro González Iñarritu conta com a colaboração de Emmanuel Lubezki, um dos melhores diretores de fotografia da atualidade. Do camarim ao palco, das plataformas do teatro à plateia, do teto do palácio ao céu de Nova Iorque: a primeira “paragem” chega uma hora e cinquenta minutos após o início do filme, que ao procurar entretecer cinema-vida-teatro produz total empatia com os personagens.
É um fluxo ininterrupto, um plano-sequência audaz, um vórtice que sorve visão e emoção, sugerindo uma reflexão sobre velhas dicotomias, como arte e entretenimento, popularidade e prestígio, realidade e encenação, e que não poupa ataques à aridez de posições radicais (a figura do crítico) ou à vacuidade das redes sociais, além de se interrogar, à sua maneira, sobre a desesperada procura de amor que existe em cada ser humano.
Iñarritu descobre uma nova maneira de fazer cinema, realiza talvez a sua obra mais livre e sincera e desvincula-se das chantagens emocionais (“Biutiful”), atingindo com “Birdman”, estreado na abertura do 71.º Festival de Cinema de Veneza, o ponto mais alto da sua filmografia. Graças também à prestação do redivivo Michael Keaton e de todos os outros atores, de Edward Norton a Galifianakis, passando por Naomi Watts.
Valerio Sammarco