

O desenho é a génese do trabalho de Bob Law (1934-2004), possuindo para ele um estatuto mítico, além de ser o modo primeiro de qualquer comunicação.
«What does exist is an imprint and that is the beginning of art, in there being nothing which is something», Bob Law, 1967.
Do criador nascido no Reino Unido, os primeiros desenhos que se conhecem, do final dos anos cinquenta, são acerca da paisagem que rodeava a sua casa, em St Ives, Cornwall. Através deles, Law desejava encontrar-se a si próprio. Gravava aquilo que via através de uma linguagem gráfica.
Law privilegiava uma relação física (e não visual ou ótica) com o mundo, desejava uma fusão total com a paisagem. Pretendia assim criar uma transcendência com os seus desenhos – e mostrar como o sujeito pode transformar-se e projetar-se através da sua obra. Deste modo, pode manifestar-se através de uma oscilação entre a presença e a ausência, entre o visível e o invisível.
No ensaio "Bob Law: Drawing Degree Zero", Anna Lovatt afirma que o artista mudou a sua prática de desenho para um modo de fazer muito mais primário e revelador, um processo de autodescoberta. Estes desenhos eram um resultado do que o artista via enquanto deitado no campo contíguo à sua casa.
Bob Law trabalhava intensamente – produzia cerca de 50 a 60 desenhos por dia, destruía o excesso e ficava com muito poucos. A rapidez e a intensidade deste processo é bastante evidente – o resultado manifesta-se através de linhas bem marcadas de grafite, desenhadas à volta do perímetro do papel e que marcam o limite do campo visual.
A colocação dos elementos no desenho sugere um complexo e intelectual processo de codificação. Apresenta-se sempre uma vista circular da natureza. São estruturas que radiam do centro para a periferia (quase mandalas) e estão sempre datadas.
Estes desenhos contêm ainda ideogramas para os vários elementos da paisagem – as árvores, a relva, o sol, a linha do horizonte, as estrelas e as nuvens aparecem como espirais, asteriscos, triângulos, linhas em ziguezague. A moldura e a marcação do limite são de enorme importância em trabalhos posteriores.
«The early Field drawings were about the position of myself on the face of the earth and the environmental conditions around me: the position of the sun, the moon and the stars, the direction of the wind, the way in which the trees grew, no awareness of nature’s elements, no awareness of nature itself and my position in nature on earth in a particular position in time» (Bob Law, 1974).
Law acentua a importância do céu em relação à Terra (esta regista somente uma visão abstrata e periférica). Em vez de representar uma paisagem de um modo cru e imediato, Bob Law tenta sobretudo traduzir uma experiência subjetiva de um tempo e de um espaço específico através de uma linguagem simbólica.
Lovatt declara a importância e a urgência de Law em se rever e se encontrar nessa paisagem – talvez influenciado pela leitura do livro "The story of my heart", de Richard Jefferies (1848-1887), que descreve a procura pelo transcendente na paisagem através de uma série de experiências espirituais.
No livro de Jefferies, o sol simboliza a alma e os pensamentos do escritor são direcionados para o exterior e para cima numa urgência por uma revelação qualquer, muito semelhante à libertação de energia que se solta a partir do centro de alguns dos desenhos de Bob Law. E nos escritos de Jeffferies, tal como nos desenhos de Law, dá-se a importância do espaço particular e concreto que, por sua vez, facilita um profundo entendimento da vastidão do tempo e intensifica o sentido do momento presente.
«Metaphysical Field Drawings could be a kind of environmental chart, a thesis of ideas, energies, transmutations» (Bob Law, 1962).
Segundo Anna Lovatt, estes desenhos ambicionam transcrever o universal dentro do particular, mapeando a posição do artista na terra e numa determinada posição no tempo. Law desejava descobrir-se na paisagem e fazer a gravação desse momento particular e único através do desenho. E assim, através de um trabalho intenso e rápido, Bob Law chega perto da verdade, não a partir de uma ilusão mas através de algo palpável e físico.
Ana Ruepp