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Caminhos de futuro numa idade sénior

A vivência do tempo é diferente nas diversas etapas da vida. Na infância, o presente é o campo amplo e claro de inúmeras descobertas; aos olhos do adolescente, o futuro abre-se como um horizonte a perder de vista de possibilidades de experiência. Numa idade sénior, o passado vai tendo cada vez mais dimensão do que o futuro (1).

O que não obsta a que a vida se viva sempre no presente, como uma dádiva de Deus e como uma oportunidade de “viver bem” (ou seja, de “viver feliz”). Julgo que a “arte de viver” não é suscetível de ensino/aprendizagem como uma arte qualquer - é pessoal e intransmissível, cada um a conquista por si mesmo.

Os caminhos de futuro são vitais para todos nós, como o desafio-de-cada-dia a que se impõe responder. Cito um curto texto de Simone Weil que diz, de forma luminosa (e com “metáforas biológicas”), o que eu penso: «O futuro não nos traz nada, não nos dá nada; somos nós que para o construir deve-mos dar-lhe tudo, dar-lhe a nossa própria vida. Mas para dar é preciso possuir e nós não possuímos outra vida, outra seiva, senão os tesouros herdados do passado e digeridos, assimi-lados, recriados por nós» (2). Por outras palavras, o nosso futuro constrói-se em todos os tempos, que são sempre “recomeços” a partir do que vivemos antes, e importa ter atitudes criativas quanto às situações, mais propícias ou mais difíceis, com que nos enfrentamos. As eventuais limitações de todo o tipo, bem como os momentos de sofrimento ou de desânimo, também fazem parte do percurso, não justificando a passividade ou a desistência nem pondo em causa a esperança.

Ter tempo para ter tempo é uma riqueza a ser gerida: a abertura a novas experiências e a novos projetos, a atenção aos outros, disponibilizar os saberes ao serviço dos demais, rezar para viver vivo a totalidade da vida, inscrevem-se como passos a intentar passo-a-passo nos caminhos de futuro.

 

(1) Estreitam-se as perspetivas do tempo disponível, relativamente ao lastro do passado. Cf. Max Scheler, Mort et Survie (Tod und Fortleben), Paris, Aubier, Éditions Montaigne, 1952, trad. par M. Dupuy, pp.24-25.

(2) Simone Weil, L'Enracinement (1943), Oeuvres Complètes V, Écrits de New York et de Londres, vol. 2, Paris, Gallimard, 2013, p.150. Os sublinhados são meus.

 

Este artigo integra a edição n.º 21 do Observatório da Cultura.

 

Maria José Vaz Pinto
Professora jubilada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
© SNPC | 25.05.14

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