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Bosch e Caravaggio, «um cristianismo insólito, convulsivo»

Imagem Tríptico do Jardim das Delícias (det.) | Bosch | 1490-1500 | Museu Nacional do Prado, Madrid, Espanha

Bosch e Caravaggio, «um cristianismo insólito, convulsivo»

As obras de Hieronymus Bosch (c. 1450-1516), de quem se assinala, em 2016, o quinto centenário da morte, e de Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio (1571-1610), estão no centro de duas exposições que decorrem em Madrid, constituindo uma oportunidade única para o público português ter acesso, ao vivo, a artistas «tão diferentes, mas em ambos os casos com um cristianismo insólito, convulsivo».

A apreciação é de Pedro Mexia, que dedica a sua crónica na mais recente edição da revista do semanário "Expresso", intitulada "O visível invisível", às duas mostras patentes, respetivamente, nos museus do Prado e Thyssen-Bornemisza.

«Quando nos abeiramos de um destes quadros [de Bosch], ficamos marcados com tanta informação, com tanto estímulo, demora horas percebermos tudo o que se passa, dezenas de narrativas sem aparente ligação, uma miríade quase indestrinçável de beatitudes e percersões, gozos e heresias, primitivismos e futurismos, grandezas e bizarrias», anota o escritor.

O pintor neerlandês é muitas vezes apreendido «como se fosse pagão ou lúdico; e no entanto nada está mais longe da mundividência daquele cidadão respeitável, pacato e devoto, que alguém definiu como o mais espanhol dos holandeses, quer dizer, o mais intransigente no seu cristianismo».

A exposição de Bosch, sublinha o Museu do Prado, «é uma ocasião irrepetível para desfrutar do extraordinário grupo das oito pinturas da sua mão que se conservam em Espanha, juntamente com excelentes obras procedentes de coleções e museus de todo o mundo», como o tríptico "As tentações de Santo Antão", pertencente ao Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

"Bosch e s-Hertogenbosch" (cidade onde nasceu e viveu), "Infância e vida pública de Cristo", "Os santos", "Do Paraíso ao Inferno", "O jardim das delícias", "O mundo e o homem: pecados capitaios e obras profanas" e "A Paixão de Cristo" são as secções em que se divide a mostra, patente até 11 de setembro.

Caravaggio, por seu lado, «pode parecer o oposto de Bosch: boémio e violento, um bissexual amigo de bordéis e de más companhias, um rufia que não se fazia rogado quanto a rixas à mão armada, uma espécie de Pasolini do "cinquecento". Aliás, desde os seus contemporâneos até a grandes críticos modernos, como Ruskin ou Berenson, era habitual a condenação da extrema "vulgaridade" do lombardo», acentua Pedro Mexia.

Nos quadros do pintor italiano há «soldados desmobilizados, prostitutas, sacrilegamente transfigurados em santos, Virgens e Cristos», numa «tonalidade sacro-profana onde o profano prevalecia, sem que uma sofisticação "estética" salvasse a empresa», acrescenta o cronista, que mais adiante menciona o livro "Deus e Caravaggio", do português Carlos Vidal.

A mostra "Caravaggio e os pintores do Norte" exibe 53 quadros, 12 dos quais do artista, oriundos de coleções privadas, museus e instituições como o Metropolitan Museum de Nova Iorque, a Galeria dos Uffizi de Florença, o Museu do Hermitage de São Petersburgo e o Rijksmuseum de Amesterdão, informa o museu Thyssen-Bornemisza.

O itinerário expositivo, que pode ser visitado até 18 de setembro, compreende o percurso de Caravaggio «desde o período romano até às emotivas pinturas escuras dos seus últimos anos, juntamente com uma seleção de obras dos seus mais destacados seguidores» na Holanda, Flandres e França.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 22.08.2016

 

 

 
Imagem Tríptico do Jardim das Delícias (det.) | Bosch | 1490-1500 | Museu Nacional do Prado, Madrid, Espanha
Nos quadros de Caravaggio há «soldados desmobilizados, prostitutas, sacrilegamente transfigurados em santos, Virgens e Cristos», numa «tonalidade sacro-profana onde o profano prevalecia, sem que uma sofisticação "estética" salvasse a empresa», refere Pedro Mexia, que menciona o livro "Deus e Caravaggio", do português Carlos Vidal
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