O bispo de Bragança-Miranda, D. José Manuel Cordeiro, vai benzer e inaugurar na próxima quarta-feira, 7 de outubro, os mosaicos do batistério da catedral, da autoria de Ilda David, obra que contou com o patrocínio dos municípios de Bragança e Mirandela.
O gesto será realizado durante a missa, presidida pelo prelado, presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade, em que será assinalado o 14.º aniversário da dedicação da catedral, em Bragança.
No dia em que D. José Manuel Cordeiro celebra o quarto aniversário da sua ordenação episcopal, apresentamos o texto que redigiu, a pedido do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, sobre a relação que se estabelece entre os novos mosaicos e a arte, a espiritualidade cristã, a liturgia e os elementos da natureza que distinguem o território da diocese transmontana.
Os Mosaicos da Catedral
Epifania da Graça
D. José Manuel Cordeiro
Bispo de Bragança-Miranda
Na sequência do diálogo com os artistas Ilda David' e Manuel Rosa, a Ilda David' realizou, na beleza e na nobre simplicidade da arte e da liturgia, alguns mosaicos para o lugar do Batismo na Catedral de Bragança. O batistério é o lugar sacramental do encontro com Cristo e com a vida cristã.
Agora o batistério da Catedral reveste-se de um dinamismo mais simbólico, onde os sinais da água, da luz, da arquitetura, da arte, da cor, da hospitalidade, do perdão, da memória e da caridade indicam mais expressivamente a Iniciação cristã na casa da Igreja diocesana e a entrada no caminho da santidade.
Os mosaicos deste espaço litúrgico formam um tríptico de pedaços de pedras coloridas e justapostas, constituindo a simbólica da unidade e da harmonia da fé eclesial. O quadro narrativo do Batismo de Jesus é ladeado pelos desenhos da narrativa dos discípulos de Emaús e pela cena do Anjo da vida. A cada um dos painéis corresponde uma árvore representativa do vasto território da Diocese de Bragança-Miranda: a amendoeira, o castanheiro e a oliveira.
A centralidade do mosaico do Batismo de Jesus evidencia o Messias em relação a João, o Batista. A narração do Batismo de Jesus é muito concisa. Jesus é batizado como todo o povo. A diferença consiste no texto «enquanto orava, abriu-se o céu» (Lc 3,21). O Espírito Santo desceu sobre Ele, não alterando intimamente nada em Jesus, tornando-se, apenas, testemunha do que Ele é: a água, a luz e o pão da vida. O castanheiro ou árvore do pão, quando é cortada, volta a nascer num dinamismo de ressurreição, como consideravam os Padres da Igreja, dando-lhe um significado de renovação.
O Anjo da vida com a árvore da amendoeira reflete toda a Bíblia, a Palavra da Graça que do Génesis ao Apocalipse manifesta a glória de Deus (cf. Gn 22,11; Ap 21, 10) na construção da cidade terrestre em peregrinação para a cidade celeste. A amendoeira é a primeira das árvores a florir na Primavera. É uma espécie de sentinela na paisagem a assinalar o fim do Inverno e a proximidade de uma outra estação. Não é por acaso que a poética bíblica a toma para símbolo da esperança e da renovação inteiro. A amendoeira descreve desde a flor ao grão, a epifania de um tempo humano novo: o tempo de Deus.
Jesus Cristo é o companheiro amigo da humanidade, como a narrativa de Emaús o testemunha (Lc 24, 13-35). Dois dos seus discípulos caminham amargurados e desiludidos. Abandonam Jerusalém e com ela, deixam os sonhos e as esperanças. Com o coração ferido são incapazes de acolher a alegria transbordante da Páscoa. Enquanto caminham um ilustre desconhecido peregrino junta-se a eles. Quando tudo parece fracassar, Jesus faz-se companheiro de viagem, acolhendo as confidências, na partilha da vida, da palavra das Escrituras e na fração do pão. Ser apenas peregrino (per – agrum), caminhar pelo campo da vida, ou ser peregrino com Cristo, acolher Cristo e ser acolhedor como Ele, faz toda a diferença. A oliveira é sinal de confiança total, como escreve o salmista: «eu, porém, como oliveira viçosa na casa de Deus, confio para sempre na sua misericórdia» (Sl 15,10).
Na construção dos mosaicos da Catedral experimentámos que: «toda a forma autêntica de arte é, a seu modo, um caminho de acesso à realidade mais profunda do homem e do mundo. E, como tal, constitui um meio muito válido de aproximação ao horizonte da fé, onde a existência humana encontra a sua plena interpretação. Por isso é que a plenitude evangélica da verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da realidade» (J. Paulo II, carta aos artistas, 6).
Há uma expressão da Liturgia Oriental que é eloquente para significar a fé e a arte nos mosaicos da Catedral de Bragança: «aqui o Céu desceu sobre a Terra».
+ José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda
© Diocese de Bragança-Miranda
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Publicado em 02.09.2015