O número especial da revista "Povos e Culturas" dedicado ao tema "Os católicos e o 25 de Abril", lançado esta terça-feira em Lisboa, pode estimular atitudes mais ativas dos leigos em relação à política, considera o padre José Tolentino Mendonça.
Na intervenção que proferiu na sessão de apresentação do volume, o vice-reitor da Universidade Católica afirmou que a revista «ilustra bem a referencialidade da experiência católica» e «a especificidade dessa experiência na configuração das relações sociais», ao mesmo tempo que manifesta «o seu papel na transformação social e na reestruturação do poder político».
«Perceber como mulheres e homens, de matrizes diferentes, numa grande pluralidade, perceber como se consuma o empenhamento e o compromisso cristão na história», constitui «um desafio muito grande» para a Igreja, «até para vencer uma alergia persistente dos católicos em relação à política», apontou.
Embora a ação dos católicos antes e após o 25 de Abril de 1974 esteja tratada a nível historiográfico, constata-se que na «narrativa que a cultura portuguesa mais amplamente divulga há um espaço de silêncio» no que diz respeito àquele período, acrescentou Tolentino Mendonça.
«À Teologia interessa pensar como a dimensão histórica da revelação de Deus e o acolhimento que os crentes fazem dessa revelação dá os seus frutos», pelo que este número tem uma «dupla função»: «Por um lado, passa a constituir uma peça importante para a historiografia que se venha a escrever sobre o tema; mas também para o interior da Igreja, o volume representa um património de grande importância», assinalou.
Depois de frisar a necessidade de a revista ser refletida pela« juventude católica», o vice-reitor destacou que «unir a reflexão sobre o que é o catolicismo no espaço público português ao olhar com que os crentes se olham e percebem a motivação da sua fé na ligação à história, é algo que raramente se vê».
Para Tolentino Mendonça, esta edição representa «uma promessa para um tempo em que os cristãos continuam a ser grandes testemunhas do Evangelho na sociedade portuguesa».
Na breve intervenção de encerramento, o patriarca de Lisboa e magno chanceler da Universidade Católica, D. Manuel Clemente, também historiador, sublinhou que os artigos e testemunhos da revista mostram que «as redes familiares» são «fundamentais» para a «tessitura, vitalidade e transmissão» de um catolicismo que, em Portugal, «é muito vasto, muito complexo e muito plural, mas que se consegue manter assim».
Em declarações ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, Guilherme d'Oliveira Martins anunciou que o Centro Nacional de Cultura, a que preside, vai promover, no âmbito da comemoração do 70.º aniversário, a publicação da biografia de António de Alçada Batista, atravessando marcos históricos como a criação da Livraria Moraes e o Concílio Vaticano II.
A sessão de lançamento da revista "Povos e Culturas" sobre os católicos e o 25 de Abril contou com a presença do núncio apostólico em Portugal, o arcebispo italiano D. Rino Passigato, bem como de personalidades ligadas à política antes e depois da revolução que permitiu a transição para a democracia.
Rui Jorge Martins